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Um discurso xenófobo e militarista de Trump diante do Congresso
Jimena Vergara

A imprensa americana e internacional previa um discurso moderado para este primeiro “Estado de União” de Trump. Entretanto a fala do presidente surpreendeu os próprios analistas.

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O primeiro “Estado da união” – tradicional evento em que o presidente americano apresenta um relatório de sua administração ao Congresso - de Donald Trump e como vaticinava a imprensa mundial, mostrou um presidente moderado e conciliador. Apesar de sua personalidade e como subproduto da “instabilidade” do presidente, os fortes choques entre o executivo e o FBI, que apenas 24 horas antes de seu comparecimento ao evento, mantinham sob vigília alguns.

No nível internacional, pela primeira vez, o atual ocupante da Casa Branca justificou sua agressiva política exterior apelando para os “valores ocidentais” como a “democracia” e a “liberdade”, utilizados por administrações passadas (tanto democratas como republicanas) para justificar a “guerra contra o terrorismo” e a ingerência americana no Oriente Médio e outras latitudes do globo.

A investigação em curso conduzida pelo FBI a respeito do chamado Rusiagate, foi o grande ausente do discurso. Nas palavras de vários analistas, depois dos duros embates entre o FBI e a administração de Trump no dia anterior, a omissão do presidente a respeito de sua cumplicidade na ingerência russa nas eleições presidenciais passadas, teve o claro objetivo de desqualificar o trabalho de um setor da cúpula da inteligência americana.

Cabe recordar que apenas no dia de ontem, o executivo e a bancada republicana tentaram pressionar para fazer público um Memorándum elaborado por um operador republicano que supostamente continha informações confidenciais que perdoavam Trump no chamado Rusiagate e colocavam em questão o trabalho efetuado todos esses meses pelo FBI. A pressão foi tamanha que o subdiretor do FBI renunciou seu cargo nas primeiras horas da segunda feira.

Se as impressões iniciais dos primeiros meses de administração eram que tudo voaria pelos ares, a realidade é que o governo Trump soube navegar pelas turbulências das suas próprias contradições, mesmo que sem elimina-las, mas mantendo-as a reboque de uma catástrofe derradeira. Como dito por Paul Heideman, editor da revista Jacobin, o Estado norte americano é um aparto de domínio tão efetivamente poderoso que mesmo com um péssimo gestor a frente pode “fazer que as coisas se movam para algum lado”.

É um fato que o trumpismo foi derrotado em aspectos chaves de seu discurso de campanha: foi incapaz de revogar o Obamacare e impor suas condições até o final na renegociação do NAFTA; está profundamente questionado pelo Rusiagate; teve que limpar seu gabinete, dada a pressão interna, prescindir e se confrontar com seu ex chefe de campanha Steve Bannon que representava na Casa Branca a sua base eleitoral e teve que retroceder nos aspectos mais agressivos de sua política migratória ( o cancelamento do DACA [1], por exemplo, que hoje é claramente moeda de troca no Congresso para a construção do muro na fronteira).

Entretanto, em meio aos recorrentes escândalos e as intrigas palacianas que durante meses fizeram que os mais proeminentes analistas da imprensa americana expusessem uma verdadeira guerra civil no interior da Casa Branca, um setor da cúpula do exército conseguiu contornar pontualmente a crise graças a sua habilidade para “impor a ordem” no interior do círculo mais íntimo do presidente. Ao mesmo tempo o trumpismo avançou em aspectos de seu programa.

Assim demonstra aprovação da reforma impositiva que garante os lucros milionários a importantes setores da burguesia imperialista que não necessariamente estão conformados com a presidência atual. É o caso do setor extrativista ou aquele que reside no Vale do Silício. Por isso em meio a referências aos “fundadores da pátria” como Washington, Jefferson e Lincoln, Trump se atreveu a sentenciar que a atual conjuntura é “um novo momento americano”.

“Make America Great Again”

Desde o início de seu breve discurso Trump ressaltou que democratas e republicanos tinham que trabalhar para chegar ao objetivo de “Make America Great Again”.

