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ENTREVISTA
Gerentes da Ford são julgados por entregar trabalhadores à ditadura Argentina
Andrea López

A rede internacional Esquerda Diário entrevistou Carlos Propato, militante operário entregue pelos diretores da Ford à ditadura militar argentina, resultando em seu sequestro e tortura.

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Julgamento acontece no tribunal de San Martin, nas proximidades da capital Argentina. Carlos Propato, sobrevivente e testemunha de acusação, fala do julgamento, das investidas de reforma trabalhista e da convocatória dos trabalhadores da PepsiCo para esta quinta.

A região norte da grande Buenos Aires, é a zona industrial mais importante da Argentina não somente pelo peso econômico das grandes multinacionais e empresas que empregavam milhares de trabalhadores. Dentro delas haviam milhares de trabalhadores que vinham dando passos cada vez mais largos em sua organização, avançando até mesmo na formação de Coordenações Interfabris. Os trabalhadores da Ford eram parte fundamental deste processo.

O famoso “El Quincho” situado dentro do prédio da Ford, era onde os trabalhadores compartilham momentos de distração e lazer em seus horários de descanso do trabalho.

Veja também: O escandaloso envolvimento da Volkswagem do Brasil com a ditadura militar

Ali se reuniam e organizavam e no início da década de 70 puseram de pé o corpo de delegados da fábrica. Mas a partir de o momento em que o golpe genocida argentino foi dado, no dia 24 de março de 1976, este mesmo lugar se tornou o ponto onde os trabalhadores eram sequestrados e levados para a tortura.

No processo estão sendo acusados Santiago Omar Riveros, de 94 anos, então diretor dos Institutos Militares e de quem dependia o Batalhão Campo de Maio, além dos ex-diretores executivos da multinacional automotiva Pedro Müller (85), gerente de produção, e Héctor Francisco Sibilla (90), chefe de Segurança da planta.

Outros mais foram processados, mas morreram impunes graças a demora da Justiça em encaminhar o início do processo penal. Eram também acusados, ex-gerente de Relações Institucionais da Ford, Guillermo Gallarraga e Nicolás Enrique Julián Courard, o então presidente da Ford.

Confira a entrevista:

Esquerda Diário (ED): Em poucos dias começa o julgamento contra a Ford pelo seu sequestro e tortura junto a outros companheiros. Como têm enxergado?

Carlos Propato (CP): É o julgamento contra estes empresário, estes gerentes, temos muita expectativa, é muito importante para nós e para todo o movimento operário que isto siga adiante e possamos julgar alguns civis empresários do terrorismo do estado, que foram os que fizeram os patrocinadores do terrorismo de estado. Estamos depositando todas nossas forças nisso que é muito importante. Que isso avance e que todos os que puderem nos acompanhar e prestar apoio o façam.

ED: As empresas junto a burocracia sindical foram parte do golpe militar. Como foi dentro da planta da Ford e na zona norte?

CP: As empresas e a burocracia sindical foram parte e estiveram totalmente alinhadas com o golpe genocida de 76. Para eles era muito conveniente o golpe de estado. Dentro da Ford nós lutávamos de braços dados, juntos por nossos direitos e até o final. Minha luta terminou no dia 13 de abril de 76 quando fui sequestrado, não fui nem o primeiro nem o único. Nos fizeram desaparecer da política e isso foi importante porque [com o golpe] as pessoas perderam a metade das coisas que haviam conseguido com a luta sindical.

ED: Como era a luta e a organização de vocês e na zona norte neste momento?

CP: Dentro da fábrica o movimento sindical e político lutava fortemente contra a burocracia sindical, que acorrentava os trabalhadores e os punham em uma situação altamente dificil, não somente na Ford que era um dos pilares do cinturão industrial da zona norte, mas também em todas as empresas. Ao redor da Ford, desde a Tigre até a Escobar, todo esse cinturão industrial da zona norte se pôs em luta, iniciando pela Astarsa até todas as empresas da região estarem em luta. Gostaria muito que hoje acontecesse isso, porque o que precisamos é a unidade do conjunto dos trabalhadores.

ED: O Governo tenta impor uma Reforma Trabalhista na Argentina. Que relação você vê entre a luta de vocês e as batalhas que nós trabalhadores temos adiante?

CP: Nós a vemos [a Reforma Trabalhista] totalmente como um retrocesso à época das cavernas. Vamos perder tudo o que conquistamos durante toda uma vida de luta.

Eu tenho mais de 50 anos de trabalho dentro do movimento operário e vi muitas coisas. Vi muitas derrotas, mas obtivemos muitas conquistas. Se gabam de que são governo e pensam que tem o direito de fazer o que quiserem.

Queremos saber o que pensa em fazer a CGT [central sindical dirigida pela burocracia peronista], dizem que vão aceitar os 90 pontos dos 100 propostos pelo tinteiro da reforma. Isso vimos toda a vida, a burocracia sindical sempre causou danos ao movimento operário.

ED: O que opina sobre a convocatória dos trabalhadores da PepsiCo para lutar contra a reforma?

CP: Gostaria que todos os trabalhadores tivessem a mentalidade e a força de luta que tem essas mulheres e homens que tem perderam seus empregos e estão passando por um momento muito crítico em seu acampamento em frente ao Congresso Nacional.

Eu acredito que todos os trabalhadores tinham que se incorporar a este chamado de luta na quinta às 18h. Estar todos no Congresso apoiando para enfrentar a Reforma Trabalhista, caso contrário vamos perder tudo o que ganhamos.

E isto não é somente para nós argentinos, é para todos na América Latina, e é o que está sendo ditado pelos EUA para cá, assim como foi em 76. Na Europa, na França já houve a Reforma, no Brasil também e todo o movimento operário latino-americano e mundial está em perigo. É um avanço total da oligarquia contra os trabalhadores, tudo isto é em benefício das grandes empresas e dos empresários.

Agora querem que paguemos a indenização, querem jogar tudo nas costas dos trabalhadores e todos os beneficiados serão as grandes empresas e ao trabalhador não restará nada. Dizem que querem “legalizar” os trabalhadores irregulares, mas isto é uma mentira.

Eu sou um trabalhador e sempre vou seguir pensando que todos os direitos que conquistamos não devemos perder nada, nem um passo atrás!

O julgamento começa no dia 28/11 em um momento muito delicado devido a desaparição e assassinato de Santiago Maldonado, cujo membros do governo negam o genocídio. A segunda audiência ocorrerá no dia 19/12 e continuará no próximo ano.

O início do processo penal tem crucial importância, pois sabemos que será um longo julgamento devido os acusados serem uma empresa multinacional, uma das mais fortes do mundo.

Nós, dos 24 que éramos restamos apenas 12 e os familiares, mas a luta continuará. Já estamos velhos, mas se alcançamos uma vitória e fazemos estes empresários pagar pelo que fizeram será uma bandeira de luta para as novas gerações que estão por vir, para estes jovens de 18, 20 anos que estão entrando agora na grande engrenagem operária.

Estas lutas são importantíssimas para eles. Que o julgamento da Ford se faça e nós possamos condenar estes genocidas que nos fizeram passar por momentos muito, mas muito dificeis por somente reivindicar nossos direitos, porque apenas por lutar por nossos direitos já é uma grande vitória para a classe trabalhadora.

 
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