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CORONAVÍRUS | Venezuela: escassez de gasolina, pandemia e sanções imperialistas

A escassez de gasolina ocorreu em um dos piores momentos da Venezuela, embora que, há alguns anos já tenha se tornado crônica, principalmente no interior do país. Agora chegou em Caracas, com fornecimento geralmente normal. Esta situação está afetando não apenas o transporte de mercadorias para as cidades ou as centrais de abastecimento, mas também a própria produção agrícola, que é altamente dependente de combustível.

sexta-feira 10 de abril de 2020 | Edição do dia

A maioria dos postos de gasolina está fechada e há enormes filas de carros nos poucos que continuam em operação. Em muitos locais, os motoristas são confrontados com uma mobilização de militares e policiais que os informam que apenas veículos de serviços essenciais serão abastecidos. Está em vigor um plano de racionamento implementado pelo governo Maduro.

A crise aguda da gasolina já estava às portas quando a quarentena começou, foi essa circunstância imprevista que permitiu que o surto fosse adiado em algumas semanas e até diminuísse relativamente o seu impacto. Se o fluxo normal da atividade do país e a demanda correspondente de combustível tivessem sido mantidos, a situação hoje seria muito pior. Mas ainda é dramática.

Em teoria, os trabalhadores da saúde são um dos setores prioritários para o abastecimento de seus veículos. No entanto, é comum ver queixas de médicos e trabalhadores do setor de que eles precisam gastar longas horas para conseguir abastecer, e às vezes não conseguem. O pessoal da saúde pode ter que dedicar um tempo equivalente a meio dia de trabalho, ou mais, para poder abastecer o veículo.

A corrupção dos responsáveis ​​pelo controle de combustível, isto é, a polícia e os militares, acrescenta problemas à situação. Aumentam as reclamações sobre os privilégios para os que pagam a propina, em dólares, é claro. Esse novo "negócio" pode fazer com que alguém de um setor prioritário (saúde, transporte de alimentos, produção etc.) não consiga chegar ao seu destino. Atualmente circulam vídeos nos quais pequenos agricultores do interior expressam angústia pela perda precoce da colheita, também são vistas quantidades de vegetais apodrecendo devido à falta de combustível para transportá-los até a cidade.

Entre a destruição do PDVSA e as sanções imperialistas

As sanções imperialistas se agravaram e se tornaram mais permanentes, especialmente aquelas voltadas para ao setor petroleiro à PDVSA. A mais severa das sanções foi executada pelos Estados Unidos em janeiro do ano passado, sobre o embargo ao petróleo, até então sem precedentes para a Venezuela. Além disso, as sanções proíbem a exportação para a Venezuela de diluentes que a PDVSA utiliza no processamento de petróleo pesado e extrapesado, e limitam o comércio de títulos da empresa. Isso significa que a produção de petróleo no próprio país pode continuar caindo. Da mesma forma, derivados de petróleo não podem ser exportados ou importados dos Estados Unidos, como a gasolina.

A PDVSA já se encontra em uma grande crise dentro do território venezuelano – devido às sanções, Citgo, uma das filiais da petroleira, foi confiscada pelos Estados Unidos -, com seus níveis de produção caindo em níveis só comparáveis aos de 1940. Se em 2012 se produziam por volta de 3 milhões de barris diários, hoje está muito abaixo de 1 milhão de barris, levando a fortes quedas nos fluxos de caixa.

A escassez de combustível começou muito antes das sanções, devido à diminuição do refino na Venezuela, que tem uma capacidade total de 1,3 milhões de barris por dia (bpd) de processamento cru. As principais refinarias do país se encontram em crise, justamente pela falta de investimento adequado. Uma situação levada pelas políticas de Maduro, que optou em priorizar o pagamento da dívida externa e os credores internacionais, quando esses fundos eram necessários para manter uma indústria que já previa sua queda após os baixos preços do petróleo, no início de 2004.

Ao que se acrescenta o enorme saque da renda do petróleo ao longo de uma década e meia, por meio de uma fuga de capital que ele colocou no exterior em contas privadas, uma cifra fabulosa que varia entre 400 e 500 bilhões de dólares. Resultado indireto dos planos de Chávez de colocar a renda nas mãos de uma hipotética "burguesia nacionalista e produtiva" para "desenvolver" o país e a corrupção voraz que cresceu sob essas políticas.

Atualmente, é difícil conhecer realmente o nível de refino devido ao alto nível de sigilo do governo Maduro, já que ele não publica números oficiais.
Mas, de acordo com um relatório da Reuters, "a PDVSA refinou apenas 101.000 bpd de petróleo em março, segundo um documento interno da PDVSA visto pela Reuters, aumentando a dependência do país atingido pela crise das importações". Especificando que “A grande maioria disso foi para produzir diesel e combustível de aviação. As refinarias produziram apenas 7.000 bpd de gasolina, de 91 octanas, em março, e 28.000 bpd nos três primeiros meses do ano. As refinarias de El Cardón (de 310,000 bpd) e de Puerto la Cruz (de 187,000 bpd) permaneceram completamente fechadas.

