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MC DALESTE
A melhor música de junho não morreu no palco
José Carlos, trabalhador da indústria de alimentos
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Mc Daleste era um jovem artista que quando produzia livremente, sobretudo no começo da carreira, se dedicava a interpretar e dar voz à vida de jovens ultra precários e sua contraditória relação com o crime (Menor sem opção, Dor de um passado etc. falava da realidade que vivia. Justamente por essa característica, sua música mais política só podia ter sido feita em junho de 2013, sintetizando precisamente aquele movimento de ampla politização que sacudiu as massas, setores da juventude em especial, incluindo milhões de jovens trabalhadores. Novamente, ele falou da realidade que vivia, captando, assim, o “espírito de junho”. Por isso, O gigante acordou foi a melhor música desse período e talvez por isso o jovem artista tenha morrido.

A letra intercala frases de cartazes das manifestações, como “desculpe pelo transtorno, mas estou mudando o meu país”, “violência é a tarifa” e “é por direitos e não por centavos!”; frases do hino nacional “adaptadas”, captando os aspectos progressistas daquele confuso sentimento nacionalista (que depois se desenvolveu no se contrário), “deitado em berço esplêndido, o povo acordou do coma” ou “salve ó pátria amada e quando eu amo defendo a própria morte”; versos do próprio autor, que denunciavam a situação nacional, já de um profundo desgaste com o regime político e com crescentes dificuldades financeiras, “é porque cansamos de acreditar em alguns salafrários/ aumenta leite, condução e cada aumento dos nossos salários?!”, exaltando as manifestações, “eu sou protestante, coração valente/ na selva de pedra eu grito que só vai depender da gente!” e concluindo que “hoje não foi pro governo, aquele dia de sorte”. Ao final, fazia um chamado enfático e perigoso, “brasileiros e brasileiras, vamo pra rua, vamo protestar, porque só depende de nós pro Brasil mudar, então vamo que vamo!”

Artistas com peso de massas se posicionaram em apoio às manifestações, uns mais por dentro delas do que outros, mas certamente poucos tão orgânicos e menos ainda com tamanha influência na juventude trabalhadora, como era o caso de Mc Daleste. Sua morte não foi explicada, mas logo surgiram versões culpando o tráfico etc. Coincidência ou não, aconteceu justamente no momento em que se gestava a perigosa combinação da ampla politização de massas com um artista que apontava para ser uma voz em defesa da juventude precária, massacrada pela polícia, mas que naquele momento estava em pleno desenvolvimento político. O que poderia acontecer se Daleste fizesse uma música sobre Amarildo ou sobre os “rolezinhos”? Coincidência ou não, justamente pela falta de lideranças ou partidos políticos que capitassem tão bem o espírito de junho é que setores da direita conseguiram ganhar espaço, chegando ao ponto de, dois anos após aquele junho, avançarem com a redução da maioridade penal, um grande ataque justamente contra a juventude que Daleste representava, como também falamos aqui.

A juventude trabalhadora, que teve sua voz representada naquela música, continua viva, ativa, produzindo a riqueza do país e fazendo suas experiências políticas. Hoje o seu nível de atividade diminuiu, é verdade, mas não retornou ao anterior de junho, quem conhece e convive sabe. Cada jovem de moto que tenta uma fuga da polícia só porque está sem documentos e acaba morto com tiro na cabeça gera revolta e ônibus queimados. Coincidência ou não, a melhor música de junho foi interrompida numa noite da mesma maneira que tantas vidas de jovens negros são interrompidas todos os dias. Apesar da tentativa, ou das coincidências, a melhor música de junho não morreu no palco, ideias e sentimentos não são atingidos por balas.

 
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