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Em 2015, presenciamos o protagonismo das mulheres nos principais processos de luta, tanto contra a opressão machista, quanto nas lutas contra a exploração dos patrões e do Estado. As greves de professoras, os atos e manifestações contra o PL 5069 de Eduardo Cunha e contra os ajustes do Governo Dilma e Alckmin, as jovens mulheres secundaristas na linha de frente das ocupações contra a reorganização escolar, significou um florescer da luta das mulheres contra a opressão, uma verdadeira primavera feminista!

sexta-feira 11 de março de 2016 | 15:04

A mesa formada buscou expressar as principais lutas e tarefas das mulheres dentro e fora dos portões da USP. Sob a mediação de Babi Dellatorre, trabalhadora do HU e membra da Secretaria de Mulheres, participaram Marcela Peters, da Comissão de Creche Mobilizada, Nani Figueiredo, trabalhadora da Creche Oeste, Paula Vieira, enfermeira do Centro de Saúde Escola Butantã (CeseB), Vilma Maria, trabalhadora do bandejão e do grupo de mulheres Pão e Rosas e Luana Nardi, estudante secundarista da escola Fernão Dias e uma das mulheres linha de frente das ocupações estudantis contra a reorganização escolar de Alckmin.

Desde a mesa foi expressado o direito das crianças e das mães às creches, que vem sendo duramente atacada pela reitoria, com o fechamento da creche do HU (Hospital Universitário) e de vagas nas creches Oeste e Central.

Paula Vieira lembrou a luta das mulheres negras, das condições desiguais e opressoras que pesam sobre os negros e negras do país, desde desigualdade salarial entre as raças e os gêneros e a violência policial.

Vilma afirmou de forma categórica que o trabalho precarizado nos bandejões e o trabalho terceirizado na limpeza são “Fábricas de doenças”, denunciando o avanço da terceirização, a falta de contratações de funcionários e a própria precarização da vida em razão das condições de trabalho.

Em vídeo gravado, Jo, ex-trabalhadora da Higilimp, agora da Gramaplan, lembrou que neste 8 de março, dia internacional das mulheres, o que mais gostaria é de um salário digno para viver.

O avanço da terceirização, denunciado pelas trabalhadoras, mostra que a própria reitoria é aquela que favorece casos como o da HIGILIMP , que não paga salários em prol do favorecimento de empresários.

O desmonte da universidade está intrinsicamente ligado ao aumento da precariedade da vida, trabalho e estudo de estudantes e trabalhadoras: exames ginecológicos escassos ou mesmo inexistentes, fechamento de creches, ataques à permanência estudantil, falta de funcionários, assédio moral e sexual.

Babi Dellatorre lembrou que o reitor Zago tem uma gestão machista que fecha creches, acoberta os estupros no campus e ataca diversos direitos das mulheres. Também denunciou que o projeto USP Mulher, ligado ao ONU Mulher e financiado por empresas privadas, é uma tentativa de cooptação das mulheres e não uma resposta ao machismo. A resposta à opressão das mulheres não pode ser dada pelas empresas e reitoria que lucram com o trabalho doméstico realizado gratuitamente por um exército de mulheres. Nem através de convencer os homens, no plano das ideias, como propões Eva Blay. É preciso crias condições materiais para que exatamente todas as mulheres possam escolher sobre o destino de suas vidas. E somente a classe trabalhadora possui um projeto coletivo de mudança.

Luana Nardi, secundarista da escola Fernão Dias, lembrou do importante salto de consciência que a luta trouxe entre os estudantes para o combate à opressão. Linha de frente dos atos contra a reorganização contou sobre a luta contra o conservadorismo no espaço escolar e o surgimento de diversos coletivos feministas desde as ocupações. A luta secundarista inspirou e inspira as trabalhadoras que participaram de um intenso debate com Luana.

Simony Anjos, trabalhadora da FFLCH, teve uma amiga morta, ironicamente no dia 08 de março. Leu o relato abaixo:

Acabo de saber que uma garota, que era conhecida de alguns amigos meus, foi assassinada hoje, no dia da mulher. Não há detalhes, mas tudo indica que foi "passional". Que ironia da vida, ser assassinada no dia internacional da mulher. Entende porque não queremos flores? Entende porque estamos com raiva - e porque temos razão? Entende que não é mais uma data comercial para lotar lista de restaurante? É sobre direito à vida e liberdade de dizer não a um homem sem ter que morrer por causa disso...
Há muito o que fazer, quer nos presentear? Pare de dizer que é MIMIMI o que é feminicídio, o que é misoginia e o que é machismo.
Vá em paz querida, que não precisa de nome, pois ela é cada uma de nós

Resoluções do encontro

Dentre as principais resoluções do encontro constam a defesa do aborto legal, seguro e gratuito garantido pelo SUS e também a garantia de assistência à saúde em todos os sentidos às mães e crianças, especialmente diante do escândalo dos casos de microcefalia no país. O posicionamento crítico contra os ajustes do governo e o avanço da direita, contra a reforma previdenciária e trabalhista de Dilma, como a PL 4330, que afeta especialmente às mulheres pois avança na terceirização, e o aumento da idade mínima de aposentadoria das mulheres.

Reafirmaram o posicionamento pelo fim da terceirização e do trabalho precário com efetivação imediata dos trabalhadores terceirizados sem concurso público. Pela reabertura imediata da creche do HU e abertura das vagas ociosas nas creches da USP. Ampliação das vagas e contratação de funcionários para atender todos os filhos dos trabalhadores efetivos e terceirizados e estudantes da USP.

O Encontro também se posicionou contrário ao programa USP Mulheres, que lançou a campanha "Elas sempre podem", sem no entanto questionar o machismo institucional ou oferecer qualquer alternativa às mulheres, ao contrário, tenta cooptar parte do movimento feminista na USP.

Reforçaram também a necessidade de um duro combate contra assédio mora e sexual nas Unidades da USP, a homofobia, o machismo e a transfobia. O respeito ao nome social e à circulação de mulheres e homens trans em todos os espaços da Universidade.

A orientação geral foi de um giro às bases através de impulsionar atividades nas unidades relacionadas as opressões e questões das mulheres.

Somos Todas Geiza

O encontro foi finalizado com uma comovente homenagem à Geiza Martinez, trabalhadora da seção de alunos de Letras da FFLCH, assassinada há um ano pelo ex-namorado. Com a presença das irmãs e da sobrinha de Geiza, no vão no prédio da História e Geografia, estudantes e trabalhadores gritaram o nome de Geiza mais uma vez. Vítima de feminicídio, morreu no dia 16 de março de 2015.

Patricia Galvão, trabalhadora da FFLCH lembrou: “Hoje somos, mais uma vez, todas Geizas. Mas nossa luta é para que amanhã sejamos todas livres”.




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