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Trabalho análogo à escravidão em troca de salvação divina

A seita religiosa "Jesus, a Verdade que Marca" oferece a salvação aos fiéis em troca de trabalho em regime análogo à escravidão, sem remuneração, em estabelecimentos comerciais e lavouras.

quarta-feira 7 de fevereiro de 2018 | Edição do dia

Com a promessa de salvar os fiéis da “besta” e do apocalipse, a seita "Jesus, a Verdade que Marca" oferece a salvação para as pessoas mas elas devem realizar trabalho análogo à escravidão, sem receber salário, com direito apenas a moradia e alimentação, para alcançar o reino dos céus.

A Polícia Federal (PF) e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) já investigam a seita desde 2011. Na terça-feira, dia 6, pelo menos 13 pessoas ligadas à seita religiosa foram presas, sendo oito em Minas Gerais e cinco na Bahia e em São Paulo, na operação Canaã: a colheita final.

Em Poços de Caldas, um restaurante foi interditado pela PF e a gerente do estabelecimento, apontada como líder da organização na cidade, foi presa no local. Em São Vicente de Minas foram detidas outras três pessoas, em Minduri mais duas e em Pouso Alegre outras duas. Em Pouso Alegre, além das prisões, dois restaurantes comandados por líderes da seita também foram interditados.

Como forma de serem salvas, as pessoas eram convencidas a trabalharem de graça em lavouras e em estabelecimentos comerciais em troca da salvação de Deus.

A investigação foi até o local onde esses trabalhadores moram, em casas comunitárias, e os moradores das casas comunitárias não quiseram dar entrevista. O rapaz que abriu os estabelecimentos para os fiscais e recebeu as notificações disse que todos viviam e trabalhavam ali por vontade própria.

“Estivemos em duas casas comunitárias, uma com seis moradores e outra com 12. As condições não eram ruins, mas, quando fizemos perguntas sobre os contratos de trabalho e sobre a forma como foram aliciados, como foram parar naquelas casas, como pagavam as despesas e qual era a relação deles com a organização religiosa, eles apresentaram muita resistência. Parecia que tinham recebido muita instrução para que as perguntas não fossem respondidas”, explica a auditora fiscal do trabalho Dayane Alves Pereira.

Ela acrescenta também que, nesse caso, a condição análoga à escravidão está relacionada ao descumprimento dos direitos trabalhistas, como trabalho sem remuneração.

Segundo a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Polícia Federal, há indícios de que o proprietário das casas comunitárias onde vivem os trabalhadores em Contagem é o mesmo dono da pizzaria e pastelaria interditadas na terça-feira, no bairro Petrolândia. Como a investigação ainda está em andamento, o dono terá alguns dias para apresentar a documentação e provar sua inocência. Entretanto, nos fundos de uma das casas comunitárias havia veículos registrados em nome do mesmo dono dos estabelecimentos.

“A investigação começou em 2011 e a caracterização de trabalho análogo à escravidão já aconteceu em fase anterior. Hoje, o que a gente está verificando é a persistência dessa situação, de uma forma de operar dos líderes dessa organização, que envolve exploração dos trabalhadores, sem a devida contrapartida com direitos trabalhistas previstos na legislação”, destaca a auditora fiscal Dayane Alves Pereira.

Essa denúncia não é a primeira envolvendo igrejas que se utilizam da fé dos trabalhadores para benefício próprio. Em tempos de crise como o que vivemos, as perspectivas na vida do trabalhador são tão pequenas, que discursos oferecendo uma vida melhor, não para agora, mas para depois da morte, ganham força entre as pessoas que mais precisam, e justamente elas ficam vulneráveis a ações de estelionatários como estes e se submetem a relações de trabalho análogas à escravidão.

Fonte: Jornal O Tempo.




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