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SAÚDE MENTAL
A saúde mental no capitalismo – Parte 1: considerações sobre o suicídio
Fernando Pardal

Série de textos que discute a saúde mental no capitalismo. Nesse primeiro, se esboça uma anatomia do suicídio em nossa sociedade, suas causas e a forma como a medicina contemporânea, representada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o entende.

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A depressão é considerada uma das doenças com maior ocorrência no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Seus dados afirmam que 4,4% da população mundial sofrem da doença, e 5,8% da população brasileira. Em relação à ansiedade, o Brasil é recordista mundial, com 9,3%.

Os dados divulgados em 23 de março pela OMS revelam dados referentes ao ano de 2015, e afirmam que 322 milhões de pessoas no mundo sofriam de depressão naquele ano. De acordo com os números da organização, teria ocorrido um salto de 18,4% da incidência da doença desde 2005. Ainda de acordo com a pesquisa recentemente divulgada, o Brasil é o segundo país com maior prevalência da doença na população em todo o continente americano, com 5,8% dos habitantes (11,5 milhões). O primeiro lugar ainda fica com os Estados Unidos, com 5,9% da população.

Outros dados divulgados pela pesquisa referem-se aos chamados transtornos de ansiedade, cuja incidência é, segundo a OMS, de 264 milhões de afetados no ano de 2015, tendo aumentado 14,9% em comparação com 2005. Nesse quesito, o Brasil é considerado campeão, com 9,3% da população afetada (18,6 milhões de pessoas).

A pesquisa da OMS também revela os números referentes ao suicídio: em 2015, foram 788 mil pessoas que se mataram, o equivalente a 1,5% do total de mortes em todo o mundo. Um suicídio a cada 40 segundos. Isso coloca o suicídio entre as 20 maiores causas de morte; quando considerados apenas jovens entre 15 e 29 anos, o suicídio foi a segunda maior causa de morte em todo o mundo no ano de 2015. Estima-se que para cada suicídio cometido, vinte pessoas tentaram se suicidar. O Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking, com mais de doze mil suicídios.

Os números são um escândalo, que revelam um problema de saúde pública de primeira ordem. Mas, diferente do que se costuma afirmar, eles não “falam por si mesmos”. Essa série de textos pretende esboçar uma análise marxista sobre essas questões sociais de primeira importância em nossa época.

O paradoxal tabu do suicídio

O suicídio é um tema sobre o qual pesa um paradoxo: ele continua sendo um tabu social, apesar de ser uma das maiores causas de mortes do mundo. De fato, é uma situação semelhante ao que ocorria com a sexualidade no século XIX, quando ocorreu o surgimento da psicanálise, justamente procurando dizer sobre esse tema aquilo que era proibido dizer. Essa analogia não é fortuita como pode parecer, e retomaremos ela mais adiante, ao tratarmos das doenças psíquicas – cuja ocorrência está frequentemente associada ao suicídio.

Por enquanto, fiquemos com esse dado: Foucault, em sua “História da sexualidade”, questionava aquilo que chamava de “hipótese repressiva”: a ideia de que a sexualidade era um tema “proibido”, que era a todo custo reprimida. O que ele procura questionar nessa hipótese é que, ao contrário de ser puramente reprimida, na sociedade existia uma infinidade de discursos sobre a sexualidade, e que o objetivo da mal chamada ciência sobre a sexualidade, a sexologia, era a de estabelecer parâmetros e normas, dizendo o que era normal e o que era aberração, a perversão, o que seria um desvio, e, portanto, deveria ser submetido à punição ou – de forma mais “científica”, ao tratamento. O objetivo, portanto, mais do que reprimir, era o de normatizar, classificar, moldar de acordo com interesses de dominação específicos.

O suicídio, também, (como as doenças psíquicas) é um tema sobre o qual se escreve e se fala muitíssimo. Mas com uma finalidade e um enfoque habitualmente muito distinto do que procuraremos lhe dar (e muito próximo do que eram os objetivos da maioria dos “cientistas” da sexualidade do século XIX: controlar e regrar). O suicida é, de certa forma, um “pervertido” aos olhos de nossa sociedade. É permitido falar, escrever, e muito, a respeito do suicídio: desde que seja para condená-lo, para repudiá-lo, para lamentá-lo ou para “curá-lo” (cura cujo significado é a mera manutenção da vida, independentemente de sua qualidade, tal como na medíocre medicina de nossa sociedade). Não se pode, em hipótese alguma, buscar sua compreensão profunda e muito menos – esse é o pecado que Freud fez com a sexualidade – retirá-lo da esfera privada, tratando-o como uma questão social, com causas e implicações sociais.

