“A surpresa de outubro” é uma expressão da política estadunidense que se usa para explicar que na reta final da campanha pode acontecer algo que mude a eleição.
segunda-feira 5 de outubro de 2020 | Edição do dia
Diego Sacchi falou destes temas em sua coluna de notícias internacionais do programa de rádio El Círculo Rojo, que é transmitido todos os domingos na Radio con Vos da Argentina.
Neste 2020 repleto de “surpresas” só poderia faltar a que se conheceu nesta sexta-feira, quando o Presidente Trump contagiou a ele e Melania por coronavírus.
Uma breve revisão dos fatos cronológicos: Quinta-Feira foi descoberto que Hope Hicks, assessora de Trump, deu positivo para Covid, ela esteve no avião que levou Trump e sua comitiva ao debate presidencial.
Veja também: Trump vs. Biden: um debate que mostra a decadência do império
Na sexta-feira o presidente é internado no hospital militar Walter Reed e começam uma série de comentários, cruzamento de informações e dúvidas sobre sua saúde. No sábado, Trump publicou um vídeo buscando esclarecer as dúvidas e da Casa Branca dizem que segunda ou terça-feira ele poderia deixar o hospital.
A questão não para por aí, vários dos principais meios de comunicação rastrearam os contágios na Casa Branca e focaram no anúncio da indicação de Amy Barrett para ocupar o a vaga na Suprema Corte estadunidense há uma semana, como o foco de contágio.
Se foi assim, Trump poderia estar com coronavírus na terça-feira passada no debate presidencial com Joe Bidden, um fato: o Presidente não se testou antes do debate.
Para terminar esta breve revisão se destaca algo: não está claro quão rápido Trump pode se recuperar, muito menos quando poderia retomar a campanha justo na reta final e, obviamente, que impacto teria uma recaída ou se sua saúde piorasse. Além disso, tenhamos em conta que esta notícia não foi um raio em um céu sereno.
A campanha esteve marcada pelas turbulências sociais e econômicas que conhecemos: protestos contra o racismo, desemprego recorde e centenas de milhares de falecidos pela péssimo resposta oficial à pandemia.
Neste contexto, a eleição se define mais pela polarização política que pelas opções presidenciais. O debate de Terça-feira passada refletiu isso.
O debate foi um espetáculo decadente, com gritos, interrupções ou a negativa de Trump de rechaçar ações da extrema-direita. Poucas propostas, respostas inclinadas à direita, pela parte de Biden quando falou sobre violência policial e a negação a apoiar medidas como a “medicina para todos”
Se deu por ganhador o candidato Democrata, Joe Biden de 77 anos, porque não cometeu nenhum erro grave e conseguiu evitar a imagem de ser um candidato senil.
Porém, os principais analistas mostraram sua preocupação sobre se algum de ambos os candidatos estará à altura de resolver a crise econômica, a pandemia, a crise social e os protestos.
Para setores do establishment, um eventual governo de Biden permitiria voltar a uma espécie de “ordem” política, mas a incógnita é: O que acontecerá com um amplo flanco da esquerda de jovens, trabalhadores, afro-americanos e latinos que se consideram “socialistas”, e foram a base do “fenômeno Sanders” e do fenômeno antirracista e antipolícia ?
Um eventual triunfo de Trump, que não está descartado, sem dúvidas radicalizará as tendências políticas e sociais. Se analisarmos de conjunto, estamos vendo sinais claros da decadência, da grande potência mundial, que a eleição não resolve.
Confira a coluna (em espanhol) em El Circulo Rojo: