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Trabalhadores rurais sofrem sequelas com agrotóxicos

quinta-feira 5 de julho de 2018 | Edição do dia

Zonas rurais têm registrado diversas sequelas em decorrência do uso de agrotóxicos nas plantações, entre elas, malformação de bebês, puberdade precoce e até casos de câncer. Em contrapartida, nova lei prevê o aumento do uso de agrotóxicos no país, mesmo que muitos sejam proibidos no resto do mundo.

Uma pequena comunidade de Tomé, região da Chapada do Apodi no Ceará, começou a registrar doenças até então desconhecidas. Com 2500 habitantes, o local conta com muitas famílias que fazem trabalho rural nas fazendas de melão, melancia e banana onde são pulverizados agrotóxicos.

Ada Pontes Aguiar, médica e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), relata ter encontrado casos de malformação congênita, puberdade precoce e acredita que esses casos têm relação com a intensa exposição aos produtos utilizados na produção.

Outras pesquisas, feitas por Raquel Rigotto, também da UFC, apontaram que o índice de casos de câncer no local é 38% maior do que nas cidades vizinhas, e confirmando que o uso dos agrotóxicos na cidade têm prejudicado intensamente a saúde dos moradores da região, principalmente dos trabalhadores rurais e duas famílias.

José Maria Filho, morador de Tomé, era um ativista que mobilizou comunidades contra o uso destes agrotóxicos nas fazendas, apontando para o risco de doenças e mortes em decorrência dos produtos, mas em 2010, ele foi assassinado com 20 tiros, os suspeitos do caso aguardam o julgamento em liberdade.

No entanto, há cerca de duas semanas, o projeto de lei 6.299/2002, que aumenta o uso de agrotóxicos, foi aprovado numa comissão especial da Câmara dos Deputados e aguarda votação no plenário. Entre outras coisas, o projeto prevê que instituições como Ibama e Anvisa tenham menos interferência na aprovação de novos produtos.

A decisão anima os empresários de pesticidas, que pretendem eliminar a proibição de produtos que fazem mal ao meio ambiente e à saúde, independente da dosagem, passando a restringir apenas a dosagem. Os empresários acreditam que alguns produtos “demoram muito para serem aprovados”. Já segundo o Ibama, a fila é muito grande e muitos produtos parecidos com outros já aprovados são enviados para análise.

O mercado dos agrotóxicos têm crescido no país e já comercializou 8,8 bilhões de dólares em seus produtos, sendo que ao mesmo tempo, este é um setor que contribui apenas com 0,1% dos tributos recolhidos pelo governo.

A lei ainda tende a favorecer muito os empresários da China, que é atualmente a líder mundial em produção de agrotóxicos, detendo 25% do mercado, sendo que de lá também vem os principais produtos ilegais, que ocupam 20% do mercado nacional.

No fim das contas essa lei pretende engordar ainda mais os bolsos dos empresários enquanto os trabalhadores das fazendas e os consumidores dos produtos sofrem com as doenças. Essa lei, em conjunto com a lei que restringe a venda de produtos orgânicos, fará com que mais uma vez sejam os trabalhadores e a população que tenha que lidar com as consequências da sede de lucro dos patrões, dispostos a nos adoecer e matar para manter seus privilégios.




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