Na verdade, sob um olhar superficial, o tratamento que a OMS e a medicina conferem hoje ao suicídio o retira da esfera privada. Mas apenas da mesma forma aprisionadora e fiscalizadora como os sexólogos do século XIX tiraram a sexualidade da esfera privada. Trata-se de prevenir o suicídio com métodos como retirar a arma da mão do suicida. Como se tratava de "tratar" as "perversões sexuais" para os sexólogos. O que queremos é o "pecado" que estava na intenção inicial de Freud: entender as motivações profundas do suicídio. Não "prevenir" sua manifestação, mas atacar suas causas sociais.

Marx e o suicídio como manifestação da estrutura defeituosa da socidade

No século XIX, tornou-se célebre o livro de Émile Durkheim, de 1897, “O suicídio”, em que o autor procurava um olhar social sobre o fenômeno, vendo como a cultura e a sociedade são elementos fundamentais para motivar o suicídio. Contudo, um escrito anterior, do ano de 1846, que não teve a mesma repercussão, tem para nós um significado muito maior. Trata-se de “Sobre o suicídio”, escrito de Marx baseado e utilizando-se das anotações do arquivista da polícia francesa, Jacques Peuchet, que constituem um capítulo de suas memórias.

Marx vai além de Durkheim, e não apenas vê as relações entre sociedade, cultura e suicídio, mas utiliza suas evidências para condenar a estrutura social apodrecida que engendra essas mortes. Com o relato de quatro casos feitos por Peuchet, o autor mostra que as causas do suicídio – nos casos retratados, ao menos – são as opressões criadas pelas leis e costumes sociais. Fundamentalmente, são o machismo e o patriarcado que se sobressaem como os agentes impulsionadores de três dos casos analisados, de mulheres que tiram a própria vida para escapar a situações impostas a elas por uma sociedade em que eram tratadas como propriedade, como não-sujeitos. Mesmo, como se verifica no texto, com as mulheres burguesas.

Explicitamente, Marx critica, na introdução desses escritos, a “(...) pretensão dos cidadãos filantropos [que] está fundamentada na ideia de que se trata apenas de dar aos proletários um pouco de pão e de educação, como se somente os trabalhadores definhassem sob as atuais condições sociais, ao passo que, para o restante da sociedade, o mundo tal como existe fosse o melhor dos mundos.” Ele ainda afirma que: “Embora a miséria seja a maior causa do suicídio, encontramo-lo em todas as classes, tanto entre os ricos ociosos como entre os artistas e os políticos. A diversidade das suas causas parece escapar à censura uniforme e insensível dos moralistas. (...) está na natureza de nossa sociedade gerar muitos suicídios (...)”

Essa observação é fundamental para lembrar que, para o marxismo, não se trata de defender que os trabalhadores são o sujeito revolucionário para romper apenas suas próprias correntes da exploração capitalista e nada mais; seu papel social na produção os coloca como sujeitos sociais da emancipação de toda a humanidade, com a tarefa histórica de lutar contra o sofrimento que se abate sobre todos, em suas formas diferentes, em tal sociedade.

Se destaca a miséria como a maior causa do suicídio, não deixa de dizer, contra os moralistas, que as causas do suicídio são muitas. Aponta, inclusive, um paradoxo incompreensível tanto para os moralistas religiosos de sua época como para a obtusa medicina de nosso tempo, que procura ver em baixas taxas de neurotransmissores as motivações totais, primeiras e únicas de nossa subjetividade: “até o próprio amor à vida, essa força enérgica que impulsiona a personalidade, é frequentemente capaz de levar uma pessoa a livrar-se de uma existência detestável.” E as causas para que uma existência seja detestável sob o capitalismo são inúmeras, e, se a da exploração econômica se impõe de forma avassaladora e onipresente, nem por isso as muitas outras que estão relacionadas a essa – de forma direta ou indireta – são também menos opressivas e insuportáveis.

O suicídio foi, por isso mesmo, não apenas um tema para o jovem Marx, como deve ser para o marxismo. Como ele disse certa vez a sua filha Laura, citando Terêncio quando indagado a respeito de sua máxima favorita: “Nihil humani a me alienum puto" (Nada do que é humano me é estranho). O suicídio, com toda sua dimensão trágica, é uma atitude profundamente humana. Junto com Peuchet, Marx afirma:

“O número atual de suicídios, aquele que entre nós é tido como uma média normal e periódica, deve ser considerado um sintoma da organização deficiente de nossa sociedade; pois, na época da paralisação e das crises da indústria, em temporadas de encarecimento dos meios de vida e de invernos rigorosos, esse sintoma é sempre mais evidente e assume um caráter epidêmico.”

