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Petrópolis | Tragédia capitalista em Petrópolis tem 204 mortos e pelo menos 49 desaparecidos

Nesta quinta-feira, famílias chegaram ao 10º dia de buscas por vítimas da tragédia capitalista em Petrópolis (RJ). Diante dessas consequências nefastas do capitalismo, é necessário um verdadeiro plano de obras públicas que gere emprego e coloque os moradores das zonas de risco e aqueles que desejam ter seu direito à moradia garantido como parte de uma transformação radical do ambiente urbano.

quarta-feira 23 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

Na tarde desta terça (22), as ruas de Petrópolis voltaram a ficar alagadas por causa de uma forte chuva.

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Houve registros de chuva em Valparaíso, na Mosela, no Quitandinha e no Bingen. Quem estava na rua usou marquises de construções para se abrigar.

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Nas redes sociais, moradores demonstram medo e apreensão.

"Eu nunca tive medo de chuva, mas depois do que aconteceu aqui em Petrópolis semana passada eu não prego o olho quando escuto barulho de trovão ou chuva. Pra melhorar, voltou a chover e já esta alagando tudo".

"Que chuva é essa mano, dá uma ajuda pra Petrópolis senhor!", disse outro morador.

Há um registro de 41 milímetros de chuva em uma hora, com acionamento do toque de mobilização das sirenes do Quitandinha, nas localidades do Duques, Amazonas e Rio de Janeiro.

Anteriormente, já havia sido acionado as sirenes de todos os distritos para alertar sobre a ocorrência de chuva no município, que pode ter intensidade moderada a forte ao longo da tarde e da noite.

O município mantém 13 escolas abertas para o acolhimento dos moradores de área de risco. Até o momento, 811 pessoas estão abrigadas nesses locais.

Uma semana depois do temporal, os moradores são forçados a recomeçar e organizar suas vidas.

O Morro da Oficina, no Alto da Serra, foi o local mais atingido pelo temporal, deixando uma comunidade inteira devastada pela lama. As pessoas ainda sofrem com a falta de água e de energia elétrica.

"A maior dificuldade é a gente tirar gente com vida. O resto é fácil, o resto é garra", disse o pedreiro Jorge Felício, em entrevista a Inter TV.

No local, o trânsito foi liberado. Entretanto, é possível ver um cenário completamente devastado. Condomínios destruídos, fios e postes aos pedaços, lixos espalhados pelas ruas e parte da calçada arrancada pela correnteza.

"Veio como se fosse uma tsunami, de uma vez só apareceu. (...) Foi onde eu parei e o outro ônibus parou também do meu lado", contou o motorista Carlos Alberto da Silva Nascimento.

Um dos passageiros de um dos ônibus arrastado pela enxurrada foi o estudante Gabriel Rocha, de 17 anos. Na manhã desta quinta (24), a família dele encontrou o corpo do adolescente.

"Queria deixar uma mensagem, também, de que não parassem com as busca dos que ainda estão desaparecidos. Eu encontrei meu filho e tem muitos aí ainda com a esperança de encontrar os seus", disse o pai do rapaz, Leandro Rocha, que participou incansavelmente das buscas.

A Rua Teresa, que liga o centro de Petrópolis ao Alto da Serra, também ficou completamente castigada. A impressão é que a chuva caiu há cerca de um dia. Uma máquina escavadeira permanece no local retirando entulhos e tentando varrer os vestígios do desastre.

Já estamos cansados de ver o mesmo cenário se repetir todos os anos. As tempestades de verão chegam e, com elas, enchentes, inundações, deslizamentos e alagamentos instauram o caos, dos grandes centros urbanos até pequenas cidades. O verão passa e assim também as chuvas, o trabalhador, informal ou CLT, expulso aos milhões para morar em áreas impróprias por décadas a fio, graças a salários de miséria combinados a especulação imobiliária, reza para que ano que vem não tenha a mesma sorte de seus vizinhos, desabrigados ou mortos soterrados pela lama.

Evento climático extremo é a definição meteorológica do que atingiu Petrópolis. Em um dia, choveu mais do que o esperado para todo mês de fevereiro, o que resultou em um mórbido recorde desde o início das medições: há 90 anos não chovia tanto em 24 horas. Todo ano, dados e “excepcionalidades” como Petrópolis ocorrem, estes são cada vez mais comuns no Brasil e ao redor do mundo, discorre-se sobre o aquecimento global.

Uma clara e grotesca contradição se evidencia. A história recente brasileira acumula eventos “trágicos” e “catastróficos” de magnitude gerados por eventos climáticos extremos. O maior deles foi o “desastre natural” ocorrido em 2011, a pouco mais de uma década, na mesma região serrana do Rio de Janeiro. Ocorreram mil mortes e 35 mil pessoas perderam suas casas, sobretudo nas favelas e bairros periféricos. Na virada deste ano ocorreram as chuvas na Bahia que deixaram 100 mil pessoas desabrigadas e quase 500 mil afetadas, em Minas Gerais, dezenas de mortos e milhares de desalojados. Por todo o Brasil, 8,3 milhões vivem em área de risco, que nada mais significa locais que podem desabar sobre a cabeça de seus moradores.

A ausência por parte do Estado capitalista de qualquer plano sério para a transformação radical da infraestrutura urbana nos locais típicos de temporais, que responda na raiz essa questão, questiona a própria noção da enxurrada em Petrópolis como mais uma “tragédia”, a mesma incapacidade da burguesia nacional brasileira é observada na burguesia imperialista, incapaz de impedir o avanço do aquecimento global. Os locais atingidos, quem morre, perde e se prejudica tem um claro recorte de classe, que no Brasil é majoritariamente negra e, devastando o ambiente doméstico, mata mulheres e crianças em grande proporção.

É necessário um verdadeiro plano de obras públicas que gere emprego e coloque os moradores das zonas de risco e aqueles que desejam ter seu direito à moradia garantido como parte de uma transformação radical do ambiente urbano, que leve em conta todo o acúmulo técnico e científico para a formação de um novo ambiente social, de circulação e de trabalho. Esta é uma tarefa necessária e possível, que rompa com o capitalismo e retome o equilíbrio climático e ambiental, tarefa histórica de todos os explorados e oprimidos não só do Brasil, como de todo o mundo.

Com informações de G1




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