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MINISTRO DA EDUCAÇÃO | Weintraub faz piada com morte de paciente por COVID-19

Ministro da Educação fez tweet debochando do relato de um dos médicos intensivistas em Guayaquil, Equador, que havia perdido a sua sogra e paciente, em meio à epidemia da Covid-19.

quinta-feira 23 de abril de 2020 | Edição do dia

Foto: UOL.

O Médico, com muito pesar, deu um depoimento sobre como foi perder um ente querido, mesmo com seus esforços: “Minha sogra foi minha paciente. Ela morreu, e eu não pude fazer nada”. Em seu tweet, o ministro colou o título de uma reportagem com a frase e comentou “mais uma morte suspeita...”.

O médico de cujo relato Weintraub zombou se chama Stenio Cevallos, chefe de UTI de um hospital em Guayaquil, no Equador. Ele deu seu depoimento à repórter Flávia Mantovani, onde narra um pouco o que foram esses últimos dias em meio à pandemia:

Atendi o caso zero no país, no fim de fevereiro. Desde então, têm sido dias muito duros. Perdi 7 kg. Minha vida mudou, como profissional e como pessoa. Sou intensivista há 30 anos, já fui chefe de várias UTIs ao mesmo tempo, eu levava isso bem. Mas agora estou deprimido.

Nossa UTI está lotada, todos os 19 leitos ocupados por pacientes graves com Covid-19. A taxa de mortalidade do paciente intubado e com ventilação artificial é de mais de 80%. Significa que de dez, só sobrevivem dois. Imagine você perder todo dia três ou quatro pacientes com os pulmões totalmente brancos, sem conseguir respirar.

Minha sogra foi minha paciente. Minha segunda mãe. Ela faleceu. Saiu uma vez só, para ir ao supermercado. E nunca tossiu, tinha febre, mal-estar, achamos que fosse dengue. Ficou grave, foi intubada e em cinco dias morreu. Sou o chefe da UTI e não pude fazer nada. Isso foi muito forte para mim.

Vi amigos morrerem. Só aqui em Guayaquil, mais de 70 médicos faleceram. Dos 16 profissionais da minha equipe, 15 adoeceram, com sintomas leves. O contágio intra-hospitalar é muito alto, apesar dos equipamentos de proteção. Você tem contato íntimo com seu paciente e, no caso da UTI, é tudo fechado, com ar-condicionado. No restante do hospital, você ainda pode abrir uma janela, circular o ar.

No meu hospital, um funcionário de atendimento ao cliente e um garçom da cafeteria morreram. Tinham 38 anos, eram saudáveis. É uma grande mentira dizer que só velhos ou pessoas com outras doenças morrem.

No Brasil, a situação dos profissionais da saúde não é menos desesperadora. Por todo país se fortalecem manifestações de trabalhadores efetivos e terceirizados que têm atuado na linha de frente contra o coronavírus.

Em Minas Gerais, governado por Romeu Zema (NOVO), enfermeiras e enfermeiros protestaram na frente do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, por plenos direitos para poderem salvar vidas.

Faltam equipamentos adequados e os profissionais do grupo de risco não têm direito à licença remunerada para não serem expostos à contaminação, uma vez que a carga viral dentro dos hospitais é superior que em outros locais.

No Hospital Universitário da USP faltam testes para os funcionários, além de haver de haver resistência, por parte da diretoria, em afastar os profissionais que fazem parte do grupo de risco.

O governador do estado, Joao Doria (PSDB), se recusou a fazer novas contratações para o Hospital, obrigando os trabalhadores a se desdobrarem e cumprirem uma jornada extenuante, que acaba por enfraquecer a sua defesa imunológica, os tornando propensos ao vírus.

No Amazonas, governado por Wilson Miranda (PSC), quase 100% dos leitos de UTI estão ocupados. A prefeitura de Manaus decidiu comprar contêineres para colocar os corpos das vítimas, enquanto também não há máscaras e nem EPIs suficientes.

Para o Ministro da Educação, Weintraub, tudo isso não passa de uma grande piada.




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