O papel criminoso das imposições de Trump

O impacto da política dos EUA, que, para atingir seu objetivo de tirar Nicolás Maduro do poder, estendeu suas sanções às operações da PDVSA, exacerbando as dificuldades. Para compensar a queda na capacidade nacional de refino, o governo venezuelano optou nos últimos meses por importar gasolina em troca de petróleo, principalmente através da russa Rosneft.

Mas Donald Trump decidiu golpear ainda mais forte em meio à pandemia, em uma ação verdadeiramente criminosa, aumentando o cerco para estrangular a economia do país já colapsada. Os Estados Unidos forçaram a Rosneft a encerrar suas operações na Venezuela, embora seus ativos tenham sido transferidos para uma empresa do governo russo. Dessa forma, para contornar as sanções, foi então fechada.

Com um quarto da população mundial em quarentena, a demanda de petróleo despencou na mesma proporção que o preço do barril, que caiu para US$ 16 o preço petróleo bruto do país, menos do que custa a produção para a Venezuela. Nesse contexto, o objetivo de Trump é causar os danos mais altos possíveis.

À medida que o imperialismo aprofunda o estrangulamento da economia, também realiza operações militares perto do país com a "operação antidrogas do Caribe" e a acusação de "narcoterrorismo" contra Maduro e autoridades de alto escalão da burocracia estatal, com uma oferta de recompensa (como no Panamá, em 1989). Tudo aponta para atingir mais a Venezuela com provocações militares em um ano eleitoral, embora uma intervenção militar seja improvável. A tarefa de Trump não será fácil, porque não será simples ele se fingir de guarda humanitário em um país estrangeiro, com as mais de 100.000 mortes esperadas nos Estados Unidos, devido à negligência com que seu governo abordou a emergência.

Devido às sanções, à Venezuela não pode comprar gasolina no exterior. Se não conseguir encontrar quem comprará seu petróleo, a Venezuela terá dificuldade em encontrar quem lhe venderá gasolina. Segundo a agência Reuters, desde o final de 2019, as autoridades americanas pediram a maioria dos fornecedores de combustível da Venezuela para evitar o envio de gasolina ao país. Segundo fontes desta agência jornalística, "Na última rodada de telefonemas entre autoridades americanas e empresas de petróleo no início de março, eles reiteraram a proibição, apesar do agravamento das condições humanitárias no país".

A escassez já é perceptível, não apenas nas estradas e cidades do país, mas também nas estatísticas. Segundo dados internos da PDVSA e da consultoria RefinitivEikon citados pela Reuters, até a última semana de março, a Venezuela havia importado apenas 90.417 barris de gasolina por dia, longe dos 165.000 de janeiro e fevereiro.

Em meio à pandemia causada pelo coronavírus, a Venezuela é considerada pela Organização Pan-Americana da Saúde como uma das mais potencialmente vulneráveis ​​da região, e trabalhadores de centros médicos e hospitais relatam que sem a gasolina e com o transporte público em quarentena, é impossível chegarem ao local de trabalho.

Mas outro dos grandes problemas é a comida. Segundo o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, um terço da população venezuelana estava em situação de insegurança alimentar, mesmo antes da pandemia.

Com a dificuldade da falta de gasolina, o transporte de alimentos é altamente afetado. Mas não é só isso: tudo o que move a produção agrícola: a irrigação, a fumigação, entre muitas outras coisas, são ativadas com gasolina ou diesel. Se continuar escasso, é outro colapso de origem para o plantio e a colheita.
Agricultores e pecuaristas começaram a relatar problemas no transporte de seus produtos para os mercados, e teme-se que a colheita de vários produtos seja prejudicada pelo problema da gasolina.

A oposição de direita continua apoiando todas as sanções que impôs ao país, e ainda mais nestes tempos de pandemia de coronavírus, sendo cúmplice e parte dessa política criminal. O que expõe sua demagogia de pedidos de "ajuda humanitária".

Em meio à crise, os trabalhadores precisam levantar seu próprio programa. Abaixo às sanções imperialistas

Uma das primeiras medidas de emergência ante a falta de gasolina é a exigência imediata pelo fim das sanções ao país. Se essas ações imperialistas foram repugnantes antes desta emergência, hoje são extremas, porque, no meio do atual surto e da crise humanitária da magnitude que está gerando, torna-se urgente lutar por seu fim. Não é Maduro que eles afetam, é o povo venezuelano que, se já está sofrendo uma das maiores calamidades como resultado da catástrofe econômica, agora está à beira de que o sofrimento chegue a extremos se a produção agrícola e de alimentos, bem como o transporte de mercadorias está paralisado, ameaçando uma fome real.

Juntamente com essa medida, os trabalhadores devem exigir a centralização completa de toda a indústria de petróleo e combustível, mas que esteja sob o controle dos trabalhadores, reorganizando toda a produção e refino de acordo com as grandes necessidades da maioria da população, e que não continue nas mãos da burocracia civil-militar corrupta e anti-operária, que durante todo esse tempo privilegiou seus interesses sobre os do povo.

Desde Liga dos Trabalhadores pelo Socialismo, foi proposto um programa de emergência inteiro para enfrentar a atual crise. No geral, são medidas de um programa específico para trabalhadores e pessoas pobres para enfrentar a pandemia, defender o direito à saúde e à vida e se posicionar como sujeito ativo e ator-chave da situação, para evitar que isso signifique um aprofundamento da catástrofe social e de saúde que já estamos sofrendo.




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