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OPINIÃO
México: Nove anos da Comuna de Oaxaca e as lições aos professores
Livia Tonelli
Professora da rede estadual em Campinas (SP)

Em 2006, no México, a trincheira da luta de classes teve como protagonista os professores grevistas da província de Oaxaca. A luta dos professores era por condições dignas de trabalho e qualidade de ensino. Essa mobilização impulsionou um dos movimentos revolucionários mais importantes do início do século XXI, a Comuna de Oaxaca.

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As jornadas populares de Oaxaca iniciaram no final de maio de 2006 com a mobilização dos professores grevistas, e se dinamizou ao incorporar trabalhadores de conjunto e setores oprimidos, tais como os camponeses. Esses se organizaram por meio da Assembleia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO).

A APPO abarcou mais de 300 movimentos sociais. Havia ali um embrião de democracia de base direta e auto-organização. Além de um importante e consequente programa político que dialogava com todos os setores que se colocavam em luta.

Barricadas foram construídas, rádios e emissoras de televisão foram tomadas, mega-marchas com milhares de pessoas foram construídas por todo país. A luta por demandas mínimas para uma educação de qualidade foi o ponto de partida que desencadeou processos amplos de mobilização que visavam colocar em ruínas as bases da opressão e exploração capitalista. O eixo central, sem desconsiderar as demandas específicas, passou a ser a destituição do governador da província de Oaxaca, o político do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Ulisses Ruiz.

Diante da pressão política fruto dos métodos avançados e radicais dos setores que se colocaram em luta, Ulisses Ruiz renunciou seu cargo.

Os partidos da ordem burguesa nacional, principalmente os PRIistas e PANistas, promoveram a repressão brutal dos lutadores via assassinatos, torturas, desaparecimentos, violência sexual e prisões políticas. Entretanto, houve forte resistência e a Comuna de Oaxaca foi assumindo seus contornos. Foram seis meses de organização independente dos governos e patrões, exercendo a democracia de base e, portanto, impondo grande resistência ao ataque das bandas armadas do Estado mexicano.

Infelizmente, os dirigentes da APPO impuseram um fim a esse importante processo de luta de classes via estrangulamento dos processos de luta. Foram abandonadas as estratégias de democracia operária ao mesmo tempo em que promoveram conciliações e pactos com setores do regime burguês.

Mais uma vez, as direções de cunho populista e reformista, serviram para organizar a derrota da classe trabalhadora e dos setores oprimidos. Esse movimento evidencia uma das chaves importantes para que todo processo revolucionário triunfe, a necessidade de uma vanguarda dos trabalhadores dotada de uma estratégia revolucionária pela tomada do poder, na direção das aspirações democráticas estruturais dos setores oprimidos e de amplas camadas da pequena burguesia da cidade e do campo.

Mas, como sugere o título desse texto, quais são as lições da Comuna de Oaxaca para os professores grevistas que protagonizaram amplos processos de luta em todo Brasil?

Primeiro, é necessário ter como princípio e prática a democracia operária durante todo o processo de luta. Portanto, revindicar a expressão dos comandos de greve com delegados eleitos pela base e que estes sejam a direção do movimento grevista deve ser questão central de qualquer mobilização que vise triunfar em sua luta. Esse movimento deve ocorrer de forma coordenada para não cair em um reducionismo de atuações locais/regionais que no limite não impactarão no alicerce que sustenta o todo. E serve somente como uma falsa propaganda.

Segundo, não é possível confiar em direções com bases governistas. Assim como também devemos abdicar da inocência daqueles que carregam enquanto discurso e prática princípios reformistas. Esses nunca poderão construir qualquer processo de luta consequente rumo à vitória dos trabalhadores, pois significa romper com toda uma estrutura de poder que garante um conjunto de privilégios que não estão dispostos a perder.

Terceiro, unificar as lutas é potencializar a força da classe trabalhadora e dos setores oprimidos na luta de classes. É impulsionar de forma concreta e coordenada o que se manifesta de forma espacializada enquanto angústia, desejo de transformação e disposição de luta. Nesse sentido, as centrais sindicais de “esquerda” devem cumprir papel fundamental de mobilização de suas bases, seja na construção de movimentos de solidariedade de classe e/ou em métodos efetivos de luta.

Essa é a chave apaixonante que a história nos possibilita: aprender com a classe trabalhadora que por vezes se colocou como protagonista do seu devir. Assim foi na Comuna de Paris, na Revolução Russa, na Comuna de Oaxaca e em tantos outros momentos da história que evidenciaram processos de luta, cada qual com seus avanços e ganhos organizativos que culminaram em experiências/vivências revolucionárias. Precisamos avançar nesses aprendizados e colocar a classe trabalhadora como o sujeito protagonista da história. É dessa maneira que podemos vislumbrar um futuro onde haja uma vida plena de sentido a todos.

A Comuna de Oaxaca há nove anos deixou lições de casa não somente para os professores, mas para todos os incomodados com a vida miserável que nos é imposta. O fim da comuna não implicou na desmobilização da categoria e setores envolvidos. Atualmente, os professores da província de Oaxaca tem fomentado amplas mobilizações diante do processo das eleições denunciando governantes e fraudes, e lutando contra as políticas de privatização e sucateamento do ensino.

Aos professores que travaram importante luta em defesa da educação pública a nossa tarefa segue. A conjuntura política deixa mais evidente a necessidade de nos organizarmos politicamente para responder aos brutais ataques. De cabeça erguida voltamos para as escolas e como disse León Trotsky, em seu texto O Grande Sonho, é necessário “amar a vida com os olhos abertos, com um sentido crítico cabal, sem adornos, tal como nos aparece, com o que oferece, essa é a proeza. A proeza também é realizar um apaixonado esforço por sacudir aqueles que estão entorpecidos pela rotina, obrigar-lhes a abrir os olhos e fazer-lhes ver o que se aproxima.”

Avante.

Referência:
DANTAS, Gilson. México Rebelde: Oaxaca, uma Comuna do Século XXI. Edições ISKRA. São Paulo. 2009.

 
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