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ESTRATÉGIA | Um debate com os companheiros do NOS no RJ: a situação exige clareza na luta contra o golpe, e não amálgamas

sexta-feira 29 de abril de 2016 | Edição do dia

A situação nacional aberta com a possibilidade cada vez mais concreta de um golpe institucional, através do impeachment, é um verdadeiro divisor de águas na esquerda. Desde que essa questão se colocou no cenário nacional através da Lava Jato e da condução coercitiva de Lula, a desorientação sobre quais posições se deveria adotar tomou a maioria das organizações da esquerda. As mais graves expressões são o PSTU, e sua política de “Fora Todos” que termina os colando à direita golpista, e em outro nível de Luciana Genro, que apesar de no último momento ter se colocado contra o impeachment defende uma “Lava Jato até o final”.

Em meio a toda essa bancarrota, o MAS, corrente que se originou de uma ruptura do PSTU adotou em um primeiro momento uma orientação correta, de se colocar abertamente contra o impeachment e contra os ajustes que estão sendo descarregados nas costas dos trabalhadores. Essa organização, que agora deu lugar ao NOS, uma frente de correntes iniciais que se unificou recentemente, promoveu em base a essas posições políticas um debate público na UERJ, que reuniu algumas centenas de pessoas no calor da aceleração dos movimentos da direita pelo impeachment. Avaliamos que essa iniciativa foi importante, por ter reunido aqueles setores que não caíram na falaciosa política de “Fora Todos” tão funcional à direita, e que apontava a necessidade também de combater os ajustes do PT.

Desde então, o impeachment foi votado na Câmara, e o golpe institucional está cada vez mais concreto. A classe trabalhadora, a juventude e as massas puderam testemunhar todo o reacionarismo da bancada BBB (bíblia, boi e bala) que votou pelo prosseguimento do golpe institucional em 16 de abril. E isso tendo ainda como pano de fundo uma grande crise econômica, que não tende a refrear e cujos ajustes o governo que se avizinha de Temer tentará acelerar. Isso faz com que as posições das organizações frente a esse fato sejam uma primeira prova muito importante, que marcarão as correntes políticas da esquerda por muito tempo. Nesse sentido, não se pode encarar as distintas posições existentes na esquerda como meras divergências táticas menores, que na medida em que o golpe institucional se consolida seriam inclusive menos importantes. Inclusive porque esse passo importante do golpe institucional fez com que diversas organizações da esquerda que o denunciavam como primeira hierarquia em sua orientação, passaram a diluí-lo, tratando-o como fato consumado, o que na prática significa avalizá-lo por omissão.

Em base a isso queremos abrir um debate com os companheiros do NOS. Apesar de terem defendido uma posição essencialmente correta no momento anterior da crise política, agora estão buscando fazer confluir várias organizações de posições distintas, através da constituição do que se denominou “frente de esquerda”. O MRT vem atuando junto a esses setores, sem nenhum sectarismo, mas estamos indicando a necessidade urgente de aprofundar o debate estratégico sobre como barrar o golpe institucional, ao mesmo tempo em que defendemos uma experiência comum nas lutas do Rio de Janeiro.

A questão é que ao contrário de avançar nesse sentido, essa frente tem se lançado a promover ações sem o aprofundamento desse debate. O resultado é que suas expressões concretas, como o ato do 1 de Maio, terminam apresentando um conteúdo que expressam amálgamas com organizações que defendem posições opostas, como o MES. Uma “unidade” que não resistirá frente às duras provas que a realidade nacional está impondo.

Como parte dessa lógica foi proposto ao próprio PSTU, integrar o ato do 1 de Maio, o que foi negado por aquela organização publicamente, já que defende o “Fora Todos”. O problema é que a política de lutar contra o impeachment, e a de “Fora Todos” são irreconciliáveis. A realidade, e os destinos dos trabalhadores e da juventude, exigem uma política claríssima de combate ao golpe institucional, e não de diluição dessa posição em meio a uma série de outras que até podem ser corretas abstratamente, mas que são secundárias hoje em relação à luta contra o avanço dos ataques bonapartistas que se abrem.

A unidade de setores da esquerda poderia ser algo positivo na presente situação, desde que isso estivesse obrigatoriamente baseado no aprofundamento do debate teórico e político sobre como combater o golpe institucional, e de um programa claro para isso. O implica em uma prática política comum construída na luta de classes, que possa fazer com que desde aí se construa um plano de luta contra o golpe e os ajustes.

O que no Rio de Janeiro é ainda mais importante, pois é aqui que existem 33 categorias em greve, produto de uma grande crise fiscal, dentre as quais a greve dos professores estaduais, que já dura quase dois meses, e uma grande luta estudantil com 73 escolas ocupadas. Algo que é ainda mais chave se considerarmos que os militantes do NOS estão posicionados em sindicatos importantes desses setores, como o Sepe e as Asduer.

Portanto, a posição em relação ao golpe institucional, e a intervenção na luta de classes, devem ser a prioridade de todas as organizações da esquerda, e deve marcar o crivo de com quem marchamos juntos, daqueles de quem devemos nos separar. Ao contrário disso no chamado público ao ato do 1 de Maio, a luta contra o impeachment aparece completamente dissolvida em meio a uma série de outras demandas. A motivação política por trás disso é clara: trata-se de uma tentativa de “consensuar” entre várias posições que se chocam sobre esse tema fundamental.

Consideramos isso um erro importante, e chamamos os companheiros do NOS a rever essa política. Não se trata de sectarismo, mas do conteúdo político, que deve ser claro, e que só assim pode abrir caminho para uma verdadeira unidade da esquerda contra o golpe e os ajustes.

Nós do MRT nos orientamos pelo exemplo da Frente de Izquierda (FIT) argentina, que conseguiu emergir como uma verdadeira referência internacional para a esquerda, em base a um programa claramente revolucionário. E agora o PTS inclusive está convocando um grande ato internacionalista no dia 30 de abril contra o golpe institucional e os ajustes no Brasil, dando um grande exemplo, e sem cair nas pressões das outras forças que compõem a FIT, como a IS (organização irmã da CST aqui, que defende o “Fora Todos) e o PO (que reconhece o golpe, mas não quis ser parte dessa ação internacionalista).

Portanto, reafirmamos aos companheiros do NOS a necessidade de realizar o Seminário público para debater política e teoricamente como responder à essa situação, que foi proposto no primeiro encontro público promovido pelo NOS na UERJ. Isso deveria acontecer já. E para que no Rio de Janeiro essa frente não se resuma a ações pontuais como atos, mas para que jogue seu peso nas lutas que aqui ocorrem, defendendo uma política de exigência às grandes centrais sindicais por um plano de luta contra o golpe e os ajustes. Não fazer essa exigência à CUT e à CTB hoje é abdicar de lutar seriamente para dar uma saída independente dos trabalhadores, dada a insuficiente inserção e força de uma esquerda independente do petismo. Esperamos avançar nessa perspectiva, e que os companheiros revejam sua atuação.




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