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VENEZUELA
Apesar do recuo de Maduro a tensão continua com marchas e apelos às forças armadas
Milton D’León
Caracas

Esta terça-feira, foram realizadas marchas em Caracas e outras cidades, que escancararam a crise nacional, mas em que nem o governo nem a oposição representam os interesses dos trabalhadores e do povo pobre.

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As marchas desta terça-feira, tanto da oposição quanto do chavismo, correspondem ao aumento da tensão política, que teve um “salto” na semana passada, quando o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) emitiu duas sentenças, anulando a imunidade dos parlamentares e atribuindo as competências da Assembleia Nacional ao próprio TSJ e ao presidente Maduro. Uma medida política da qual o governo de Maduro teve de retroceder, expressando sua maior debilidade.

É que, com tais sentenças, o chavismo acabou desatando uma crise maior e, inclusive, avivando forças políticas que ainda não tinham se manifestado, pelo menos publicamente, e difíceis de controlar. Não somente pelas ações que a oposição, no plano nacional, e o direitismo continental podem levar a cabo em sua busca por maior ingerência, mas principalmente pelo que desatava no interior do chavismo e, mais ainda, dentro da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB).

Na tentativa de descomprimir ainda mais, essa terça-feira, Maduro falou pela primeira vez sobre a realização de novas eleições, embora adiantando que estas eleições seriam para o próximo ano. Até recentemente, Maduro não cogitava convocar eleições em um futuro próximo, chegando a afirmar que “quando houver eleições, que o CNE [Conselho Nacional Eleitoral] as convoque, não sei quando, em que ano...”, mas, essa terça-feira, o presidente venezuelano afirmou que “no próximo ano, haverá eleições, e nós vamos descasca-la”, referindo-se à oposição e convidando-a a se preparar para a disputa, sem precisar se seriam eleições regionais e/ou presidenciais.

Mas, apesar de recuar, buscando evitar que a situação saia de controle, apesar das novas políticas para distensionar, já não é possível, para o governo, que a situação volte aos níveis do começo da semana passada. Ainda que, por um momento, possa parecer que a situação tenha se descomprimido, isto não é nada mais que a aparência de uma situação mais agitada, que continua se desenvolvendo e que pode percorrer caminhos ainda mais convulsivos.

A força e o significado das marchas da oposição e do chavismo

A marcha que a oposição organizou essa terça-feira não se caracterizou por sua massividade, em comparação com a mobilização de 1º de setembro, caso se avalia esta última considerando os níveis da tensão política de então, mas sim caracterizou-se pelos violentos níveis de repressão à mesma. É que apesar de, por um lado, a oposição ter mostrado “músculo” eleitoral, como se observou nas últimas eleições para a Assembleia Legislativa e nas pesquisas de intenções de voto, por outro, a oposição experimenta aquilo que alguns analistas qualificam como “um profundo problema de credibilidade” e pouca capacidade de pôr em ação grandes mobilizações contínuas nas ruas. Tudo indicava que a dinâmica da oposição continuaria a mesma, mas não foi isso o que se viu na marcha de terça-feira.

A marcha do governo tampouco se caracterizou pela massividade, apesar dos alardes do chavismo, mas isto já se observa há muito tempo, por causa dos baixos níveis de popularidade de Maduro. Apesar de contar com todo o apoio da parafernália de Estado e de se mobilizar sem restrições e sem correr o menor risco de repressão, o pessoal do alto escalão já não é capaz de voltar às épocas da “maré vermelha”, pois pesam a frustração e a desmoralização de um povo que, embora inda possa ter referência em Chávez, vem sendo fortemente golpeado pela profunda crise econômica do país, que chega à níveis catastróficos.

