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AÇÃO NA CRACOLÂNDIA
Racismo e truculência de Alckmin e Dória faz feridos e presos na "Cracolândia" em SP
Letícia Parks

Os moradores da Cracolândia, na zona central de São Paulo, região da Luz, amanheceram no domingo com um grande contigente policial em uma ação truculenta de desocupação do bairro. Há 9 dias, o governador Geraldo Alckmin afirmou que acabaria com a região da Cracolândia para colocar moradias por lá. Sabemos que não para esses moradores expulsos mas para as de alto padrão da especulação imobiliária.

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imagem: Caio Castor

A ação do dia 21/05

Era um contigente policial de centenas que, fortemente armado, atirava bombas, balas de borracha e distribuía mandatos de prisão por toda a região do Parque da Luz. No vídeo publicado pelo jornalista do El País, Caio Castor, é possível ver a maneira como a polícia entra no bairro atirando indiscriminadamente. Foram mais de 70 mandatos de prisão expedidos, um número ainda desconhecido de mortos e feridos.

Desde o início do mês de maio, o governador do PSDB, Geraldo Alckmin, já havia anunciado que iniciaria um processo mais truculento de "limpeza" da região da "Cracolândia", fazendo com que apenas nesse mês tenha aumentado de 150 para 250 a quantidade de policiais que atuam por lá diariamente, assim como duas ações repressivas, uma em menor escala no dia 07 e outra hoje.

As imagens que circulam pela rede mostram que "o fim da cracolândia" que Alckmin deseja está muito perto de ser alcançado. Após o desespero de homens e mulheres que fugiam das balas da polícia, o que restou durante o fim da manhã e todo o dia de hoje foram cobertores, papéis e roupas espalhados pelo centro, uma cena típica de um enfrentamento campal.

imagem de Julio Lancelotti

Contra todas as exigências de respeito aos usuários de drogas e moradores de rua, a ação que deveria contar apenas com serviço social, médicos, enfermeiros ou psicólogos, era apenas de policiais da GOE (Grupo de Operações Especiais), sem qualquer objetivo de aumentar o atendimento humanitário que essa população tanto necessita. Mais uma vez, um novo capítulo de racismo e ódio contra os pobres, que o único serviço do Estado que conhecem é o da polícia, tendo historicamente visto negados seus direitos à educação, saúde e moradia.

Para alguns, a repressão na Luz é abertura de novos negócios

Em declaração à imprensa em 08/05, o governador Geraldo Alckmin deixa claro que a repressão e higienização da Nova Luz é uma medida de dar abertura à especulação imobiliária. A medida é fortemente apoiada pelo prefeito higienista, racista e xenófobo João Dória, que posa de trabalhador mas defende os interesses das grandes empresas que especulam o centro de SP.

Qualquer um que circule pelo centro verá que são muitos os edifícios residenciais vazios, prédios inteiros que poderiam abrigar milhares de famílias e que estão preparados para demolição para que no lugar deles sejam localizados edifícios de alto padrão. Em benfício de empreiteiras como Odebrecht e Camargo Corrêa, que já mostraram suas relações umbilicais com os governos, para quem pagavam mesadas em troca de favores. O governo e a prefeitura de SP preferem assassinar e aprisionar centenas de milhares ao invés de conceder a todos eles o direito à moradia e tratamento de saúde adequado para aqueles que são dependentes químicos.

Essa é uma vontade que só pode vir daqueles que conseguem se colocar na pele de cada morador em situação de rua, de cada jovem que, pelas dificuldades da vida, passa a ser um usuário de drogas. É por isso que não se pode confiar que qualquer medida que venha das mãos desses governos e políticos interessados na manutenção de suas "mesadas" de empreiteiras, construtoras e bancos.

Um modo de tratamento dedicado aos negros e indígenas

A verdade é que a região batizada de "Cracolândia" abriga muito mais do que apenas usuários de drogas e traficantes. Há uma imensa massa de migrantes, imigrantes, em sua maioria negros e indígenas, que ao tentar sobreviver numa cidade massacrante como São Paulo, se vêem sem qualquer alternativa a não ser morar na rua. Apesar de cidade de país de 3º mundo, São Paulo está na lista das 20 cidades com metro quadrado mais caro do mundo, junto a Nova Iorque, Paris, Milão, entre outras.

O segredo desse lucro está baseado na desigualdade social, que tem no racismo uma forte base material e ideológica. Apenas sob o discurso de que os negros e indígenas podem ser mortos, aprisionados, torturados que se pode conceber que estejam aos montes em situação de rua, enquanto as empreiteiras e bancos avaliam preços milionários para imóveis que esses negros e indígenas constroem, muitas vezes sofrendo mortes e incapacitação por acidentes de trabalho na construção civil. Enquanto os negros recebem 1/3 do salário de um homem branco, e as mulheres negras 1/5, cenas como as que vimos hoje na "Cracolândia" serão parte da rotina de vida em um capitalismo cada dia mais em crise, que precisa ir cada dia mais longe para manter seus lucros, explorando territórios "esquecidos", desabrigando e despovoando para encontrar novas maneiras de enriquecer bolsos que, apesar da crise, não podem se ver sem lucro.

É contra tudo o que significa essa ação, contra as marcas do racismo em nossa sociedade, contra a especulação imobilária e pelo direito à moradia digna, à educação, saúde e descriminalização das drogas que escrevemos esse artigo.

 
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