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Neoliberalismo: do conto de fadas burguês à luta de classes
Mateus Castor

Relato da primeira sessão do seminário Ideias de Esquerda. Dialética, materialismo e comunismo.

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Na última terça feira, ocorreu a primeira sessão do ciclo de seminários da revista Ideias de Esquerda, onde foi debatido sobre a dialética, materialismo histórico e o comunismo. Em tempos de crise econômica, social e política, esses temas mostram ter cada vez mais espaço no imaginário de milhões de jovens e trabalhadores, que diante dessa realidade conturbada e caótica, procuram novas maneiras de pensar e agir.

Nos últimos 30 anos, com a crise e posterior desaparecimento da grande maioria dos Estados operários, dentro deles a URSS, a burguesia estabeleceu uma grande derrota para todo o movimento comunista. Mesmo esses Estados sendo controlados por uma casta burocrática, a sua dissolução significou a vitória da ideologia burguesa, que pelo mundo inteiro, através, sobretudo, do neoliberalismo enquanto política econômica, espalhou um novo modo de vida a sua imagem e semelhança que teve um profundo impacto cultural na subjetividade de bilhões de pessoas.

A propaganda dos capitalistas tratou de atacar aquilo que era mais perigoso para sua existência: a consciência de classe. Não se trata mais de um trabalhador explorado pelo patrão, se trata de um acordo igual de colaboradores, uma relação de ganho mútuo. Recebido o salário merecido, agora o indivíduo poderia dotar sua vida de sentido, enquanto o empresário acumula bilhões, ele consome, lutando pelo seu “sonho americano”, uma família feliz, uma casa própria e um carro e todos os produtos que a televisão mostra como caminho para felicidade, afinal, “Abra a felicidade. Coca Cola”.

Aqui no Brasil não foi diferente, especialmente no ascenso econômico durante o governo de Lula, agora um pobre podia andar nos shoppings, nos aeroportos e conseguia parcelar o seu carro em 40 vezes. Porém, o conto de fadas burguês teve um fim, a crise econômica de 2008 foi um choque no mundo, desencadeou crises políticas e sociais, como a Primavera Árabe, Junho de 2013 aqui no Brasil, ou a crise econômica grega, toda a ilusão burguesa, através do crescimento do desemprego, da piora das condições de vida de bilhões de pessoas, desabou.

O “fim da história”, o “fim da luta de classes”, a felicidade no consumismo e na realização individual, ideias tão proclamadas pela elite intelectual servente dos capitalistas, mostrou-se uma farsa. Cada vez mais jovens, trabalhadores e oprimidos passaram a se rebelar, a buscar um projeto alternativo, a serem sujeitos políticos na realidade, buscando mudá-la, e ideias extremamente perigosas mostram estar ressurgindo no imaginário desses, perigosas para a burguesia, como o espectro do comunismo.

Todo esse resgate do passado mais recente, mostra o quanto o materialismo histórico mantém-se como um método de análise da realidade atual. A subordinação do trabalhador ao patrão, não se trata de “colaboração” entre dois sujeitos iguais, mas sim de uma relação de exploração, são dois interesses antagônicos, que provam-se vivos a todo momento. Até porque, quem pode aos 65 anos, não ser considerado idoso? Como a Globo porcamente sinua, o empresário que tem acesso a saúde privada, ao lazer privado, a férias no exterior, ou o trabalhador que espera meses na fila do SUS para fazer um tratamento qualquer, que só vive da casa para trabalho e do trabalho para casa, dormindo 5 horas por dia e trabalhando 12?

Essa realidade não é de hoje, dura séculos, Karl Marx e Engels, em XIX, já expunham o caráter da sociedade capitalista e travaram batalhas teóricas muito importantes. Um dos principais setores da intelectualidade da época eram os idealistas, que diziam que a realidade era fruto da mente humana, ou seja, que a ideia era anterior a matéria, Hegel – importante filósofo que desenvolve a dialética – faz parte desse grupo, e coloca que o motor da história seria a busca pela “razão”. Segundo Hegel, a História (com H maiúsculo) da humanidade seria a história da realização de uma suposta ideia universal, de uma “consciência coletiva” que o filósofo alemão chamava de “espírito do mundo”, o qual se objetiva no mundo material através das consciências individuais de cada homem, como se fosse um Deus que escreve certo por linhas tortas. Resumidamente, a dialética de Hegel seria esse movimento de objetivação do espírito do mundo, mediado pelas consciências individuais.

Por si só, a dialética tende a ser uma concepção de mundo crítica e revolucionária, pois: 1º) Se a História é um movimento, o movimento de objetivação do espirito do mundo, então, a realidade está constantemente, contínua, ininterrupta, permanentemente em transformação, ou seja, tudo muda, tudo tem começo, meio e fim, e a única coisa eterna é a própria transformação. 2º) Se o movimento de objetivação do espirito do mundo é mediado pelas consciências individuais, então, o ser humano é sujeito da realidade, ou seja, o ser humano age sobre a realidade material e pode transformá-la conscientemente; por isso, contradizendo os filósofos políticos anteriores – segundo quem o ser humano seria um ser naturalmente mal, egoísta, individualista, “lobo” de si mesmo, etc., e a finalidade do Estado político seria “frear” essas paixões humanas – Hegel dirá que nada de grandioso no mundo foi feito sem paixão.

Mas, apesar de todo esse potencial crítico e revolucionário da dialética, o idealismo de Hegel tornava sua filosofia conservadora, pois, se a História da humanidade é a história da realização do espirito do mundo – que é anterior a matéria, portanto, só pode ser algo divino, religioso –, então, tudo que é real é racional, tudo que é racional é real, conclui Hegel. Se as coisas são como são hoje, se existe fome, doença, miséria, guerras, opressão e sofrimento de todo tipo, etc., é porque esta forma capitalista é a mais racional das sociedades possíveis. Esse conservadorismo será criticado, após sua morte, pelos chamados “jovens” hegelianos, ou hegelianos “de esquerda”, entre os quais o próprio Marx, na sua juventude, segundo os quais o real não é positivamente racional (“positivo” no sentido de “o que está posto”, do latim, positum; a materialidade palpável, sensível, tangível), ou seja, a realidade não é direta e imediatamente racional, mas sim torna-se racional através da ação negativa dos filósofos (“negativo” no sentido de complemento do positivo, de “espaço vazio”, incompleto a ser “preenchido”) ao criticar a realidade concreta e partir do mundo material para a análise, Marx vê no capitalismo e no conflito de interesses entre as classes essa concretude. Logo, religião não seria o motor da história e sim a consequência, uma resposta, "o suspiro da criatura oprimida" diante da realidade opressora do capitalismo, ao mesmo tempo que o mantém numa ilusão de uma saída reconfortante pós vida.

Através desse grande debate, o marxismo se consolidou como uma grande teoria dos explorados e oprimidos. Ao longo da história foi atacado, e continua a ser todo dia. Porque não era mais uma força abstrata, idealizada, um Deus, que estava por trás da história, e sim a concretude do mundo real, a luta de classes, onde uma explora e a outra é explorada.

Hoje, ainda vivemos subjulgados pela ordem capitalista, mas a ilusão montada pela burguesia através do neoliberalismo cada vez se desmonta mais e mais. Ainda vivemos na era do capital, de crises guerras e revoluções, como diria Lenin. E existe um sujeito que atuará na realidade material e transformará todas as relações humanas, de cima para baixo, a classe trabalhadora.

 
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