Exemplos dos suicídios na crise: Grécia e os campos de refugiados

A atualidade dessa colocação é expressa nos números revelados pela OMS, que crescem exponencialmente com os avanços dos efeitos da crise capitalista. Na Grécia, por exemplo, são gritantes os efeitos da crise em relação ao aumento de suicídios. Até 2010, o país era classificado pela OMS como um dos que tinha o menor índice de mortes causadas por suicídio, com 6,5 a cada 100 mil habitantes. Em 2011, novo levantamento apontou para uma alta de 40%. A alta está diretamente relacionada aos efeitos da crise econômica e às medidas de austeridade, como desemprego, endividamento, entre outras.

A declaração do ministro de Proteção ao Cidadão à época, presente na matéria da revista Exame citada acima, é de um cinismo escandaloso e, ao mesmo tempo, exemplar sobre como a sociedade capitalista lida com os suicídios que ela própria provoca com a miséria que cria: ele afirmou que a Polícia estava tomando medidas para conter a alta dos casos.

Também o papel da Igreja Ortodoxa, mais de 150 anos depois do escrito de Marx, continua sendo tão reacionário e hipócrita quanto das Igrejas de seu tempo, se recusando a realizar cerimônias fúnebres para os suicidas. Como ele afirmou em “Sobre o suicídio”: “Tudo o que se disse contra o suicídio gira em torno do mesmo círculo de ideias. A ele são contrapostos os desígnios da Providência, mas a própria existência do suicídio é um notório protesto contra esses desígnios ininteligíveis.”

Assim, a religião renega os suicidas e os governos querem fiscalizá-los com a polícia. Não à toa, em muitos lugares e épocas o suicídio, além de incluído na lista dos pecados, se encontrava na lista dos crimes. Hoje ainda existem pelo menos 25 países onde há leis específicas para punir tentativas de suicídio, e 10 países onde se segue a lei da Sharia, que também por punir os que tentam o suicídio. As penas variam de uma multa à prisão perpétua. Não é de pouca importância ideológica a atitude de considerar o suicida um criminoso: ela consiste numa mensagem inegável do Estado ao indivíduo de que a sua vida não lhe pertence efetivamente. Por trás do discurso liberal do capitalismo, a mensagem implícita é que não apenas sua força de trabalho, como também sua vida e seu direito a se privar dela, são propriedades que não pertencem a você mesmo.

Como sabemos, em 2011 a crise grega ainda estava longe de seu ponto culminante, e, por mais que a classe trabalhadora e as massas gregas tenham mostrado sua imensa disposição de luta, com mais de 32 paralisações gerais nacionais, a falta de uma direção à altura fez com que a burguesia imperialista continuasse afundando as massas gregas nos efeitos da crise. As medidas policiais dos governos gregos, portanto, evidentemente não conseguiram impedir que os suicídios continuassem se multiplicando, como no dramático caso de Dimitris Christoulas, aposentado de 77 anos que atirou na própria cabeça na praça Syntagma, em frente ao parlamento grego. Um estudo mais completo do jornal BMJ Open mostrou como as medidas de austeridade estavam diretamente associadas à alta dos suicídios.

As políticas anti-imigração da UE também são responsáveis diretas por uma onda de suicídios e aumentos de doenças psíquicas entre os refugiados, como denunciaram as ONGs Médicos Sem Fronteiras e a Save The Children. Esses casos são a consequência dos campos de refugiados que se assemelham a campos de prisioneiros de guerra, nos quais até crianças de 12 anos tentam se suicidar frente às políticas bárbaras impostas a essas milhares de pessoas pelo imperialismo.

Os operários chineses e os suicídios contra a exploração até a morte

Como no caso grego, em que o suicídio de Dimitris levou a uma onda de protestos, vale lembrar que a Primavera Árabe estourou com o a auto-imolação (suicídio ateando fogo ao próprio corpo). Também na época da escravidão dos povos africanos, não eram incomuns os suicídios entre os negros escravizados como uma das formas de escapar à vida de exploração e violência brutal a que eram submetidos, em uma situação em que se procurava impedir-lhes ao limite a condição de sujeitos de suas próprias vidas; um correlato desses suicídios são as ondas de suicídios de operários chineses, recorrentes para escapar à vida de exploração e miséria que lhes é imposta pelo capitalismo.

Casos recorrentes são registrados na Foxxcon, que fabrica iPhones, mostrando o que se esconde por trás da fortuna construída ao custo de muito sangue pelo celebrado “gênio” Steve Jobs. Espremidos frente à mais brutal exploração das empresas imperialistas e o monstruoso regime da burocracia governamental que os impede de se organizar política e sindicalmente, as ameaças de suicídio tornaram-se também uma forma de lutar por melhores condições de trabalho e salários.

Uma forma, aliás, muito compreensível frente ao fato de que suas condições de trabalho chegam a matar aos milhares os operários por exaustão, como foi com Tian Fulei, cuja vida teve o valor fixado pela empresa e as autoridades chinesas em 80 mil yuans (cerca de 39.800 reais). O caso não é uma exceção: mais de 1.600 morrem de tanto trabalhar por dia na China.

