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segunda-feira 9 de fevereiro de 2015 | 07:00

Nathália de Souza, ingressante do curso de pedagogia das Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI – Região Oeste de São Paulo), foi queimada com ácido por estudantes veteranos, sofrendo lesões graves nas duas pernas e no umbigo no dia 02/02. Em tratamento pelas queimaduras de terceiro grau, a jovem de 17 anos está amedrontada e pensa em desistir da graduação. Esse caso inacreditável é um entre inúmeros no cenário de matrículas das universidades em todo país.

Através dos trotes, violentos em todos os níveis, estudantes ingressantes em geral são coagidos, assediados, agredidos e até mesmo torturados. Mas o que fica expresso com as denúncias e a análise das ocorrências é que as mulheres são a maioria mais brutalmente afetada. O próprio caso de Nathália, os relatos de estudantes da PUC-Sorocaba na ALESP em 29/01 e os estupros nas faculdades de medicina da Unicamp e USP reafirmam isso. O que emana nesse cenário é o senso comum machista, no qual as mulheres são tidas como a posse dos estudantes veteranos, devendo servi-los e sendo expostas à humilhações e agressões físicas e psicológicas.

As bases que sustentam o trote e a violência machista na universidade

Na primeira entrevista aos jornais e meios de comunicação da Internet a FAI alegou que a agressão contra Nathália "aconteceu fora das dependências da instituição", buscando se esquivar dos respingos desse caso inaceitável. As reitorias da Unicamp e da USP, bem como alguns professores, tentaram abafar os casos de estupro que estouraram nas faculdades de medicina em Campinas e em São Paulo, nos anos de 2013 e 2014. Um dossiê "arquivado" foi encontrado pelos estudantes na ocupação da reitoria da Unicamp em 2013, ele revela altos índices de violência nos Campi, envolvendo professores como maiores estatísticas.

A postura das reitorias é completamente conivente e legitimadora dos atos de violência e trotes. Desde a sua omissão anual em relação a tais atos, até suas raízes opressivas, que se expressam em universidades alicerçadas na desigualdade, como a institucionalização do machismo pela via da terceirização/precarização do trabalho e da vida de milhares de mulheres, como a miséria curricular na qual a luta das mulheres, dos LGBT*s e dos negros não entra etc. O próprio desprezo acerca dos direitos das trabalhadoras e estudantes mães que não dispõem de creche para seus filhos, negligenciando a urgência da construção/ampliação, ou indo além como vemos neste momento na USP o cerco se apertar com a redução de vagas na creche. Todos esses fatos escancaram o projeto de universidade restrito que os reitores e professorado do “alto escalão” tem a oferecer às mulheres.

As entidades e estudantes devem ser sujeitos na luta contra os trotes

Sob a pressão da mídia a FAI abriu um processo de sindicância para averiguação do ataque à Nathália. Os estudantes envolvidos nesse ato de horror contra a jovem devem ser expulsos da universidade e responder pela atrocidade que cometeram. No entanto, uma resposta real aos trotes e casos de violência machista, bem como aos problemas estruturais, só poderá vir da organização das mulheres e dos estudantes oprimidos junto às entidades e o próprio movimento estudantil. Devemos exigir algumas medidas das instâncias burocráticas, diretorias e reitorias, como a própria expulsão em alguns casos, mas não podemos depositar nenhuma confiança aí, mas apenas em nossa organização e luta.

No ano em que “cortes de gastos” é a frase da vez nas universidades estaduais e federais, a luta por nossos direitos e a defesa dos oprimidos deve ser a bandeira a estar na linha de frente das calouradas e recepção dos estudantes ingressantes na volta às aulas, contra os atos repugnantes advindos dos trotes calados e consentidos pelas reitorias!




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