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BRUMADINHO | Vale assassina: empresa sabia de defeito em sensores da barragem dias antes do rompimento

Em trechos dos depoimentos dados à Polícia Federal pelos engenheiros responsáveis por laudos de estabilidade da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, evidencia-se, a partir de troca de emails, que a empresa sabia ao menos dois dias antes do rompimento de defeitos em sensores da barragem B1. A Vale nada fez para assegurar a vida de seus trabalhadores.

quarta-feira 6 de fevereiro de 2019 | Edição do dia

Segundo informações acessadas pela TV Globo, uma troca de emails entre profissionais da mineradora e de duas empresas responsáveis pelas auditorias de segurança da barragem rompida dia 25 de janeiro demonstra que, ao menos dois dias antes do rompimento, a Vale já sabia da existência de problemas em sensores de monitoramento automatizado da estrutura.

A PF não chegou a revelar o conteúdo literal dos emails, mas nos trechos revelados dos depoimentos dos engenheiros da empresa TÜV SÜD responsáveis pelos laudos de estabilidade da barragem de brumadinho, André Jum Yassuda e Makoto Namba, as perguntas do delegado evidenciam que o conteúdo das mensagens “diz respeito a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10/01/2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 (cinco) piezômetros automatizados.”

Segundo a reportagem, as trocas de mensagens relacionadas à segurança da barragem B1 entre profissionais da mineradora e funcionários da TÜV SÜD e da Tec Wise (outra empresa contratada pela Vale) ocorreram entre os dias de 23, às 14h38, e 24 de janeiro, às 15h05.

Portanto, a Vale sabia das leituras defeituosas e do não funcionamento dos sensores. Mesmo assim, a mineradora não orientou a evacuação imediata da planta. Mais uma confirmação da responsabilidade dolosa da Vale frente aos pelo menos 150 mortos e 182 desaparecidos. O rompimento da barragem da Vale é mais um crime capitalista que escancara que as empresas voltadas apenas a sua sede de lucros não dão a mínima pela vida de seus trabalhadores, terceirizados e efetivos, e de todas as pessoas das comunidades no entorno de suas atividades.

Namba em seu depoimento insiste que soube dos dados e defeitos dos sensores apenas após o rompimento da barragem. O delegado, após ler as mensagens para o engenheiro, chega a questioná-lo sobre “qual seria sua providência caso seu filho estivesse trabalhando no local da barragem".

O engenheiro responde que "após a confirmação das leituras, ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do PAEBM [Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração] para as providências cabíveis".

É explícito que os erros descritos nos emails eram graves e que a empresa deveria ter tomado imediatamente as providências para salvar a vida de seus trabalhadores e terceirizados. Não as toma pela lógica produtiva capitalista que prioriza a maximização dos lucros de maneira completamente independente das possíveis implicações da sua atividade exploratória.

No depoimento, Namba deixa claro que sentiu-se pressionado a assinar a declaração de estabilidade da barragem da Vale em uma reunião com a empresa. Segundo ele um funcionário da Vale o perguntou se a TÜV SÜD iria “assinar ou não a declaração de estabilidade” e ele teria respondido que “assinaria o laudo se a Vale adotasse as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de 2018”. Mesmo assim, Namba assinou o documento, tendo sentido que a frase do funcionário da Vale era “uma maneira de pressionar o declarante e a TÜV SÜD a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato”.

Os laudos da vistoria da estrutura realizados em dezembro de 2018 não apontavam falhas na segurança, mas a barragem se rompeu no mês seguinte. Essa “tragédia” evidencia o esquema corrupto e criminoso realizado pelos grandes empresários, em conluio com governantes, que manipula laudos para obter todos os licenciamentos necessários para a manutenção de seus interesses.

Contra a manutenção deste sistema produtivo assassino da atividade exploratória da mineração no país, batalhamos por uma campanha de solidariedade operário e popular junto à organização pela base sindical, universitária e de organizações ambientalistas, que lute pela estatização das mineradoras sob gestão dos trabalhadores e controle da população local. Que a vida dos trabalhadores e da população esteja acima dos lucros dos capitalistas. Que as riquezas de Minas Gerais sirvam aos interesses do povo e dos trabalhadores, ou seja, de quem produz.




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