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OPINIÃO | ’Voto sim’: discurso do Deputado Capitão Augusto, vitória dos justos?

Fundador e presidente de honra do Partido Militar Brasileiro (PMB), em fase de coleta de assinaturas para legalização, Capitão Augusto é Deputado Federal pelo PR/SP e defensor de pautas reacionárias como a redução da maioridade penal. Tendo votado SIM pelo impeachment no último domingo, o deputado em seu discurso saudou a Polícia Militar de São Paulo, clamando por honestidade e moralidade.

quinta-feira 21 de abril de 2016 | Edição do dia

Em seu discurso na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o deputado Cap. Augusto falou em honestidade e moralidade, e homenageou a Polícia Militar. Mas quais são suas pretensões políticas? Com quem está aliado?

Capitão Augusto é natural de Ourinhos/SP, e foi eleito como Deputado Federal pela primeira vez em 2014, pelo Partido da República (PR). É ex-oficial da Polícia Militar de São Paulo (PMESP) e hoje está na reserva, já que a Constituição não permite a filiação partidária de militares na ativa.

O PR apoiou a reeleição de Dilma Rousseff em 2014, mas apesar disso, Cap. Augusto declarou seu apoio e do PMB à candidatura Pastor Everaldo, do Partido Social Cristão (PSC). Tal fato escancara a séria limitação da política de conciliação de classes do PT, que ao dar as mãos para a direita, é arrastado por ela.

O PSC é o partido de figuras como Marco Feliciano, Jair Bolsonaro (eleito pelo PP, mas que agora compõe o PSC) e seu filho Eduardo Bolsonaro, representam o que há de mais retrógrado na política e na sociedade. Seguem atacando os direitos LGBT’s – com o Estatuto da Família e o combate ao que chamam ’ideologia de gênero’ contida em materiais educativos – e a juventude negra e pobre das periferias, defendendo arduamente propostas como a redução da maioridade penal e ’melhores’ condições de trabalho para policiais militares – ou seja, ’melhores’ armamentos e equipamentos para ’melhor’ reprimir.

Através de declarações preconceituosas e até mesmo criminosas, instigam o ódio e a violência fascistas e, não à toa, grupos neo-nazistas reverenciam a imagem de um possível Bolsonaro presidente em 2018.

Partido Militar Brasileiro – Uma “nova” ARENA para os reacionários

Em entrevista, Cap. Augusto não esconde as origens do partido. Diz que a nova sigla é assumidamente de direita, sendo originária da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido criado em 1965 para dar sustentação à Ditadura Militar. Em seu site, o PMB declara que é a “solução para endireitar o país”, e que é “100% democrático” - em contradição explícita com a referência ao regime que perseguiu, prendeu, torturou e matou milhares de opositores.

Idealizado em 2011, a sede nacional do PMB está localizada em Ourinhos/SP, e possuem diretórios em diversos estados e municípios do país. Em uma de suas cartilhas apresentam o histórico sobre militares na política brasileira, fazendo referências que vão de Duque de Caxias à “contrarrevolução de 1964”.

Foto: Luis Philipe Souza/iG São Paulo – 13.03.16

A principal bandeira do partido é da ’segurança pública’. Defendem a redução da maioridade penal, liberação do porte de armas e a instituição da prisão perpétua, clamando por uma “retomada da ética e de valores como o patriotismo, civismo, honra e honestidade, dentre outros cultuados pelas Instituições Militares”. Ex-oficial da PMESP, Cap. Augusto já declarou em vídeo que circula em suas redes sociais que é contra a desmilitarização da PM – e o que será que ele não diria sobre o fim dessa instituição!?

Em outro vídeo também postado nas redes sociais e no site do PMB-RJ, é lançada a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (outro filho de Jair Bolsonaro…) à prefeitura do Rio de Janeiro, pelo PSC, e Flávio agradece o “apoio fundamental do PMB” para que isso se concretizasse. Mantendo a linha proto-fascista, o perfil do PMB-RJ também traz a imagem de Jair Bolsonaro presidente.

Olhar para a história

As referências contidas nos discursos reacionários de Eduardo e Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Eduardo Cunha e muitos outros na votação do impeachment, reverenciando genocidas e torturadores que vão de Duque de Caxias ao Coronel Brilhante Ulstra, passando pelas forças armadas e instituições militares, somam-se às homenagens de Cap. Augusto à PM de São Paulo, uma das que mais matam no mundo.

Orgulho bandeirante

A cidade de Ourinhos é cortada pela Rodovia Raposo Tavares, nome que homenageia um dos bandeirantes mais conhecidos por suas “façanhas” no desbravamento do interior, na época da colonização. Tratados pela história oficial como heróis, por séculos os bandeirantes perseguiram e brutalizaram aldeias indígenas e quilombos, reprimiram revoltas e com suas tropas ajudaram a garantir a manutenção do poder imperial no século 19. Das 18 estrelas contidas no brasão da PMESP, a primeira é referente a 15 de dezembro de 1831, data de criação da Milícia Bandeirante.

Circulando de farda no Congresso, Cap. Augusto é herdeiro direto destes que exterminaram milhares de índios e negros em seu caminho. Ao lado de reacionários como os Bolsonaro, bancada evangélica, da bala e ruralistas, impõem sua política de repressão ao povo pobre, às mulheres e juventude das periferias, às LGBT’s, aos sem-terra, aos indígenas e quilombolas.

Contra a direita e os filhotes da ditadura, contra a conciliação de classes

A política de conciliação de classes do PT nestes tempos escancara suas limitações e expõem o setores mais fragilizados e precarizados a estes verdadeiros abutres, que por muito tempo foram base de sustentação do governo. Nossos direitos não podem ser rifados em nome de uma suposta governabilidade, que se dissolve em momentos de crise como o que vivemos. A saída para a classe trabalhadora deve estar centrada em nossas próprias forças.




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