Esquerda Diário - Qual a realidade da maioria das mulheres bolivianas residentes no Brasil?
Jobana Moya: Para mim é uma realidade de invisibilidade e vulnerabilidade, digo invisível (e falo por todas as mulheres imigrantes) porque no Brasil ainda não existe números oficiais de migrações, o que dificulta politicas publicas para os imigrantes. Embora a constituição do Brasil garanta o acesso a saúde e a educação para todos e todas, na prática muitos e muitas imigrantes não tem acesso a saúde, seus filhos não tem acesso a educação (quando tem são discriminados e sofrem até violência física). As mulheres são as mais discriminadas nos serviços públicos e em geral pela sua aparência, por não falar português, pelos seus costumes.
ED - Quais são as formas e condições de trabalho que exercem as imigrantes bolivianas no Brasil?
JM: A maior parte trabalha em oficinas de costura sob condições precárias por 2 motivos: porque o dono da oficina quer ganhar mais explorando as costureiras e costureiros ou na maior parte dos casos porque as oficinas são terceirizadas e recebem muito pouco por seu trabalho, é quase uma questão de sobrevivência para as costureiras e costureiros e donos num mercado que não valoriza seu trabalho.
Muitas também são comerciantes e existem muitas profissionais que não podem exercer sua profissão aqui porque seus diplomas não são reconhecidos, então acabam aceitando qualquer trabalho que apareça, com o salário que queiram pagar.
ED - Quais as principais pautas que o movimento de mulheres imigrantes luta atualmente?
JM: Posso dizer pela nossa Equipe de Base:
Políticas Públicas para imigrantes.
Direito ao Voto
Acesso real à educação e à saúde
Parto Humanizado no SUS com obstetrizes e uma Casa de parto para mulheres imigrantes
Reconhecimento e respeito a nossa diversidade cultural
Não à discriminação
Viabilização da mulher imigrante e suas problemáticas
ED - Deixe uma mensagem para o leitores do Esquerda Diário
JM: Em um país como o Brasil, basicamente formado e forjado por migrantes ao longos dos seus mais de 500 anos, um país onde uma de suas maiores riquezas é justamente a imensa diversidade cultural, aportada ao longo destes anos por todo o longo e continuo processo migratório de diferentes povos, vive-se com leis forjadas no regime ditatorial e pouco se vê de bandeiras pró-migrantes, ou mais essencial de tudo, pouco se vê de movimentação social no sentido de alterar ditas leis, concebidas em um momento particular onde a intolerância, a discriminação, a violência e a exclusão faziam “sentido”, mas já não fazem sentido hoje em dia.
Caros leitores, no fundo no fundo, somos todos imigrantes e isto tem sido uma grande consulta e um grande legado da evolução da espécie humana.
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