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FORD ABC
As demissões na Ford e a estratégia do Sindicato dos Metalúrgicos
Maíra Machado
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Há uma semana atrás, 364 trabalhadores da Ford de São Bernardo foram demitidos por telegrama. Os demitidos estavam em layoff (suspensão temporária de trabalho) e faziam parte de um acordo que tinha validade até janeiro de 2018, o acordo estava firmado entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que ao contrário de lutar contra as demissões que correm solto nas montadoras do ABC, postergam a situação se conciliando com as patronais.

Hoje, são 233 mil desempregados em toda a região, cada demissão em uma grande montadora gera uma série de milhares de trabalhadores nas ruas de cada auto peça. É uma cadeia de demissões sem fim, 49 mil postos de trabalho foram fechados no ABC só esse ano, é o pior índice de desemprego desde 2005.
As demissões expressam que a crise econômica que corrói o país será descarregada nas costas dos trabalhadores e mais do que isso, mostra que os sindicatos não estão dispostos a lutar para reverter esse quadro e fazer com que essa conta seja paga pelos patrões que lucraram muitos milhões nos últimos anos e não querem perder nenhum centavo de sua alta taxa de lucro.

Frente à demissões, o Sindicato dos Metalúrgicos prometeu que ia resistir, mas ao contrário disso, mais uma vez fechou negociata com os patrões. Segundo o Sindicato, um grupo de 80 trabalhadores será recontratado e o restante será demitido via PDV (Programa de Demissão Voluntária), que oferece um “bônus” ao trabalhador demitido. A própria Ford vai definir quem serão os 80 recontratados, portanto não existe nenhuma vitória nesse processo.

Segundo Alexandre Colombo, sindicalista e trabalhador da Ford, esse foi o único acordo possível frente a situação. O Sindicato dos Metalúrgicos não pensa que a saída possível é combater as demissões?

Esse processo no ABC mostra a linha geral dos grandes sindicatos dirigidos pela CUT: negociar com governos e patrões a vida de milhares de trabalhadores e de suas famílias. Aceitar as demissões sem luta é parte da mesma política levada à frente no último chamado de greve geral que as centrais fizeram no país. Ao contrário de lutar as grandes centrais sindicais procuram as melhores formas de demitir, ajudando as patronais e aceitando as reformas e ataques que passam goela abaixo de cada trabalhador e trabalhadora brasileiros.

Desde que as demissões se iniciaram com mais força no ABC, o Sindicato negocia com o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) que protege os empresários, já que reduz salário e jornada de trabalho e pior não evita as demissões, só empurra com a barriga. É preciso reduzir sim a jornada de trabalho, mas sem redução de salário, nesse marco ao contrário de demitir, é preciso exigir que mais trabalhadores sejam contratados e os salários sejam garantidos com os lucros milionários das empresas.

A Reforma Trabalhista foi aprovada, um ataque gigantesco à enorme maioria da população. Agora a jornada de trabalho dos metalúrgicos pode passar de 12 horas diárias, chegar a 80 horas semanais, sem contar que querem acabar com o descanso semanal, férias remuneradas e reduzir o tempo de almoço. Além disso, as mulheres trabalhadoras terão que aceitar trabalhar em lugares insalubres, mesmo grávidas ou enquanto amamentam.

Essa é a maneira que o governo diz que está contendo a crise e a única forma de acabar com os ataques é retomando o caminho da greve geral. Sabemos que depois da Reforma Trabalhista, o governo golpista quer impor a Reforma da Previdência, para fazer com que trabalhemos até morrer e nas piores condições possíveis.

As demissões na Ford, são um capítulo a mais nessa historia, mas podemos reverter esse processo colocando a força de nossa classe em movimento. Para isso, será necessário superar as direções das grandes centrais sindicais, encasteladas há anos em seus postos, descrentes de que podemos impor nossa vontade pela luta. O Sindicato dos Metalúrgicos quer parecer responsável e garantir sua estratégia de Lula 2018, como se isso fosse salvar os trabalhadores.

Não podemos esquecer que foi o governo do PT que abriu as portas para a direita com sua enorme conciliação, garantiu muito dinheiro para os banqueiros e isentou os empresários de pagar impostos. Lula já reconheceu que não voltará atrás de nenhuma reforma aprovada agora pelo governo Temer. A única forma do sindicato parecer responsável é lutando para que não tenha mais nenhuma demissão e para que todos os demitidos sejam reincorporados.

Assinar o PDV dá um respiro imediato, mas depois será muito difícil conseguir outro emprego pelo nível de crise que vivemos no país. Além disso, as garantias serão de emprego precário e rotativo.

O ABC foi palco de grandes movimentações operárias nos anos 70 e 80, um gigante que pode mudar a correlação de forças no país. Os governos sabem disso e as direções das grandes centrais também, sabem que se essa força colocada em movimento questiona profundamente todos os ataques, mas esse questionamento levará sim ou sim à conclusão de que os sindicatos devem voltar a ser nossas ferramentas de luta. Cada demissão deve se transformar numa batalha para manter os postos de trabalho, mas ainda mais para derrotar as reformas e a super exploração capitalista.

 
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