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RACISMO NA TV
O racismo contra Maju. E a Globo com isso?
Iaci Maria
Fanm Nwa

Foto publicada na página oficial do “Jornal Nacional”, da rede Globo, com uma imagem da jornalista Maria Júlia Coutinho é alvo de comentários pejorativos e racistas.

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Foto: iG

A imagem sobre a previsão do tempo foi publicada no Facebook na noite de quinta-feira (2) e, em alguns minutos, recebeu inúmeros comentários racistas sobre a jornalista. "Só conseguiu emprego no ’Jornal Nacional’ por causa das cotas. Preta imunda", dizia um dos comentários. Outros usuários da rede social comentaram, na página do telejornal, em defesa da jornalista e expressaram seu repúdio ao preconceito. "Aos racistas um aviso: internet não é terra sem lei e se vocês acham que podem destilar toda a podridão que existe no interior de vocês só porque usam fakes, estão enganados. Espero que vocês se ferrem muito", alertou Martha Bernardo Duarte. Um deles fez um print dos comentários preconceituosos antes que eles fossem apagados e disse que faria a denúncia e buscaria as consequências cabíveis.

Esses prints serão usados na investigação que o Ministério Público fará no Rio de Janeiro, por meio da Coordenadoria de Direitos Humanos, junto à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) e também em São Paulo.

Maria Júlia, também conhecida como Maju, se tornou apresentadora da previsão do tempo no Jornal Nacional em Abril de 2015, 8 anos depois de começar a trabalhar na emissora, conquistando um posto inédito para uma negra no telejornalismo brasileiro.

Logo que começou a apresentar a previsão do tempo, foram registrados comentários de cunho racista em reportagens que falavam sobre ela, a primeira jornalista negra da rede Globo a desempenhar a função no telejornal. Em entrevista ao UOL em Maio desse ano, Maju comentou essas agressões. "É um marco importante, mas ao mesmo tempo é complicado carregar o peso de ser a primeira a fazer algo em determinado lugar. Acho que isso ocorre porque ainda faltam representantes negros no telejornalismo. Porém, tenho ficado feliz, pois, de uns tempos para cá, minha cor tem ficado invisível na maioria das entrevistas que estou dando. Tenho sido tratada como Maria Júlia Coutinho, a Maju, a jornalista, e ponto. É assim que deve ser, pois ninguém se refere ao Bonner como o jornalista branco de cabelos grisalhos, nem à Renata [Vasconcellos] como a jornalista de cabelos castanhos e pele clara".

Sobre o último caso, Maju respondeu a um twitter que também trazia mensagem pejorativa. “@Mindflow5 @majucoutinho Vai se f* sua feiosa, vaza da tv forçada demais", disse o tweet. A resposta da jornalista foi imediata: “@Mindflow5 beijinho no ombro”.

Ao mesmo tempo, centenas de pessoas se colocaram ao lado de Maju, denunciando o racismo que ela estava sofrendo e se colocando em solidariedade à jornalista. A hashtag #SomosTodosMaju bateu recorde de acessos no twitter.

E na edição de sexta (3) do Jornal Nacional a jornalista fez a seguinte declaração: “Estava todo mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores, mas na verdade é o seguinte, gente: eu já lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, fico triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que eu acho que é isso que é o mais importante. Eu cresci numa família muito consciente, de pais militantes, que sempre me orientaram. Eu sei dos meus direitos. Acho importante, claro, essas medidas legais serem tomadas, até para evitar novos ataques a mim e a outras pessoas. Eu acredito que isso é muito importante. E agora eu quero manifestar a felicidade que eu fiquei, porque é uma minoria que fez isso. Eu fiquei muito feliz com a manifestação de carinho mesmo, como vocês disseram. Eu recebi milhares de e-mails, de mensagens. Acho que isso que é o mais importante. E a militância que eu faço, gente, é com o meu trabalho, é fazendo o meu trabalho sempre bem feito, sempre com muito carinho, com muita dedicação, com muita competência, que eu acho que é o mais importante. E, pra finalizar, Bonner e Renata, é o seguinte: os preconceituosos ladram, mas a caravana passa. É isso. Os preconceituosos ladram, mas a Majuzinha passa.”

Globo, o racismo e seu suposto combate

Logo que o ataque racista teve início, jornalistas e artistas da globo saíram em defesa da apresentadora. Willian Bonner e Renata Vasconcelos denunciaram no Jornal Nacional esse racismo, fazendo coro ao “Somos todos Maju”. Assim, quando o racismo é com quem é da casa, de imediato suas principais figuras, que não deixam de ser formadores de opinião nacionalmente, pela dimensão que possui o JN, são os primeiros a defenderem o fim desse preconceito. Mas não o fazem quando é para noticiar a morte de tantos Amarildos pelas mãos da polícia racista, não fizeram coro ao grito nacional de “Cadê o Amarildo?”.

Quando Maju diz que “lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente”, vemos uma mulher negra em horário nobre dizendo que sim, existe racismo no Brasil! E que não é de hoje, e não acabou. Importante isso. Importante também que o diretor de jornalismo da TV Glogo, Ali Kamel, também tenha acompanhado esse caso e assistido à declaração da jornalista. Pois esse mesmo diretor é ninguém menos do que o autor do livro “Não somos racistas”, no qual levanta que não existe racismo no Brasil e defende contra as cotas raciais, porque isso sim criaria racismo na sociedade. Ora Ali Kamel, uma de suas principais jornalistas foi alvo de um racismo descarado na página oficial de seu principal jornal e amplos setores denunciaram e solidarizaram. Onde está agora sua declaração de que não existe racismo no Brasil?

A declaração da Globo de que não existe racismo nesse país majoritariamente negro nós vemos todos os dias: nas novelas, o negro é sempre do “núcleo pobre”, aquele que existe para dar o tom de humor. Ou é empregada doméstica, ou é bandido. Ou é “mulata tipo exportação”, que samba e toma banho nua na laje. Nada além de reprodução de estereótipos, daqueles que fortalecem comentários como os que foram feitos para Maria Julia Coutinho.

O racismo não pode mais passar! Não apenas na TV brasileira, contra jornalistas, artistas, atletas, mas em toda sociedade. É urgente desnaturalizar a imagem – e acabar com a realidade – do negro nos piores postos de trabalho, no topo do ranking dos assassinados pela polícia, na maior concentração nos presídios e menor concentração nas universidades, da mulata gostosa que samba pro branco ver. Isso tudo é racismo, e ele está lá, está gritando em nossas caras. Será que, após este episódio, o Sr. Ali Kamel está disposto a ver?

 
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