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EMORY DOUGLAS NO BRASIL
Emory Douglas visita o SINTUSP a convite da Secretaria de Negras e Negros do sindicato
Letícia Parks

Durante alguns dias deste mês e devido à sua exposição no SESC Pinheiros, o artista e militante do Partido dos Panteras Negras, Emory Douglas, esteve no Brasil e aceitou o convite da Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP para compartilhar um pouco de sua experiência estética e militante. Saiba aqui um pouco sobre esse grande artista.

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Quem é Emory Douglas e porque sua visita emociona tantos negros nos dias de hoje

Emory Douglas é um artista que durante seus primeiros anos de produção e descoberta estética, dedicou todo seu trabalho a alimentar a propaganda política do Partido dos Panteras Negras. De acordo com o próprio artista, suas obras visam "representar a realidade mais crua das negras e negros, que quando vêem suas obras, reconhecem a si mesmos, aos seus avós, parentes e vizinhos, e começam a conseguir ver a si próprios como heróis, como protagonistas".

imagem: acervo Emory Douglas (1972)
A importância de seu trabalho na fase mais dura de enfrentamento com o Estado norte-americano foi fundamental, servindo como um forte mecanismo agregador entre as negras e negros que passavam a se ver como parte dos materiais políticos de um partido pela primeira vez em suas vidas, em um Estado onde os negros, se não diretamente eram proibidos de votar, poderiam ser mortos apenas por entrar na fila de um colégio eleitoral.

imagem: Emory denuncia o fascismo estatal pela figura de Nixon (1973)
Fundadores dos Panteras Negras, como Bobby Seale e Huey P. Newton citam Emory Douglas em seus trabalhos, pela sua influência política na leitura das massas, que passavam a compreender melhor determinados termos políticos através de sua arte, e também pela sua perseverança, como um artista que se colocou desde muito cedo na luta contra o racismo e o capitalismo e na denúncia da relação entre os políticos e as grandes cooporações capitalistas, demonstrando o interesse econômico que há por trás do racismo.

imagem: acervo Emory - relação entre corporações e o Estado Capitalista (1974)

A Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP e a importante visita de Emory

Há mais de 2 anos que a Secretaria vêem trabalhando dentro efora dos muros da USP para promover debates entre os próprios trabalhadores sobre a importância da unidade das fileiras operárias, um elemento fundamental do combate ao racismo, que sempre em grande medida para dividir os trabalhadores e garantir que entre nós tenhamos inimigos. O racismo enfraquece o conjunto da classe operária e faz da vida dos negros, muitas vezes, uma sequência de fatos intragáveis, de uma miséria sem fim.

Ter promovido também a ida de Emory significou se apoiar num grande exemplo de combate ao racismo que foi o Partido dos Panteras Negras, que em grande medida se apoiou no combate ao capitalismo e, portanto, à burguesia, para organizar massas de trabalhadores negros contra o capitalismo e o racismo. Era parte constante da política desse Partido mostrar que nos EUA os negros eram o alvo do gatilho fácil da polícia, mas que em todo o mundo os povos oprimidos experimentavam a mesma vida dura que os negros norte-americanos, fazendo parte do mesmo momento em que figuras como Muhammad Ali- um herói de qualquer Pantera Negra - se recusou a servir ao exército norte-americano na guerra do Vietnam (1966).

Houveram momentos de colocar lágrimas nos olhos durante essa visita de Emory à Universidade de São Paulo, uma das mais racistas, misóginas e hipócritas universidades da América Latina. Dentro da Universidade que semi-escraviza mulheres negras, Emory lembrou como os Panteras, apesar dos defeitos da mentalidade da época, concentravam dentro de si aqueles que lutavam também pela igualdade salarial e de oportunidades das mulheres, contra a violência de gênero, e como dentro das fileiras desse Partido, um homem jamais poderia agredir uma mulher ou um companheiro trabalhador. Lembrou também como os Panteras vieram em grande medida de dentro das universidades, de jovens negros que se recusaram a ser os "exemplos" de meritocracia que o capitalismo adora e decidiram tornar-se revolucionários.

Lembrou de Mumia Abu-Jamal, que segue preso, fruto da repressão política do Estado semi-fascista norte-americano. Que segue em uma grave situação de Hepatite C, que nos presídios norte-americanos é praticamente uma sentença de morte, visto que os presos são proibidos de receber o tratamento medicamentoso, que se aplicado, daria uma margem de cura de 94% a 98%. Os presos que não recebem tratamento, em geral, morrem, fazendo com que Abu-Jamal possa ser mais um dos ativistas anti-racismo mortos pelos Estados-Unidos.

imagem: Emory homenageia os tombados pela repressão estatal (1976)

Lembrou também que nossa luta não acabou. Que a população negra norte-americana descobriu a farsa que havia por trás de Obama e que agora se levanta contra o racismo que não acabou desde a luta pelos direitos civis. Lembrou que em tempos de #BlackLivesMatter, é preciso gritar pelos quatro cantos do mundo, contra a xenofobia europeia, contra a brutalidade policial no Brasil, contra palhaços como Trump, que as vidas negras importam em qualquer lugar do mundo, e que estamos dispostos a provar isso com arte, com arte-arma, e com toda força necessária.

 
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