Indígenas

No Brasil, há duas populações em particular cujas taxas elevadíssimas de suicídio atestam a miséria capitalista – tanto no plano econômico quanto de direitos humanos: são os indígenas e as pessoas trans.

Os crimes praticados contra os povos indígenas das américas ainda representam uma história praticamente não contada. São crimes conscientemente ocultados pelos Estados, inclusive o Estado brasileiro, e certamente – provavelmente ao lado do que foi feito aos povos africanos – constituí um dos maiores genocídios da história da humanidade. São 524 anos de crimes impunes contra esses povos, desde os bandeirantes, passando pelos extermínios em massa e remoções forçadas da ditadura, e chegando às atuais violações e massacres dos latifundiários, madereireiros, capangas e policiais, sob a cumplicidade criminosa do Estado brasileiro.

Em 2014, foram 70 casos – excluindo os muitos que devem ocorrer sem registro oficial – de assassinatos de indígenas, quase sempre motivados por disputas para roubar suas terras. A mortalidade entre crianças foi de 785 crianças nesse mesmo ano, chegando a 141,64 a cada mil nascidos entre os xavantes, no Mato Grosso do Sul.

As populações indígenas resistem, a muito custo, mas a brutalidade da vida que o capitalismo lhes impõe cobra preços altíssimos a esses povos, cuja vida é uma guerra cotidiana pela sobrevivência. Ninguém em sã consciência poderia considerar a elevadíssima taxa de suicídios dos povos indígenas, que recai sobretudo em cima dos jovens, cujas perspectivas de vida são extremamente precárias, de forma separada dessas condições de vida. Em 2014, o relatório de violência contra os indígenas apontou 135 casos de suicídio entre os povos de diversas regiões, uma morte a cada três dias, sendo 90% deles entre jovens de 10 a 29 anos. No Amazonas e Mato Grosso do Sul estão concentradas as maiores taxas, com números que representam, literalmente, um extermínio dos povos atingidos: em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a taxa de suicídio é de 33,3% na população entre 10 e 19 anos. Em Tacuru, no Mato Grosso do Sul, o índice foi de 100%. Entre os Guarani, a taxa de suicídios é 30 vezes maior do que no restante da população. Dados coletados entre 2000 e 2005 mostraram que entre os Kaiowá a taxa de suicídios era 19 vezes maior do que no restante da população.

Essa verdadeira barbárie mostra o efeito devastador do cruzamento entre pobreza, racismo, privação de direitos humanos e de condições mínimas para uma vida digna. Todos frutos do capitalismo. Desde o golpe institucional, os ataques aos direitos indígenas, que já eram imensos sob os governos petistas, tiveram carta branca para avançar, com alguns dos mais notórios criminosos vivos contra os povos indígenas, como Romero Jucá, fazendo parte do primeiro escalão do governo.

A barbárie capitalista como fator indutor de suicídio entre os povos indígenas está longe de ser uma realidade exclusiva do Brasil: a própria OMS aponta que povos indígenas nos EUA, Canadá, aborígenes australianos e na Nova Zelândia também possuem taxas de suicídio muito acima da média das populações de seus respectivos países, em especial entre os homens jovens.

Pessoas trans

Entre a população trans a situação é também de níveis absurdos de suicídios e tentativas de suicídios. O mapeamento é muito difícil pois contam-se com dados ainda menores do que em relação aos indígenas, já que o próprio reconhecimento da identidade trans é uma luta atual. Sua cidadania, como a dos povos indígenas ou dos refugiados, é uma quimera. A brutal violência que impera contra as pessoas trans, a marginalização que leva a que 90% dessa população se encontre na prostituição, a cumplicidade do Estado com a discriminação praticada cotidianamente: tal como no caso dos indígenas, a situação de precariedade e marginalização absoluta que o capitalismo reserva às trans é o evidente fator que leva às absurdas taxas de suicídio. A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, enquanto do restantes da população é de 75,2 anos.

A própria falta de registros oficiais dos suicídios (ou de outros dados elementares) referentes às pessoas trans é um atestado inequívoco da violência psíquica, subjetiva e material que o capitalismo pratica contra essa parcela das pessoas. Acompanhamentos dos casos são feitos por grupos de ativistas, de forma militante, como no caso da Rede Trans Brasil, que faz um clipping.

Entre os poucos dados disponíveis no Brasil se encontra a pesquisa “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens trans/transmasculinos”, realizada pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (Nuh) e pelo departamento de Antropologia e Arqueologia (DAA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que pesquisou a população trans masculina nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte e Campinas, que expressou que entre os 28 homens entrevistados, 24 (85,7%) já haviam pensado em suicídio, e 3 (10,7%) nunca haviam considerado a possibilidade de se matar (1 dos participantes não quis responder). 7 (25%) afirmaram já ter tentado se suicidar.

