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ECONOMIA
Dólar valorizado, saída de capitais e commodities: futuro do Brasil com Trump?
Daphnae Helena
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Crescimento negativo do PIB, desvalorização do real, taxas de juros elevadas, diminuição no fluxo de capitais combinado com desemprego, programas de demissões e endividamento das famílias estão no horizonte da economia brasileira. Com a eleição de Trump para os Estados Unidos e uma mudança na política econômica com o dólar forte devido ao estímulo fiscal e a restrição monetária, coloca-se como tendência para os países da América Latina a diminuição dos fluxos de capitais, o aumento do custo da dívida e impactos nos preços da commodities. Fatores que levarão a um aprofundamento da crise que estamos vivendo.

Uma péssima notícia para o governo golpista, já que as previsões otimistas para uma recuperação econômica estão indo por água abaixo. Dados do Valor mostram que pela primeira vez em mais de quatro anos, a receita líquida de 278 grandes empresas apresentou queda nominal de 3% na comparação com o período julho-setembro do ano passado, para R$ 335,3 bilhões. Trata-se do maior rombo no faturamento desde o início da desaceleração chinesa e os efeitos da crise no Brasil.

Essa vem sendo a tônica dos noticiários econômicos da última semana. O movimento de desvalorização do real que ocorreu dois dias após o resultado das eleições dos Estados Unidos, longe de ser um elemento pontual da economia, como apontou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, vem se demonstrando como uma tendência real e persistente: ontem o câmbio fechou a 3,40 sem a intervenção do Banco Central. A expectativa de retomada do crescimento, que em agosto desse ano (logo após ao golpe) era de ocorrer crescimento já no terceiro trimestre de 2016, foi postergada pelos analistas para o ano que vem, e ainda com diversas ressalvas.

O impacto de uma política de dólar forte para a economia brasileira é grande. A possibilidade de saídas de capitais do Brasil para os Estados Unidos coloca um entrave para a diminuição da taxa de juros brasileira. Ao mesmo tempo, o aumento da taxa de juros no centro do sistema preocupa pelo nível de endividamento das empresas e dos estados brasileiros.

O dólar valorizado já torna a dívida mais cara; taxas de juros maiores incrementam o problema para as empresas com dívidas dolarizadas. Isso fez com que as empresas nacionais mostrassem um descontentamento uníssono com a "lentidão" dos ajustes de Temer depois do triunfo de Trump. Boa parte da percepção dessa "lentidão" se refere às dificuldades de passar toda a austeridade com políticos tão questionados (tanto que o discurso da "antipolítica" foi avassalador nas eleições). É muito provável que a eleição de Trump, com as perspectivas imediatas negativas para a recuperação, torne ainda mais amarga a relação do empresariado com a base de Temer - o que poderia se converter num apoio mais claro ao avanço da Lava Jato.

Neste ano, foi realizada uma pesquisa com 600 empresas brasileiras não financeiras endividadas, que representam 56,2% da dívida privada no país, entre elas estão grandes empresas como Petrobrás, Vale, Odebrecht, JBS, CSN, Gerdau, Cosan, CPFL, Oi e Eletrobrás. Os dados analisados pelo Ibmec mostram que desde 2010 estas empresas possuem dificuldade de gerar receita suficiente para garantir o pagamento das suas despesas financeiras, ou seja, os juros de suas dívidas.

Além disso, em 2016, houve o crescimento da dívida externa das empresas de capital aberto, ou seja, o aumento da dívida não se deu somente pela desvalorização cambial, mas também porque essas empresas adquiriram novas dívidas em moeda estrangeira durante este ano. Tanto a desvalorização do câmbio, como o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos colocam uma tendência de aprofundamento desse endividamento em empresas importantes e que estão entre as maiores exportadoras do país (por exemplo Vale, Petrobrás, JBS).

Uma política de reestruturação dessas empresas para o pagamento das dívidas, a exemplo do que a Volkswagen anunciou durante essa semana, significará para os trabalhadores fechamento de unidades e programas de demissões, deixando milhares de famílias sem emprego.

A dinâmica internacional em relação a produtos importantes que o Brasil exporta como a soja e o petróleo também preocupa. No caso da soja, o principal destino das exportações brasileiras é a China, que representa 75% das vendas para o exterior. Isto faz com que a produção brasileira seja altamente dependente das flutuações do mercado chinês e da política chinesa. Ao mesmo tempo, existem concorrentes de peso em relação a esse produto como Estados Unidos, União Europeia, Canadá, entre outros que também podem impactar as vendas e a produção brasileira. Qualquer flutuação do ponto de vista da demanda deste produto ou mesmo dos preços (com uma produção que seja alimentada por outros Estados) impacta o Brasil.

No caso do petróleo, hoje os preços estão se recuperando, mas o barril cotado em outubro de 2016 a U$S 49,74 está longe dos U$S 112,93 que chegou a atingir o preço do barril em janeiro de 2013. A eleição de Trump preocupa nesse caso, porque nos Estados Unidos há a produção xisto e uma política de redução de impostos para estimular essa produção poderia levar a maiores impactos para o Brasil.

Estas duas commodities são um exemplo da volatilidade do cenário para o próximo período, que pode impactar o preço das commodities no mundo e com isso piorar as exportações brasileiras.

A preocupação aumenta quando vemos que os estados brasileiros que estão endividados, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais estão entre os principais estados exportadores brasileiros e possuem como principais destinos o Estados Unidos e a China. No caso do Rio de Janeiro o petróleo representa quase metade das suas exportações, a trajetória de queda do preço do petróleo já vem impactando a receita estadual com os royalties, mas um componente deixa a situação ainda mais crítica porque o estado se endividou dando como garantia receitas futuras advindas do petróleo. No caso do Rio Grande do Sul a soja representa cerca de 30% da sua exportação, sendo este estado o terceiro maior produtor de soja do país e em Minas Gerais o minério de ferro representa cerca de 30% e o café torrado 15% da sua pauta exportadora.

Estes elementos reafirmam o caráter dependente da economia brasileira das principais potências imperialistas do mundo e da economia chinesa. A dinâmica de economia internacional possui fortes impactos na economia brasileira. Frente a isso, os economistas burgueses aprofundam os seus clamores para se passar rapidamente as reformas em pauta (PEC dos gastos, reforma da previdência e reforma trabalhista) além do plano de infraestrutura prometido pelo presidente Michel Temer, que na prática significa a privatização de setores da infraestrutura para gerar crescimento.

No Rio de Janeiro a juventude e o funcionalismo tem mostrado que querem resistir aos ajustes e isso tem complicado os planos do pacote de austeridade de Pezão. A luta desses setores se puderem se desenvolver como um verdadeiro plano de luta ligado aos ataques também de Temer pode fazer desse estado um caminho para todo país. Justo ali onde está se desenvolvendo um dos piores cenários econômicos atuais e mais sombrios se essas tendências aqui apontadas se desenvolverem, pode ser um exemplo de como impedir que os trabalhadores paguem pela crise.

 
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