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USP
O corporativismo das elites na USP - resposta a Folha e Estadão
Patricia Galvão
Diretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil
Willian Silva

Os editoriais dos principais jornais de São Paulo mais uma vez tratam da USP, a maior universidade do Brasil. E como já não é novidade, tratam também de fazer coro com o discurso de austeridade usado tanto pelo reitor da USP, Marco Antonio Zago, quanto pelo próprio governo golpista de Michel Temer. Se Temer, para fazer com que os trabalhadores paguem pela crise econômica, lançou a PEC 55 chamada PEC do fim do mundo, pois congela por 20 anos os investimentos em saúde e educação, o reitor da USP pretende, na reunião do Conselho Universitário (órgão máximo deliberativo da USP), aprovar a PEC do fim da USP, uma série de propostas reacionárias que inclui o fechamento de mais de 5 mil postos de trabalho, sem, no entanto, tecer uma linha contra os supersalários e os contratos milionários com empresas privadas.

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Se confiarmos no que diz a reitoria e a mídia, o orçamento da USP estaria integralmente (ou quase) comprometido com sua folha de pagamento. Porém, nem a Folha, nem o Estadão e muito menos a reitoria dizem que quase 25% dessa folha de pagamento são de servidores inativos (aposentados). Ou seja, a USP tem pago o que é e responsabilidade da previdência, ou seja, do governo. É preocupante que o Estado se exima das suas responsabilidades, enquanto se responsabiliza os trabalhadores. Estadão e Folha parecem esquecer esse detalhe.

Não é a primeira vez que Folha e Estadão atacam a universidade pública. Em editoriais passados já chegaram a defender a cobrança de mensalidades, e incentivar as parcerias público-privadas. Onde mora a desonestidade intelectual? Ambos os jornais falam de responsabilidade com o público e com a sociedade que sustenta as universidades. Até aí, poderíamos aplaudir a decência desses jornais em defender que as universidades tenham responsabilidade e direcionem suas pesquisas à sociedade que as sustentam, Porém, ingenuidade a parte, esse discurso manjado vem seguido de uma lógica elitista e privatista. Nem Folha, nem Estadão estão comprometidos a denunciar que as parcerias público-privado direcionam a pesquisa para seus interesses, que nada tem a ver com os interesses sociais, e são muito mais lucrativas para as empresas que participam que para a universidade. Neste artigo que publicamos aqui mostra que a pesquisa da USP a garantiu o primeiro posto em pesquisas cosméticas. Salvo engano nosso, isso não é nem de longe a prioridade da sociedade.

Por falar em desonestidade, também não são citados em nenhum editorial que o problema da USP também passa por supersalários e acúmulos de cargo. Afinal, o próprio prefeito do campus, que já foi também responsável pelo escandaloso caso do solo contaminado na EACH, o senhor Osvaldo Shigueru Nakao, embolsou mais de meio milhão de reais, o equivalente a metade do orçamento anual de todas as creches da USP juntas, capital e interior, ao aderir ao PIDV (Plano de Demissão Voluntária), que ele próprio idealizou, e de quebra ainda aumentou seu salário de um dos cargos que ocupa, passando dos 22 mil reais de remuneração. Nos soa pouco honesto que a grande mídia não se atente ao fato de que uma ínfima burocracia que controla e administra a USP seja também a que mais se privilegia dela, seja através de contratos de empresas privadas que são suas ou de parentes, seja com pagamentos acima do teto permitido.

Por que mais verbas para as universidades? A verba das universidades está vinculada ao repasse do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Essa verba é hoje de 9,57%, sendo 5,0295% destinados à USP. Primeiramente, essa verba é ligada à arrecadação, ou seja, ela é variável. No momento de retração do consumo as universidades deixam de receber milhões de reais, o que na prática significa que é a educação a sofrer as consequências da crise. De acordo com a Adusp (Associação de docentes da USP) mesmo esse cálculo, de 9,57%, não é repassado, pois na conta toda o governo estadual desconta a quota da habitação e da nota fiscal paulista, e esse desconto já são ao menos meio bilhão de reais a menos para as universidades nos últimos dois anos. Mas, quando alcançou a autonomia a quota do ICMS repassado para as universidades deveria ser de 11,6%, ou seja hoje o repasse está um quinto abaixo disso. Só que desde os anos noventa até o hoje a universidade se expandiu, com os campi da EACH (Zona Leste), Lorena, o número de estudantes mais que dobrou enquanto o número de funcionários pouco mudou. O crescimento da universidade não foi seguido pelo aumento de verbas.

Brigar por mais verbas para educação, e assim para as universidades, está longe de ser uma demanda corporativista como acusam os jornais. A USP hoje concentra uma minoria da sociedade. O vestibular da fuvest que seleciona os ingressantes tem todo anos mais de cem mil inscritos, 136 mil só este ano, para menos de 9 mil vagas. Ou seja, todo ano mais de cem mil pessoas são excluídas. A luta por mais verbas para as universidades públicas é, para nós, parte de nossa luta contra o lucro dos monopólios de ensino, pela estatização do ensino privado e pelo fim do vestibular, ou seja, por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, e aberta a essas centenas de milhares de jovens. O enxugamento da USP proposto pela reitoria e com o qual fazem coro os jornais, significa fechar creches e restaurantes universitários. Ou seja, excluir da USP estudantes pobres e mães! É a permanência estudantil a primeira a ser atacada, deixando claro que não é uma luta corporativista, mas sim o que Folha e Estadão defendem é uma universidade cada vez mais elitista.

O corporativismo é das elites! Afinal, a demissão de servidores dará lugar a terceirização, como já acontece nos bandejões. Significa um exército de trabalhadores sujeitos a precarização e baixos salários. Quem lucra são os donos das empresas terceirizadas, diga-se de passagem, os mesmos que pertencem à uma pequena casta de burocratas acadêmicos que compõe o Conselho Universitário da USP. Não está nada confortável a situação dos trabalhadores da USP, sujeitos à precarização, como já denunciado várias vezes aqui sobre os trabalhadores dos restaurantes universitários, e ao arrocho salarial numa época de inflação na casa dos 12%.

Para proteger uma pequena casta acadêmica encasteladas na reitoria e nos órgãos de poder da USP, os jornais Folha e Estadão, sambam na cara do trabalhador, querendo nos fazer pagar por uma crise criada pelos patrões. Para isso nos oferecem desemprego, arrocho e precarização. Aos estudantes, os poucos que conseguiram furar o filtro social do vestibular, deve-se esperar mais ataques a permanência. Afinal o corporativismo das elites tá liberado!

 
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