Nos EUA, a ONG National Gay and Lesbian Task Force realizou pesquisa que indicou que 41% das pessoas trans daquele país já tentaram cometer suicídio em algum momento, contra 1,2% da população cis. Uma pesquisa do Instituto Williams de Los Angeles, publicada em 2014, indicou um número semelhante: 41% das pessoas trans tentaram cometer suicídio, contra 4,6% da população em geral. A Universidade de Columbia realizou outra pesquisa em que atesta que entre a população LGBT o índice de suicídios é 5 vezes maior quando comparado à população em geral.

Temos assistido recorrentemente a essa tragédia, com casos que se tornaram conhecidos, como os de Gabriela Monelli, Kayla Lucas França e Leelah Alcorn, entre dezenas de outros. As mensagens de despedida, como a de Leelah, não deixam nenhuma margem para dúvida: a transfobia as matou.

Leelah escreveu: “A vida que teria vivido não vale a pena viver... Pois eu sou trans. (...) Quando eu tinha 14 anos, aprendi o que significava ser transgênero e chorei de alegria. Depois de 10 anos de me sentir confusa finalmente entendi quem eu era. Imediatamente disse à minha mãe e ela reagiu de forma extremamente negativa, dizendo-me que aquilo era uma fase, que eu jamais seria uma mulher de verdade, que Deus não cometia erros, que eu estava errada. Se vocês estiverem lendo isso, pais, por favor não digam isso aos seus filhos. Mesmo que você seja cristão ou seja contra as pessoas transgênero nunca diga isso a alguém, especialmente para o seu filho. Isso só vai fazê-lo se odiar. E é exatamente isso que aconteceu comigo. (...) Essa é a essência de tudo, o motivo pelo qual eu quero me suicidar. Desculpe-me se não há motivo suficiente para você, são motivos suficientes para mim. (...) O único jeito de eu descansar em paz será o dia que as pessoas transgênero não sejam tratadas do jeito que eu fui, quando forem tratada como humanas, com seus sentimentos e direitos humanos respeitados. Gênero precisa ser ensinado nas escolas, quanto mais cedo melhor. Minha morte precisa significar alguma coisa. Minha morte precisa ser acrescida ao número de pessoas transgênero que cometeram suicídio esse ano. Quero que alguém olhe esse número e diga: "isso é foda" e conserte isso. Consertem a sociedade. Por favor.”

E Kayla, cuja mensagem de despedida foi deixada em seu perfil no Facebook e depois apagada pela sua família (que também jamais aceitou sua identidade de gênero), dizia em uma parte: “Como desistir de quem você é? Isso não significa a própria morte? E quantas vezes nós morremos esse mês?”.

O recorte das populações indígenas e trans feito é apenas para exemplificar que, em cruzamento com as causas econômicas estão outros fatores de exclusão, discriminação e preconceito. Entre a população negra poderíamos novamente ver o padrão de predominância se repetir: o Instituto Williams da UCLA apontou que 54% dos casos de tentativas de suicídio ocorrem entre pessoas que se declaram “multirraciais”, o que nos EUA significa quase em sua totalidade os imigrantes latinos e os negros.

Mulheres e as novas e velhas violências do patriarcado

O fato de que o suicídio ocorra predominante entre os homens mascara o fato de que são as mulheres que mais expressam por meio da vontade de morrer a opressão que se abate sobre elas no capitalismo. Nos países ricos, o suicídio é três vezes maior entre os homens do que entre as mulheres, uma proporção que cai para 1,5 homens que se suicidam a cada mulher quando consideramos os países pobres. Contudo, as mulheres tentam se suicidar três vezes mais do que os homens, e também têm uma imensa prevalência de doenças como a depressão.

De fato, há fenômenos sociais recentes de suicídio que mostram como os casos relatados por Marx, de suicídios induzidos pelo machismo e o patriarcado, podem assumir novas formas, mas continuam tragicamente presentes enquanto sobreviver o capitalismo. Um destes é o monstruoso “revenge porn” (pornografia de vingança), em que homens “se vingam” das mulheres com quem se relacionaram divulgando vídeos de atos sexuais, ou fotos nuas, de suas antigas parceiras na internet. Muitas mulheres, em especial adolescentes, acabam se suicidando após a exposição de fotos e vídeos seus nas redes. Assim aconteceu com Júlia dos Santos, 17, do Piauí, e Giana Fabi, 16, do Rio Grande do Sul. Entre os inúmeros casos de tragédias semelhantes, com casos de suicídio de mulheres motivados pela prática do Revenge Porn (cujos culpados nunca são punidos), um dos mais conhecidos é o da italiana Tiziana Cantone. Após ter um vídeo íntimo divulgado, ela virou meme nas redes. Pediu demissão, mudou de cidade, se escondeu do mundo, enfrentando uma profunda depressão. Tentando tirar seus vídeos de circulação, ela abriu um processo na justiça. Foi atendida, mas o Estado determinou a pagar 20 mil euros por custos legais do processo. Ela se suicidou no final de 2016, com 31 anos.

