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Pepsico Argentina: com a palavra, as trabalhadoras que lutam pelos seus empregos
Lucho Lucero

A multinacional dos salgadinhos que têm como slogan “deixam sua vida mais feliz” deixa nas ruas 600 famílias. Suas protagonistas, as trabalhadoras que lutam pelos seus empregos, contam porque PepsiCo está fechando a fábrica.

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Pepsico, a multinacional líder na fabricação dos salgadinhos mais populares no mercado fecha sua fábrica em Vicente López deixando um cartaz que notifica 600 trabalhadores de que as “operações foram encerradas”. O objetivo da multinacional, de acordo com os trabalhadores que resistem às demissões em um acampamento em frente aos portões da fábrica, seria impor a precarização do trabalho.

Nas suas campanha publicitárias de milhões apresentam um slogan de que seus salgadinhos “fazem sua vida mais feliz” mostrando momentos de encontros, festas, de felicidade que estão muito distantes da realidade dos seus trabalhadores, que tem os corpos destruídos por anos de trabalho pesado. Lordoses, tendinite, hérnias de disco são as doenças com as quais a PepsiCo lesiona os corpos de seus trabalhadores e os deixa na rua.

A “Peti”, como é chamada pelos seus companheiros, tem três filhos, é divorciada e trabalha na PepsiCo há 16 anos. “Estou de licença por e teria que me reincorporar nestes próximos dias. Me chamaram no Recursos Humanos e me disseram que a fábrica deixaria de realizar operações nesta unidade e que logo logo me chamariam para me explicar como continuaria a minha situação”

Natalia está grávida de cinco meses, havia apresentado toda a documentação como o Departamento de Recursos Humanos exige para garantir sua licença para o momento do nascimento do seu primeiro filho. Há 16 anos a Pepsico manda na sua vida, a girando entre três turnos de trabalho extenuante. Contra a precarização, as condições de exploração, lutam há anos junto à Agrupação Bordo, tentando impedir a mão da patronal em cada ataque, efetivando todos os contratados, defendendo seus direitos, construindo uma consciência de luta. Hoje a multinacional as deixa nas ruas, mas elas, as protagonistas desta luta, junto às suas companheiras, estão dispostas a batalhar até as últimas consequências. ,

A verdade é que não esperávamos o fechamento assim tão de repente. Na segunda-feira trabalhamos normalmente, havia linhas produzindo. Existiam movimentos há algum tempo neste sentido, tentavam fazer um esvaziamento mas nós dificultávamos para eles porque sempre barramos qualquer tentativa de atacar nossa condições. Assim como nós há muitas mulheres, mais grávidas, muitas são mães, que pagam aluguel, que estão sozinhas, que são responsáveis elas suas famílias. Havia companheiros da expedição dentro na terça-feira, feriado, e os fizeram ir embora e logo depois colocaram o cartaz, assim nos tratam, isto te evidencia o que é a patronal, a eles não importa nada, somos apenas mais um número.

"Isso mostra o que é a patronal, nós somos apenas um número a mais para ela"

No chamado explicam que devemos nos apresentar no Bouchard 556. A “Peti” e Natalia no dia 30 deste mês. “Supostamente vão nos explicar lá porque a empresa tomou esta decisão Há 16 anos trabalho na Pepsico e nunca tinha acontecido algo assim. Uma vez fecharam por dois meses por conta das denúncias de contaminação no bairro. Mas investiram em saneamento para continuar funcionando, em melhoras e extensão da planta, então o fechamento tem outro objetivo.

Sabíamos que no depósito de Mar del Plata estão fazendo tarefas desta planta, que diminuiria um pouco o trabalho, mas não ao ponto de fechar sob estas condições. Nos deixam todos na rua, somos 600 trabalhadores em muitas situações, mães solteiras com filhos, os corpos lesionados de muitos anos de tarefas pesadas, repetitivas. Onde vamos conseguir trabalho com os problemas de saúde que temos? Muitos deixamos metade das nossas vidas nesta fábrica, temos entre 30 e 40 anos de idade e os corpos quebrados.

Uma multinacional que tem outras plantas no país, no Mar do Plana, San Luis e La Rioja, que ganha milhões, porque nós sabemos melhor que ninguém quanto é produzido, as máquinas funcionam e haviam feito concertos em alguns setores, é muito surpreendente o fechamento e é evidente que não é porque não lucram, isso ninguém acredita, atrás do fechamento é óbvio que a empresa tem um plano para nos deixar nas ruas, não lhes importa nada, somos um número, se desfazem de nós como se fossemos um material descartável.

PepsiCo é uma das multinacionais ianques do ramo da alimentação com muitas vendas no país. Produz Lays, Toddy, Tropicana, Quaker e Pepsi, entre outras reconhecidas marcas. A nível mundial, obteve um lucro de U$S 10,3 bilhões, dos quais 8% saíram das suas plantas na Argentina. Os números dão conta de mostrar que perdas não tem, deixando evidente que o objetivo do fechamento é maximizar ainda mais os lucros, avançando sob as conquistas operárias para impor a precarização do trabalho.

Conhecem muito bem a minha situação porque apresentei os papéis ao Departamento de Recursos Humanos quando mal tinha confirmado minha gravidez, mas não se importam com a vida dos trabalhadores. De um dia para o outro te dizem que você já não tem onde trabalhar. Tem companheiras grávidas, que sustentam seus lares, que têm túnel do carpo, hernias de disco, lordoses, tendinite. Assim ficamos após anos de trabalho pesado, de termos vários postos sendo substituídos porque muitos estão de licença, porque seu corpo é destruído pelos afazeres.

A maioria tem 10 anos de experiência e as doenças laborais são abundantes, então você vai de um lado para o outro cobrindo os ausentes até que você mesmo tem ART. Assim funciona a PepsiCo, destruindo corpos, sempre debatemos que se não cuidamos da nossa saúde entre nós, os companheiros, a empresa te quebra e te descarta.

“Pepsico te destrói o corpo e te descarta”

Já o tinham bem planejado, relatam trabalhadoras indignadas enquanto dividem um mate e conversam sobre como continuará a coisa. Este fechamento significa tirar de cima de si os que se organizam para defender seus direitos, a luta cotidiana por melhores condições, para que não existam nem trabalhadores com péssimas condições de trabalho nem demitidos em Pepsico, enfrentando o próprio sindicato que é funcional para que a empresa aplique seus planos de exploração. E isso vêm sendo construindo há anos, desde que Leo Norniela começou a se colocar frente aos ataques da multinacional, um processo de organização que hoje querem tirar de cima de si próprios para impor 100% de precarização no trabalho, afirmam as aguerridas operárias.

Querem tirar da fábrica o que chamam de “trabalhadores problemáticos”, como nos dizem, porque nos colocamos para defender nossos direitos. Sobretudo aqueles que nos agrupamos na Bordó, que há anos lutamos para bloquear as medidas autoritárias desta empresa, em que conseguimos barrar a terceirização do trabalho, que denunciamos todo tipo de ataque. A empresa sabe bem que avançamos em nos organizar e querem destruir isso, precisam impor condições precárias, para que se você fique doente e não tenha direito a licença, e sim te demitir e substituir por outro. Querem avançar sob as nossas conquistas e operar com trabalhadores terceirizados na sua totalidade e nós somos uma trava para que avancem nisso, nós aprendemos a nos defender, demoramos anos para ganhar este respeito.

Quando começamos a trabalhar com Leo Norniela começamos a lutar, fomos criando outra consciência, nos agrupar por fora do sindicato e isso também foi definindo de qual lado estamos. O sindicato sempre enfiava sua gente, fazia acordos sobre tudo com a patronal, deixava tudo acontecer e isso foi mudando, foram perdendo sua representação, as pessoas começaram a desconfiar do seu papel na fábrica e ao passar dos anos, a Bordó se fortaleceu, ganhou as eleições, conquistou a comissão interna e então se tornou difícil para a empresa lidar conosco, é com isso que querem acabar, com a organização por fora do sindicato vendido.Os mais velhos sempre nos comprometemos em lutar para melhorar nossas condições, por fazer assembleias, que haja participação, debate, que os trabalhadores tomemos nas nossas mãos a organização.

A maioria está com os corpos destruídos, se seus braços incham, você não pode levantar seus filhos por conta da coluna, pela tendinite. É muito difícil sair para trabalhar depois de ficar assim. Não lhes importa a sua saúde, você estar grávida ainda menos. Jogam para que todos se desmoralizem, para que sintamos que tudo acabou, que não exista outra alternativa além de aceitar o dinheiro que te oferecem de indenização.

A vigília nos portões, contra qualquer tentativa de esvaziamento, mostra que apesar das adversidades que PepsiCo deixou sob os corpos destruídos, deixando 600 trabalhadores nas ruas, nada os detém para lutar até as últimas consequências. Nas palavras da “Peti”, de Natalia e diversas trabalhadores se torna concreta a força com a qual estão disposta a dar a batalha, não abaixam os braços e assim o demonstram.

Muitas estamos convencidas que temos que lutar. Eu ainda que esteja grávida quero estar, lutar junto aos meus companheiros, somos 600 pessoas entre limpeza, expedição, produção, manutenção. Três turnos de trabalhadores que ficaram nas ruas, assim que vamos lutar até as últimas consequências. Em PepsiCo sempre conquistamos tudo lutando, isso temos que ter bem claro.

 
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