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CASO ELIAS | Opinião: Quando a "meta" fica acima do ser humano

sexta-feira 3 de abril de 2015 | 00:01

Foto: EFE

Nesta quarta-feira, o Corinthians enfrentou o Danúbio Azul pela Libertadores e apesar da vitória, o que chamou a atenção foi um caso de racismo que ocorreu contra o jogador Elias. Apesar de no momento que foi ofendido ele ter reagido prontamente, tirando satisfação com o jogador que o ofendeu, em nome do resultado e da produtividade calou sua voz.

Infelizmente não calou apenas a sua voz, mas a de vários outros negros que se calam todos os dias em nome de promoções, em nome de receberem oportunidades em projetos, em nome de manterem seus empregos, em nome de não se indispor com os colegas e amigos, enfim, por medo.

Elias provavelmente também sentiu esse medo, sua reação evidenciou sua indignação, mas ele abriu mão de se manifestar, de sua voz, e infelizmente não parou por aí, pois no intervalo do jogo, foi até o jogador uruguaio e tentou cumprimentá-lo, por duas vezes, mas foi ignorado.

Porém ao não combater essa manifestação racista do jogador uruguaio, abre espaço para o medo na mente de vários outros negros. Explico: assistindo a reação de Elias, o que pensa o trabalhador comum? Se o Elias, que teve gravada a ofensa contra ele, que foi testemunhada por 38 mil pessoas (além dos outros 20 jogadores), além dos espectadores que assistiam ao jogo pela TV, possui advogados ao seu lado e toda uma infraestrutura da qual eu nem imagino, se sentiu de mãos atadas contra isso e engoliu, mesmo que a seco e a contragosto, essa ofensa, o que posso eu fazer contra as ofensas veladas, as pichações nos banheiros, os sussurros no ouvido, as insinuações, as piadas ou até mesmo contra as ofensas diretas e nojentas?

Além de sua postura ao tentar dar a mão ao jogador que o ofendeu ter demostrado erroneamente qual atitude deve ser tomada: abaixar a cabeça, focar no resultado e cumprimentar nossos agressores, os redimindo de toda a culpa. A reação perfeita, que para o sistema, todo negro deveria dar.

Nós, trabalhadores, devemos nos organizar para combater todas as formas de opressão, sejam elas racistas, machistas, homofóbicas ou gordofóbicas, mas quando as vítimas se sentem silenciadas, como devemos responder? Tenho certeza que não é "focando no resultado profissional". Todo apoio ao Elias (jogador que eu admiro muito) e a sua família, que ele possa soltar a sua voz, pois através dela poderão falar milhares de negros que hoje tem seus gritos de raiva e de clamor por justiça, calados.


Temas

Futebol    Racismo    Negr@s



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