Outro nome que se dá à prática de difundir imagens sexuais sem permissão é “sexting”, que também vem fazendo centenas de vítimas. Estima-se que entre as vítimas dessas práticas 81% sejam mulheres e uma a cada quatro sejam menores de idade. Esses casos, em que o suicídio ou tentativa de suicídio são recorrentes, são uma expressão não apenas do enorme peso do machismo e da misoginia em casos de suicídios femininos, mas também da cumplicidade do Estado. Mônica, que teve vídeos e fotos suas tomando banho divulgadas quanto tinha apenas 14 anos, disse na reportagem acima citada da Geledes: “Recorri à Delegacia da Mulher de Sorocaba. Só que o processo é tão enrolado, tão demorado e burocrático, que você acaba até desistindo. Parece que quanto mais contato você faz em relação a isso, mais próxima (do caso fica) e mais constrangimento sente.”

Contudo, convivendo com as formas “2.0” de machismo e opressão, estão as velhas práticas da violência contra as mulheres, que ainda persistem entre as maiores motivadoras para o suicídio feminino. 35% das mulheres em todo o mundo sofreram algum tipo de violência física por parte de algum parceiro ou desconhecido. Essas violências, especialmente quando sofridas na infância, são com imensa frequência desencadeadoras de depressões e podem levar a suicídios.

A OMS e sua abordagem sobre o tema do suicídio

O primeiro relatório da OMS que abordou exclusivamente o tema do suicídio, “Prevenindo o suicídio: uma imperativa global”, é de 2014. Nele, as Nações Unidas atestam o diagnóstico de 1846 feito por Marx-Peucheut, de que a miséria está em primeiro lugar nas causas de suicídio: 75% deles ocorrem em países pobres. Também afirmam que “o suicídio impacta nas populações mais vulneráveis do mundo e é altamente prevalente entre os grupos já marginalizados e discriminados da sociedade”, num reconhecimento formal de fatos como os que mostramos acima, e que há mais de 150 anos Marx já sinalizava.

Também é assustador constatar que, entre os países pobres, há uma incrível concentração de suicídio na juventude, o que não ocorre nos países ricos. Esse, talvez, seja um dos dados mais alarmantes quando pensamos em termos de suicídio e crise econômica. A geração “nem-nem” – privada da crise tanto do direito aos estudos como do acesso ao emprego – vê um futuro sombrio pela frente, e certamente a possibilidade do suicídio se torna um espectro a sondar a vida de uma geração cujo futuro vem sendo aniquilado pelos ataques, pelos planos de austeridade dos governos capitalistas.

Gráfico extraído do relatório da OMS compara número de mortes por suicídio em milhares (eixo vertical) com idade (eixo horizontal). O gráfico vermelho se refere aos países pobres e médios, e o gráfico cinza, aos países ricos.

Um relatório como esse da ONU não poderia deixar de ser extremamente cínico, já que, como se torna evidente a partir da discussão feita acima, é o capitalismo que implica nos fatores sociais mais evidentes que causam o suicídio (em relação às doenças psíquicas, cujo debate é mais difícil, abordaremos mais à frente). E a ONU é um órgão do imperialismo mundial, responsável direta ou cúmplice das causas apontadas, da miséria, guerras, discriminação, opressões que levam centenas de milhares ao suicídio. Mesmo entre os diversos profissionais sinceros, e verdadeiramente dedicados a combater o suicídio que participam da elaboração do relatório, não poderá haver a indicação de uma saída que discuta efetivamente os problemas estruturantes do aumento ininterrupto e alarmante dos suicídios em todo o mundo.

Uma amostra evidente disso é a forma como classificam os “fatores de risco” para o suicídio. Ao dividir fatores de risco entre “sociais”, “comunitários”, de “relacionamento” e “individuais”, eles apontam como um dos fatores “sociais” mais relevantes o acesso a meios materiais para cometer suicídio. Por isso, suas indicações são, por exemplo, dificultar o acesso aos meios que possa utilizar um suicida a tirar sua vida. Um exemplo é o das mulheres chinesas no campo, um dos locais onde o suicídio é mais recorrente entre mulheres do que homens. De acordo com a lógica da OMS, o acesso a pesticidas está entre os fatores de risco: a primeira causa de morte não-natural entre mulheres de 15 a 35 anos é o autoenvenenamento por agrotóxicos. Assim, a primeira recomendação da OMS para prevenir o suicídio é a restrição aos meios com os quais as pessoas costumam se matar.

