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POLÍCIA E JUDICIÁRIO NÃO SÃO ALTERNATIVA À CORRUPÇÃO NO RJ
Fortuna de Picciani, Barata e outros corruptos deveria servir para pagar servidores do RJ
Fernando Pardal
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(Foto: reprodução TV Globo)

Picciani está preso preventivamente, e junto com ele caíram dois outros chefes do esquema de corrupção do PMDB na Alerj: Paulo Melo e Edson Albertassi. A Operação Cadeia Velha da Polícia Federal está apontando para um esquema profundamente arraigado no Estado do Rio, com a participação das empresas de transporte, dos deputados e do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Amanhã, ocorrerá uma sessão extraordinária na Alerj para que os deputados votem se os três chefes da quadrilha peemedebista devem ou não ser soltos e responder seus crimes em liberdade. O PSOL carioca se apressou em convocar um ato na porta da Assembleia para pressionar os deputados a votarem pela permanência dos três deputados na cadeia. Os crimes que Picciani e sua quadrilha cometeram, roubando milhões e fazendo com que o povo pagasse por isso com a precariedade do seu transporte e seu sofrimento cotidiano, são absolutamente revoltantes, e é legítimo o desejo popular de que eles sejam presos por suas ações. No entanto, é fundamental colocar um questionamento mais profundo sobre a solução para esse problema. Colocar atrás das grades esses corruptos - que, aliás, são apenas uma parte do grande esquema corrupto que é inerente à relação do Estado com os empresários - não resolverá o problema da corrupção. Por isso, precisamos debater como avançar para resolver a questão da corrupção no Rio.

Como discutimos aqui, a prisão mira os comandantes da quadrilha na Alerj, mas deixou de fora Pezão. O governador que pediu a Picciani a indicação de membro do TRE que liberou sua chapa da cassação.

Os crimes de Pezão são evidentes, e ele faz parte de todo o esquema. Mas nem todos os seus crimes são ilegais, do ponto de vista da justiça desse estado: não nos esqueçamos dos R$ 138 bilhões de isenção fiscal concedidas pelo governo ao longo de cinco anos, isenções que permanecem mesmo com a crise que deixa servidores sem salários e fecha serviços públicos essenciais.

No fundo, as isenções e o esquema de corrupção com as empresas de transporte têm um mesmo objetivo: beneficiar os lucros dos capitalistas enquanto a população pobre e os trabalhadores amargam as consequências.

O problema fundamental é que nem a polícia e nem o judiciário têm nenhum interesse em dar resposta a esse problema fundamental. Pelo simples fato de que são, como os deputados, parte desse regime político apodrecido, desfrutam de privilégios inimagináveis para atender aos interesses dos patrões. E por isso deixam Pezão livre, para que ele possa seguir atacando os trabalhadores e garantindo os lucros dos capitalistas. Se prendem esse ou aquele político ou empresário corrupto, deixam ainda de pé toda a estrutura corrupta que sustenta seus esquemas milionários, pronta para ser herdada pelos próximos Picciani, Cabral e Baratas. Acima de tudo, mantém intactas as fortunas das empresas corruptas, construídas sob o nosso sufoco dentro dos transportes e com as tarifas absurdas.

Frente a esse imenso desgaste e desmoralização da Alerj e do executivo, ao imenso esquema de corrupção que vem à tona, não podemos ficar de braços cruzados ou esperando que a solução vá vir de instituições como o judiciário e a polícia. Não podemos acreditar que colocar dois ou três políticos atrás das grades resolverá esse problema estrutural. Temos que organizar os trabalhadores e retomar o caminho das lutas e das greves. Nosso interesse não está em fortalecer a repressão do Estado - cuja primeira vítima é a juventude negra assassinada pelas polícias nos morros - exigindo a prisão desses corruptos com mão de ferro.

Como discutimos muitas vezes nas matérias do Esquerda Diário, como nessa aqui, a corrupção é um problema estrutural do capitalismo. A ligação dos políticos e juízes com os empresários é orgânica, e a troca de favores - seja por meio de financiamentos legais ou propinas ilegais - é a forma "natural" do capitalismo "azeitar" as suas engrenagens de exploração, botar pra rodar uma máquina estatal cujo propósito é defender os lucros de uns poucos - como os Baratas dos transportes - em detrimento da exploração de muitos - como os trabalhadores e o povo pobre do Rio.

O que precisamos é, com nossas próprias forças e nossos próprios meios, lutar pela estatização imediata de todas as empresas envolvidas em corrupção, sob controle dos trabalhadores. Pelo confisco das fortunas que acumularam com sonegação de imposto, com propinas, com corrupção e lucrando com nossa miséria. Todas as empresas envolvidas nos esquemas devem ter suas contas abertas e investigadas por comitês de trabalhadores empregados nelas e por especialistas eleitos nas universidades públicas. Que suas contas sejam abertas a todos. Todo esse dinheiro seria mais que o suficiente para pagar os salários atrasados dos servidores, e as empresas colocadas a serviço do povo melhorariam infinitamente a qualidade dos serviços públicos, bem como acabaria com as tarifas absurdas que somos obrigados a pagar.

Mas também precisamos mudar radicalmente a estrutura desse estado corrupto, que garante que os juízes, policiais, políticos tenham à mão os mecanismos para articularem seus esquemas. Que todos os políticos e juízes vivam como um trabalhador comum: que seus salários sejam iguais ao das professoras do ensino básico. Que seus cargos sejam todos eleitos (dos juízes inclusive) e revogáveis pelos seus eleitores a qualquer momento (não terão “carta branca” para fazer o que quiserem por quatro anos, ou, no caso dos senadores, oito anos).

Que seus crimes sejam abertos para nós mesmos julgarmos: abertura de todas as contas de empresários e políticos corruptos para todos; os salários dos trabalhadores e suas contas não são segredo para ninguém, e que sejam conhecidas também as contas daqueles que nos roubam. Que os crimes de corrupção sejam julgados por juris populares, e não por ricos ministros do STF cheios de privilégios. Que todos os bens dos corruptos e seus familiares beneficiados pelos esquemas sejam confiscados para que esse dinheiro volte para os trabalhadores por meio de direitos.

Para isso, só a organização dos trabalhadores pode dar uma resposta à altura. Os interesses da polícia e do judiciário estão na contramão disso. Não depositemos neles nossa confiança. Precisamos arrancar por nós mesmos essas soluções que vão à raiz dos problemas da corrupção.

 
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