A oposição saiu às ruas para rechaçar aquilo que chama de “golpe de Estado” contra a Assembleia Nacional, e levantando que Maduro “se vá”, em meio ao recrudescimento da tensão política. A manifestação da oposição, à qual aderiram milhares de pessoas, foi dispersada em distintos pontos, como a avenida Libertador e a principal rodovia de Caracas, a Francisco Fajardo, pela ação das forças de repressão do Estado, quando tentavam chegar à sede da Assembleia Nacional, em apoio à destituição de sete magistrados do Tribunal Supremo. Os choques violentos deixaram 7 policiais feridos, segundo diversas fontes, além disso, pelo menos 9 manifestantes foram feridos, segundo informou o prefeito do município de Chacao, Ramón Muchacho, integrante da oposição. Para a oposição, segundo o deputado e dirigente do Primero Justicia, Freddy Guevara, a marcha da oposição terminou “exitosamente”, mesmo não podendo chegar à sede da Assembleia Nacional, como se tinha previsto.

Da manifestação do chavismo também participaram milhares de seus seguidores e dirigentes do governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), chegando aos arredores da Assembleia Nacional, encabeçando a marcha o deputado Diosdado Cabello e outros parlamentares. Maduro, que não esteve presente na marcha, manifestou, como já é típico, que “do Norte, foi dada uma ordem à direita fascista, derrotada, da Venezuela, de encher as ruas da Venezuela de violência e de sangue; hoje, tentaram, de maneira fracassada, encher as ruas de Caracas”, e saudou a manifestação chavista, que terminou próximo à Assembleia Nacional para, segundo o partido do governo, “neutralizar” as “tentativas de golpe de Estado” que, afirmam, a oposição pretende dar.

Os chamados à intervenção das forças armadas na crise do país

Mas não faltaram, nos discursos da oposição, o apelo às forças armadas. Julio Borges, presidente da Assembleia Nacional, voltou a declarar, assim como Capriles na semana passada, que “o papel da FANB é ser os herdeiros do exército libertador ou os guarda-costas de Maduro. Está na hora de as FANB defenderem a Constituição e a democracia”, uma clara intenção de uma saída de caráter militar à crise política, que não se pode ler de outra maneira além de que os militares tomem as rédeas da situação.

Os fortes rumores de que, além da pressão que exerceu o Fiscal Geral da República, afirmando que a declaração do TSJ rompia o fio constitucional, a pressão pode ter vindo também das próprias forças armadas, que, durante os dois dias mais críticos, não fez pronunciamento algum, é o que leva a oposição a insistir em seus chamados aos militares. Se a pressão do Fiscal, uma primeira fissura pública dentro do chavismo, que é claro e notório que não atuou isolada, já disparou alguns alarmes, algo público no mesmo sentido por parte das FANB abriria uma crise de proporções inesperadas.

Atualmente, as forças armadas constituem um dos pilares fundamentais sobre os quais se sustenta o governo de Maduro, mais ainda depois que o chavismo perdeu as eleições parlamentares, e sobretudo na disputa aberta de poderes existente. Por isso, transformaram-se no fiel da balança em relação a qualquer saída política que se dê ao país. Ao mesmo tempo que Maduro redobra seus apelos à unidade e lealdade das FANB, o MUD também multiplica seus chamados aos militares, como fizeram Capriles, Julio Borges, entre outros, em recentes declarações.

Como temos dito desde o começo, a situação política pode ter uma escalação ainda maior. Nesta situação, tanto o governo quanto a oposição tentarão continuar movimentando suas forças com seus chamados a mobilizações, em função de seus próprios interesses e não os do povo. Opinamos que os trabalhadores e o povo nada têm a ganhar de um nem de outro setor, e devem lutar por uma política independente em função de suas demandas fundamentais.

Como nós da LTS [Liga dos Trabalhadores pelo Socialismo, seção venezuelana da Fração Trotskista (FT-QI)] propomos, na situação imperante “É necessário lutar por um plano operário de emergência e por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana onde a maioria da população, composta pelos trabalhadores e os setores populares, decida sobre os grandes problemas estruturais do país, como a nacionalização do petróleo sob controle operário contra os planos privatistas e a luta contra a ingerência imperialista.”

Pode estar interessado: Declaração da LTS frente a crise atual: Nem o governo nem a oposição representam os interesses dos trabalhadores e do povo pobre.

 
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