Por outro lado, incluem entre os fatores “individuais” elementos como perda de emprego e dificuldades financeiras, uso abusivo de álcool e doenças mentais. Assim, de forma flagrantemente ideológica, de acordo com as noções de uma agência de saúde capitalista, o desemprego, a pobreza, o alcoolismo e as doenças mentais são problemas “individuais”, e não sociais. Portanto, cabe aos governos atuar proibindo o acesso a pesticidas, mas nunca garantindo o pleno emprego. Aliás, entre as medidas indicadas em seu relatório, a OMS inclui pontos como induzir a responsabilidade social da mídia (para que não noticie “irresponsavelmente” suicídios), mas não menciona uma palavra sobre emprego, moradia, salários dignos. O único serviço público mencionado é o acesso à saúde e políticas para saúde mental.

Essa lógica da medicina capitalista para a prevenção de suicídios parte, na verdade, da naturalização da busca pela morte (pois, afinal, naturaliza a sociedade capitalista e, nas palavras de Marx “está na natureza de nossa sociedade gerar muitos suicídios”), e a tentativa de impedir que as pessoas realizem o desejo de morrer. O que cabe ao governo é “dificultar o acesso” aos meios materiais para executar o suicídio, e, quanto aos indivíduos, que se esforcem para não ficar desempregados ou terem doenças mentais (problemas que seriam de sua responsabilidade, e não do Estado).

É, na realidade, a mesma lógica do ministro grego que pretendia prevenir o suicídio com a atuação policial, ou dos moralistas religiosos que querem coibir a prática prometendo o inferno ou a proibição de cerimônias religiosas para os suicidas. Em uma sociedade em que a vida é tão horrível para as pessoas, a solução que o capitalismo dá é tentar dificultar seu acesso à morte. Não há um questionamento sobre porque é tão horrível ser uma mulher jovem chinesa no campo que elas massivamente procurem se suicidar: a solução é tirar os meios de suas mãos.

Nos lembra mais uma vez a monstruosa empresa fabricante dos iPhones, a Foxconn, que para impedir os sucessivos suicídios de seus funcionários instalou redes de segurança para impedir que eles se matassem se jogando dos prédios. Ainda mais bizarro, os funcionários passaram a ser obrigados a assina uma espécie de acordo de não-suicídio para poder trabalhar na fábrica, afirmando que “em caso de ferimento não-acidental (incluindo mutilação e suicídio)”, o funcionário concorda que “a empresa agiu corretamente e de acordo com as leis e regulamentos pertinentes e que não irá tomar medidas legais que poderão prejudicar sua reputação ou normas operacionais”.

Por mais bizarro que pareçam as atitudes da Foxconn, não deixam de ser – tal como é a exploração dos trabalhadores nas fábricas chinesas – apenas uma hipérbole do que constitui a principal orientação da OMS para a prevenção de suicídios: tirar os meios das mãos dos suicidas. Isso se refere, em primeiro lugar, à continuidade da lógica que leva essas pessoas a buscar o suicídio: a privação de sua condição de sujeitos diante de sua própria vida.

Outra recomendação da OMS bastante ligada a essa visão é a de proibir a divulgação de casos de suicídio para evitar a influência de novos casos. Isso é o que determina, por exemplo, o ocultamento de casos de suicídio no metrô, que só em São Paulo extrapolam a média de um por mês, pelo menos. As redações das mídias estão todas de acordo com isso. De acordo com a OMS, o comportamento midiático que “sensacionaliza” o suicídio aumenta o risco de novos casos “por imitação”. Mais uma vez, não se trata de questionar, nem por um segundo, porque alguém veria um outro caso de suicídio e disso concluiria que é uma boa ideia, ou uma forma acessível de realizar o desejo de morte, sendo assim influenciada. Para a ONU essas são “não-sujeitos”, que simplesmente assistem a um suicídio alheio e imitam, sem refletir ou desejar nada por si mesmas.

O relatório da OMS os trata como “pessoas vulneráveis” (“vulneráveis por que?” é a pergunta que são incapazes de responder ou formular). Entre os comportamentos que consideram irresponsáveis por parte da mídia, estão a divulgação “gratuita” de suicídios de celebridades, exibir fotos ou informações sobre métodos utilizados ou “normalizam o suicídio como uma resposta aceitável para uma crise ou adversidade”. Além de nos legarem vidas de miséria e privação, de exploração e opressão, ainda querem por meio dos técnicos de saúde da ONU, nos doutrinar a respeito do que é uma “resposta aceitável” ou não diante da existência a que nos submetem. Tal como os padres que condenavam ao inferno os suicidas pecadores.