Boa parte do discurso esteve dedicada a ressaltar os “êxitos” de sua administração, inflados pelas estatísticas maquiadas dos estadistas republicanos.

Na América de Trump, se haviam criado 2.4 milhões de empregos no último ano (a maior parte na realidade ingressou nos chamados “garbadge jobs” – “empregos lixo”), incrementou-se qualitativamente o salário e as principais empresas transnacionais norte-americanas estariam investindo milhões de dólares diretamente na economia americana.

Desde do princípio não faltaram menções a uma das empresas estrelas do Vale do Silício, Apple, que como compensação pela reforma impositiva investirá 3.5 bilhões de dólares nos Estados Unidos este ano. Ainda assim o império do petróleo Exxon Mobile, beneficiado pela desregulação na legislação ambiental, investirá 50 bilhões de dólares em solo americano.

O atual representante da principal potência mundial, reivindicou também todas as reformas no âmbito da administração do Estado, que segundo ele estariam liberando fundos nacionais do jugo dos tremendos gastos em burocracia que contribuíram para o déficit fiscal dos anos anteriores.

Desde início esta política para criar um “Estado barato” na realidade implicou no desfinanciamento de programas sociais nas áreas de saúde e educação.

O presidente republicano também apresentou para a plateia uma exagerada recuperação da indústria automobilística norteamericana que segundo ele “estaria abandonando o México para reinvestir nos Estados Unidos”. Ainda que o atual presidente tenha dito que isto está se sucedendo em todo o país se referiu especificamente ao caso da Chrysler que ante a pressão doe xecutivo estaria construído plantas no Alabama e Michigan.

A negociação sobre a questão migratória

Na questão migratória, Trump expôs que sua administração apresentou para o congresso uma iniciativa na qual todos tem que ceder em algo. Cujos pilares fundamentais se baseiam em: 1) a oferta da legalização de 1.8 milhões de imigrantes sem papéis, incluindo a quase um milhão de dreamers; 2) a construção do muro na fronteira com o México, que claramente se converteu na moeda de troca com o Partido Democrata no congresso para avançar na legalização dos beneficiários do programa DACA; 3) a reforma do programa de vistos para obter autorização para residir nos EUA, que Trump chamou de “loteria de vistos” e 4) Restringir a família nuclear (cônjuges e filhos) a possibilidade de solicitar a residência para parentes no estrangeiro.

De Guantánamo a Jerusalém

No âmbito internacional, depois de assegurar que a luta contra ISIS tem sido absolutamente vitoriosa, Trump apresentou que os Estados Unidos estão juntos ao povo da Coreia do Norte e do Irã na sua luta por “liberdade” contra suas respectivas “ditaduras”.

Além disso sustentou a manutenção de Guantánamo que funciona em Cuba como campo de concentração ilegal, e investiu contra os governos “comunistas de Venezuela e Cuba” que ameaçam os “valores americanos”.

Donald Trump reivindicou também a nomeação de Jerusalém como capital do estado sionista de Israel.

Nada está dito até as eleições legislativas

Apesar de haver muita inquietude republicana sobre a presidência de Donald Trump, os legisladores do partido dos “elefantes vermelhos” pareciam eufóricos diante da “moderação” e “coerência” do líder da superpotência. Torna-se obrigatório acompanhar os movimentos de um governo que por si mesmo, começou a por sob risco a estabilidade interna e da ordem mundial.

O Partido Republicano está diante do perigo de perder a maioria no Congresso e um setor amplo não parece pensar que Trump “vale a pena”. As eleições locais passadas no Alabama e Virgínia, demonstraram que Trump apaixona cada vez menos e que há um amplo repúdio ao que os meios denominaram sua “política de ódio”.
Por outro lado, a oposição também não está bem. A face pálida de Nancy Pelosi, líder do Partido Democrata, e dos demais democratas presentes durante o discurso do presidente, reflete a profunda crise que impera no partido dos “burros azuis”, que terão que redefinir rapidamente sua estratégia eleitoral no Congresso, se tem ambição de cravar uma importante derrota aos republicanos neste ano de eleições legislativas.

 
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