Emmerson Mnangagwa tomou posse como presidente do Zimbabué na sexta-feira frente a milhares de pessoas no estado nacional da capital, Harare, colocando um ponto final aos 37 anos de Robert Mugabe no poder.
Ao prestar juramento para assumir o cargo, o ex vice-presidente e ex-chefe de segurança de 75 anos, conhecido como “o Crocodilo”, se comprometeu a “defender a Constituição da antiga colônia britânica e proteger os direitos dos 16 milhões de cidadãos do Zimbabué”.
Mnangagwa, havia sido até um pouco mais de duas semanas o vice-presidente de Mugabe e principal candidato para sucedê-lo no poder. No entanto, a repentina decisão de Mugabe de tirá-lo de seu posto deixando sua esposa, Grace Mugabe, como a “herdeira” do poder, desatou uma guerra no interior do partido do governo, o ZANU-PF, que em pouco mais de uma semana incluiu um golpe do Exército, manifestações multitudinárias nas ruas da capital e um pedido de impeachment do seu próprio partido que terminou com a renúncia de Mugabe ao poder, deixando o caminho aberto para o assumir de Mnangagwa.
A interna pelo poder também aconteceu na cerimônia de posse. Após o juramento de Mnangagwa como novo presidente, foi a vez dos altos mandatos das forças de seguranças e alguns deles o fizerem frente a forte coro de vaias, como o chefe da Polícia, instituição acusada de estar vinculada aos aliados políticos de Grace Mugabe, já caída em desgraça.
A forma na qual se decidiu a sorte de Mugabe, entre o exército e as frações do partido do governo, deixam muitas dúvidas entre os zimbabuenses sobre quão diferente será o novo presidente em relação à Mugabe.
Mnangagwa não foi apenas até poucas semanas atrás uma peça fundamental do governo, e portanto responsável pela brutal crise econômica e social que atravessa o país, e da corrupção galopante, mas também por ter sido chefe dos serviços de inteligência tem estreitos laços com os militares e uma forte gravitação ao interior do ZANU-PF.
É por isso que ainda que a maioria dos zimbabuenses tenha festejado a saída de Mugabe, alguns estão preocupados com o futuro sob o mandato de Mnangagwa.
O acordo pela saída de Mugabe inclui a possibilidade de que este e sua família possam continuar no país, gozando de proteção e garantia de que não será julgado. Ou seja, o pacto se fechou em base a uma impunidade para todas as partes que assinaram o acordo.
Mnangagwa voltou ao Zimbabué na quarta-feira, depois de duas semanas na clandestinidades e frente à milhares de militantes de seu partido disse “O povo falou. E a voz do povo é a voz de Deus”.
Na realidade os que haviam falado eram os fuzis e as intrigas palacianas. As ruas se somaram ao festejo pela renúncia de Mugabe, mas hoje vêem com cautela o futuro sob uma presidência de Mnangagwa.
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