Infelizmente, esse tipo de visão é hegemônica, e influencia inclusive as pessoas que têm ideações suicidas, ou que já tentaram se suicidar. A visão biologizante ao mesmo tempo culpabiliza o indivíduo (são seus neurotransmissores “defeituosos” os culpados por sua depressão ou vontade de se suicidar), e o anula enquanto sujeito. Retomaremos isso ao tratar das depressões. Mas, cabe uma observação (também a ser desenvolvida em outro texto) de que a recente polêmica que tomou as redes sociais em torno da série “13 reasons why” em grande medida se estrutura nessa visão hegemônica. As pessoas depressivas ou suicidas deveriam evitar a todo custo assistir a série porque seria um “trigger” – termo que se tornou popular para referir-se a um desencadeador afetivo relativo a episódios traumáticos. Tal visão se pauta no desprovimento das pessoas de capacidade crítica ou afetiva própria.

Como no caso do metrô, são “bonecos” prontos a serem empurrados para cá ou para lá afetivamente, sem inclusive poderem decidir por si próprias se estão aptas ou não a fazerem essa ou aquela experiência com uma obra de arte. Para evitar o conflito psíquico, se recorre ao expediente do esvaziamento das experiências, pois os “suicidas em potencial” são psiquicamente “frágeis demais” para essa ou aquela experiência. É o tabu do suicídio retornando de seu recalque social, com a nova roupagem que a OMS lhe deu. A “romantização” ou “glamourização” do suicídio cumpriria o papel de empurrar à morte, e não todos os problemas que previamente deixaram a pessoa em tal condição que supostamente um seriado poderia ser a gota d’água. A série, como a “mídia irresponsável”, apresenta o suicídio como uma “resposta aceitável” (diante do que o senso crítico do “espectador suicida” viraria fumaça).

O fundamento dessa visão é (além da responsabilização individual e desresponsabilização do Estado) a concepção da medicina capitalista quanto às causas do suicídio, que discutiremos mais profundamente ao tratarmos das doenças psíquicas, mas que se refere a acreditar que os suicidas “não sabem o que fazem”, que estão tomados por uma espécie de descontrole bioquímico de suas atitudes que os leva a se matarem impulsivamente. São desresponsabilizados como sujeitos, e responsabilizados bioquimicamente (individualmente, isentando as responsabilidades sociais).

Assassinatos ou insubmissão?

Sim, é evidente que muitos suicídios são feitos de forma impulsiva. Mesmo porque, em última instância, não é o desejo de nenhum suicida o de não viver. Pelo contrário, consideramos, como Marx, que, de forma distorcida, é o amor pela vida que leva tantos a decidirem frequentemente acabar com uma “existência detestável”. Ao pensarmos em todos os fatores aqui levantados, como a crise e o desemprego, a exploração do trabalho a níveis letais, o roubo de terras e privação de direitos, a transfobia e a discriminação ou a dominação patriarcal, podemos afirmar que são todas condições que privam não apenas as pessoas de uma vida digna, mas que às levam à situação-limite de não serem sujeitos, efetivamente, de suas próprias vidas. De estarem privadas materialmente da possibilidade de viverem de acordo com pretensões mínimas de liberdade e dignidade. São reiteradamente, dia-a-dia, empurradas à uma sobrevivência que é, de fato, uma “existência detestável”. E, como disse Kayla em sua despedida: “Como desistir de quem você é? Isso não significa a própria morte? E quantas vezes nós morremos esse mês?”.

Nessas situações extremas, não é um exagero dizer que o suicídio é, também, um ato de insubmissão. Frente à impossibilidade de ser sujeito em sua própria vida, o indivíduo torna-se sujeito de sua própria morte, decidindo que é melhor morrer do que viver, dia após dia, sujeitado. O gesto dos escravos que se suicidavam para não servir a seus senhores, dos operários chineses ameaçando a morte ou se suicidando para não mais viver com aqueles salários e condições, são exemplos desse último grito. Cartas como a da jovem Leelah, que antes de morrer deixa o apelo “consertem a sociedade. Por favor” deixam claro, sem meias palavras.

Olhando pelo outro lado, poderíamos dizer que esses suicídios de que tratamos são, de fato, assassinatos. Representam a cruel inviabilização de que suas vítimas gozem de suas vidas, a sua condução a becos sem saída em que a impotência para mudar a situação, sob o peso das engrenagens do capital, de seus Estados, seus preconceitos e opressões se torna tamanha que a única perspectiva plausível aos que se encontram nessa situação seja a morte auto infligida. Sem dúvida, em cada ato desses reside um pouco das duas faces dessa moeda: um assassinato praticado pelo capitalismo, e um ato de rebeldia contra sua tirania.

O que se trata, frente a essas mortes, é de lutar por uma nova sociedade, em que a vida não seja um fardo insuportável que não vale mais à pena carregar, mas sim uma experiência plena, em que cada um possa se fazer sujeito de suas ações, desejos e identidades, e ser de fato livre. No texto seguinte dessa série trataremos das doenças psíquicas e da forma como a sociedade capitalista as trata.

 
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