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UNIVERSIDADE ELITISTA E RACISTA | Trote na UNESP Botucatu faz apologia ao Ku Klux Klan

sexta-feira 3 de abril de 2015 | 00:01

Já é comum no começo do ano, período no qual os estudantes estão ingressando nas universidades, estourarem escândalos de assédios físicos e morais, que chegam a estupros e assassinatos, relacionados aos eventos e festas de “recepção” dos estudantes.

No último destes escândalos, ocorrido neste dia 5 de março, os veteranos do 6º ano de medicina da UNESP de Botucatu, em uma de suas festas, se fantasiaram com os simbólicos trajes da organização Ku Klux Klan, conhecida por defender a supremacia branca e por cometer numerosos linchamentos da população negra nos Estados Unidos, e obrigaram os novos alunos a se ajoelhar, segurando tochas em suas mãos, com o intuito de “dar um susto”.

Após a repercussão nas redes sociais, impulsionada pelas diversas denúncias de trotes violentos e discriminatórios ocorridos em diversas Universidades do País, como é o caso da USP, que apura denúncias de dezenas de estupros em sua faculdade de medicina, os organizadores da festa tentaram se justificar afirmando que as fantasias faziam referência a “carrascos” e não a seita mencionada.

Esse caso, no entanto, não é uma exceção. Já em 2003, estudantes de medicina veterinária da USP, se fantasiaram da mesma maneira e submeteram os estudantes a se banharem com líquido estomacal de bois, comer grama e rolar na lama e no estrume apenas com roupas íntimas, demonstrando como o trote vem sempre de mãos dadas com a violência contra grupos historicamente oprimidos: os negros, as mulheres, os homossexuais e transexuais.

Neste caso em Botucatu, por mais que os estudantes envolvidos neguem qualquer filiação com organizações racistas, estes usaram os símbolos que resgatam as relações de “dominados” e “dominadores” para imprimir sua própria dominação.

Da mesma forma, se deu com os estudantes em 2010 que, no campeonato chamado “Interunesp” por mera “brincadeira”, organizaram o chamado “rodeio das gordas”, competição sobre quem conseguiria montar à força mais meninas que participavam da festa, usando do machismo para se impor sobre as estudantes ou como em 2014, em que um estudante homossexual que não se submeteu ao trote foi seguido e espancado por seus colegas que somaram o discurso de ódio homofóbico na agressão

O que há por trás do trote?

Mas por que tanta brutalidade de maneira tão recorrente?

A tradicional cultura do trote, que se perpetua historicamente nas universidades públicas e privadas, reproduz a lógica que o ingressante é um “bixo” a ser domesticado. Submetido à hierarquia, com seu veterano no topo, disfarçada no discurso do acolhimento desses estudantes no novo espaço, os ingressantes são coagidos e forçados ao consumo de álcool em níveis extremos, assédios morais e sexuais.

A inserção do jovem no seleto e privilegiado grupo dos universitários é a base para tais “confraternizações”, numa cultura que serve há anos para adequar os estudantes à hierarquia social que se seguirá nos anos seguintes (funcionário, estudante, professor, diretor, reitor) para que eles entendam que nesse espaço já há quem domine por mérito, tradição e propriedade.

Nas universidades públicas brasileiras os estudantes têm pouquíssimo poder político para pautar as decisões das instituições e a burocracia acadêmica os relega ao papel passivo de aceitar o projeto político-pedagógico imposto pela necessidade do mercado e aplicado pelos burocratas que detém o poder de decisão.

O trote é, assim, um pilar fundamental para a formação de estudantes passivos, que dispersam sua força se autoflagelando, discriminando e, assim, controlando. As ideologias racistas, heteronormativas e machistas combinam perfeitamente com a necessidade de subjugar os estudantes a uma hierarquia imposta pelo medo e pela exclusão.

O que há em comum em todos os escandalosos casos de trote?

A impunidade com que as reitorias e diretorias lidam com as ocorrências é o traço mais comum em todos os trotes. Por vezes os organismos de direção, que quando estoura um escândalo se mostram indignados, inclusive divulgam as festas e confraternizações onde os trotes ocorrem.

Os processos de punição e averiguação nas universidades públicas são seletivos, perdoando ou ignorando os casos de assédios, estupros, assassinatos e espancamentos dos alunos que fazem trotes fazendo vistas grossas.

Já aos alunos que lutam contra a estrutura e a burocracia universitária, as Reitorias e diretorias punem exemplarmente. Este é o caso da Reitoria da UNESP que suspendeu por apenas 5 dias os protagonistas da agressão chamada “rodeio das gordas”, mas, por outro lado, sindicou por 60 dias cerca de 95 estudantes, por reivindicarem um projeto de cotas sociais e raciais para a universidade, e agora expulsou 17 estudantes que reivindicavam moradia estudantil para os estudantes de baixa renda.

Nas “republicanas” Universidades deste país, cujas estruturas de poder concentram as decisões nas mãos de reitores e pouquíssimos conselheiros, há sempre “dois pesos e duas medidas” para se julgar.

A luta por uma universidade verdadeiramente pública que atenda aos interesses da classe trabalhadora e dos setores que sofrem com opressões históricas, passa pela luta contra o trote, e apenas construindo espaços de socialização, organização e participação democráticos e livres dos trotes é que será possível construir um movimento que possa verdadeiramente questionar a universidade de classes.




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