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ELITISMO NAS ESCOLAS
“Brincadeira” em colégios ricos comemora exclusão com fantasias de trabalhadores precários
Fernando Pardal

Mostrando sem pudores por meio de uma "brincadeira" a face mais elitista e de desprezo aos trabalhadores da classe dominante, colégios de elite promovem o dia do "se nada der certo" em que alunos se vestem com roupas de trabalhadores precarizados.

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Já é uma tradição em colégios caríssimos onde só quem tem muita grana pode estudar: o dia do "se nada der certo", segundo comunicado da direção de uma das escolas é para que estudantes "pensem em alternativas" caso não sejam aprovados no vestibular.

Na prática, é um dia para que as crianças expressem todo o desprezo pelos trabalhadores que aprenderam com seus pais e nas suas elitistas instituições de ensino. Chega a ser uma espécie de comemoração pelo filtro social do vestibular, que deixa de fora das instituições públicas de ensino superior os filhos da classe trabalhadora, justamente aqueles que irão se ocupar os postos de trabalho mais precarizados e com os piores salários, um "pesadelo" que os estudantes desses colégios estão longe de ter que enfrentar.

Foto: reprodução Bombors

Mas o destino de milhões de trabalhadores vira a piada dos ricos filhos da classe dominante. No dia do "se nada der certo" os estudantes vão às aulas vestidos de faxineiros, garis, atendentes do McDonald’s, enfim, todos aqueles trabalhadores que irão ser explorados nas empresas em que esses estudantes esperam ser gerentes ou proprietários. O ensino desde a infância e adolescência para que desprezem essas profissões e as pessoas que as ocuparam (por não terem "se esforçado" o suficiente, de acordo com a ideologia por trás da "brincadeira" das escolas) é uma peça fundamental para que sua exploração sem limites seja naturalizada e jamais questionada.

A "brincadeira" também serve para de forma "descontraída" colocar uma espada sobre a cabeça dos estudantes. Bem aos moldes da ideologia hegemônica nos Estados Unidos e que irradia para o restante do mundo, a ideia é "tirar um sarro" em um mundo dividido entre "vencedores" e "perdedores". Eles, que irão estudar para o vestibular sendo preparados por colégios onde poucos podem entrar, com condições de vida e estudo inacessíveis às massas de trabalhadores e seus filhos, serão os "vencedores" a quem tudo no mundo pertence. Já aqueles de quem se fantasiam são os "perdedores", a quem, por "falta de mérito", cabe o papel de exercerem os trabalhos mais duros, nos postos mais precários, com os piores salários, e verem a sina de uma sociedade desigual dividida em classes se repetir com seus filhos, que também não irão às escolas onde se "brinca" de ser pobre e trabalhador nos dias de festa.

Diante da imensa repercussão negativa que, aparentemente pela primeira vez, teve o dia do "se nada der certo", foram divulgados cínicos pedidos de desculpas. Na página do Colégio Marista as fotos parecem ter sido retiradas do ar. Já a Instituição Evangélica Novo Hamburgo soltou uma "nota de esclarecimento" onde pede desculpas pelo "mal entendido", mas reforça sua concepção de que a "brincadeira" era sobre o "não dar certo na vida".

É impossível, é claro, para uma instituição de ensino destinada a reproduzir a ideologia da classe dominante e formar seus membros, que questione a associação entre o "não dar certo na vida" e ser um trabalhador. Pois "dar certo na vida" é fazer parte dessa "elite" que explora e vive do suor alheio.

A própria existência do vestibular, a legitimação da exploração e da sociedade de classes são os motivos de existir dessas escolas, que só podem se sustentar fazendo da educação uma mercadoria (caríssima) porque o ensino público extremamente precário é o que resta aos que "não deram certo na vida", ou seja, os filhos dos trabalhadores que são explorados pelos que "deram certo na vida". Por isso, nenhuma desculpa servirá. Não por dizerem aquilo que pensam e continuarão a pensar e fazer em todos os outros dias, com ou sem as fantasias.

 
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