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GREVE CORREIOS
A greve dos Correios numa encruzilhada: como é possível vencer?
Natalia Mantovan
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Num cenário de ataques como a Reforma Trabalhista prestes a entrar em vigor e de liquidação da maioria das estatais do país pelo governo Temer, a greve dos trabalhadores dos Correios é um exemplo de resistência e demonstra a disposição de luta de milhares de trabalhadores mas se choca não apenas com o governo e a justiça mas também com o papel criminoso da burocracia sindical.

Em greve nacional desde a noite de dezenove de setembro, os trabalhadores já impuseram um recuo em diversos ataques propostos pela direção da ECT nesta campanha salarial. Numa clara tentativa de adequar o Acordo Coletivo da categoria a realidade da nova legislação trabalhista, as primeiras propostas trazidas por Guilherme Campos incluíam banco de horas, redução da remuneração de férias, redução de benefícios como vale-alimentação, entre muitos outros. No entanto, a empresa, com a ajuda do TST, não abre mão de retirar um dos benefícios mais importantes para os trabalhadores, que é o convênio médico.

A audiência de conciliação do TST apresentou uma proposta que mantém nas mãos do próprio TST o destino do convênio médico, assegura as demais cláusulas sociais tais quais constam no Acordo Coletivo atual, e propõe um reajuste salarial de acordo com o INPC, que seria de 2,07%, retroativo a agosto, data base da categoria (a proposta da empresa era um reajuste de 3% a partir de janeiro). No entanto, junto com a proposta (que já é ruim porque abre mão do convênio médico), o vice- presidente do TST não se cansou de ameaçar os trabalhadores. Ao mesmo tempo em que afirmou ser legítima a greve dos trabalhadores, disse que se for a julgamento a mesma será considerada abusiva e isso justificaria não apenas o corte de ponto já realizado pela empresa mas também possíveis demissões. Disse ainda que a maior probabilidade num futuro julgamento seria que o reajuste proposto não seja retroativo. Ainda de acordo com a proposta do TST, seriam descontados 8 dias de greve e os demais dias poderiam ser compensados na unidade.

Como se não bastasse tudo isso, durante o conflito o governo golpista anunciou diretamente de Nova York sua intenção de privatizar os Correios. Nos últimos anos, o sucateamento consciente da empresa, com um quadro de funcionários inferior ao necessário, falta de materiais de trabalho, redução de agências próprias, e simultaneamente aumento da rede terceirizada e da mão de obra temporária já anunciavam a preparação de uma futura privatização, uma ideia que vem sendo construída inclusive para ganhar a população que sofre as consequências do sucateamento.

O papel criminoso da CTB e a necessidade de uma oposição combativa

Frente a tantos ataques é visível a disposição de luta dos trabalhadores, e é claro que a proposta e as ameaças do TST não agradam ninguém. No entanto, a ECT tem contado com um aliado de peso para desmoralizar os trabalhadores e impor limites às lutas. Trata-se da direção de alguns sindicatos, com destaque para o sindicato da região metropolitana de São Paulo e do estado do Rio de Janeiro, ambos dirigidos pelo PCdoB e ligados a CTB. Junto com um sindicato controlado por ninguém menos que o PMDB, partido do golpista Temer, na região de Bauru, e os sindicatos de Tocantins e Maranhão, esses sindicalistas formam uma federação – FINDECT – cujo único papel tem sido dividir a categoria nacionalmente e fazer o jogo da direção da empresa, segurando assim as maiores bases de trabalhadores do país e permitindo que o maior fluxo de encomendas, concentrado em SP capital e RJ, seja pouco afetado nos momentos de greve nacional e minando, a força da categoria. O papel que a CTB cumpre é de cúmplice de Guilherme Campos, e portanto cúmplices de todos os ataques e inclusive da possível privatização dos Correios e consequente demissão de milhares de trabalhadores.

Para manter o controle, as assembleias de São Paulo são tão burocratizadas que os trabalhadores não tem possibilidade nenhuma de falar e expor seus pontos de vista. As propostas contrárias às da diretoria do sindicato não podem ser defendidas. Numa base de milhares de trabalhadores, a única forma da vontade da maioria se expressar seria com assembleias nos locais de trabalho e comando de greve eleito pela base para que os próprios trabalhadores dirigissem a greve e decidissem sobre as negociações. Mas o único papel que o sindicato permite que os trabalhadores exerçam é um voto sem discussão e muitas vezes sem contagem mesmo não havendo contraste, impondo sempre o resultado desejado pela direção.

Por outro lado, a federação nacional da categoria, FENTECT, embora conte com um número muito maior de sindicatos, com assembleias mais democráticas e mesmo um comando de negociação eleito em assembleias, também conta com burocratas em sua direção, como os sindicalistas ligados a CUT que já traíram diversos processos de mobilização, aceitaram o fim da última greve com a imposição de um Plano de Demissões, e por muitos anos blindaram os governos do PT impedindo a luta e aceitando os ataques quando vinham daqueles governos, e não dão exemplos de democracia de base. Os sindicatos ligados a Intersindical, Conlutas e LPS por outro lado, embora mantenham uma postura mais democrática na condução de seus sindicatos, e mesmo um discurso combativo, precisam ir além das palavras e ser consequentes com a luta que se propõe.

A CTB já aceitou o acordo do TST e colocou fim na greve em São Paulo e no Rio de Janeiro, com seu método de não mobilizar nem discutir a fundo a proposta com os trabalhadores e impor uma assembleia antidemocrática sem voz para os trabalhadores. Mas em muitas bases como em Campinas, Mato Grosso e outros, já houve assembleias que rejeitaram a proposta e seguem em greve. Amanhã toda a base da FENTECT fará novas assembleias para analisar a minuta do acordo proposto pelo TST.

Qual a saída?

Para que os trabalhadores dos Correios sejam vitoriosos e barrem os ataques do governo e a arbitrariedade do TST é necessário organizar uma resistência real, com solidariedade ativa das outras categorias na arrecadação de um fundo de greve que permita aos trabalhadores resistir sem ter que escolher entre a luta e a sobrevivência.

Além disso, nessa e em futuras batalhas, organizar comandos de greve e assembleias de base que permitam aos trabalhadores decidirem, e passarem por cima de direções pelegas tem que ser a maior preocupação e o melhor exemplo para as bases de São Paulo e Rio. Também a preocupação em se aliar a outras categorias e buscar uma luta unificada contra os ataques a privatização tem que estar na ordem do dia.

É nessa perspectiva que nós do Movimento Nossa Classe, com a colaboração do portal Esquerda Diário, viemos intervindo nessa greve e colocamos nossas forças a disposição de construir essa batalha.

 
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