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MACHISMO | Trabalhadora vítima de gordofobia tinha seu salário determinado pelo peso

Caso a funcionária não perdesse determinada quantidade de quilos ao mês, o valor de R$200 era debitado de seu salário pelo patrão.

Juliana Begiatoestudante de Ciências Sociais da UNICAMP

terça-feira 15 de dezembro de 2020 | Edição do dia

Uma trabalhadora de Muriaé (MG), passou cerca de um ano e meio trabalhando sob abuso moral de seu patrão. A funcionária, que trabalhava como vendedora de bijuterias, tinha seu salário determinado por seu peso.

O patrão retirava todos os meses R$200 de seu salário caso a trabalhadora não emagrecesse 5kg. A violência era tamanha que a funcionária era cotidianamente ameaçada por meio de bilhetes e falas gordofóbicas do agressor.

Segundo a advogada da vítima, Grazielle Berizonzi, ela era obrigada a ir à academia todos os dias e, ao final do mês, tinha que trazer uma foto da balança que comprovasse sua perda de peso, caso contrário era debitado de seu salário o valor de R$ 200.

Em uma das situações de abuso, o patrão chegou a comprar uma balança e levar até o local de trabalho. A funcionária, por sua vez, implorou que não fosse pesada no dia pois estava menstruada e se sentia inchada. O patrão, então, reage: “Isso é desculpa de peidorreiro! Você está fazendo tudo certinho? Por que naquele dia, 19h, você estava me mandando mensagem e não fez academia?”

A advogada também afirmou que a moça chegou a desenvolver crises de pânico nos dias que antecediam o pagamento. Em um dos bilhetes deixados à funcionária, pode-se ler a seguinte mensagem: Favor apresentar pesagem do dia 05/06/2019 com carimbo da academia, certificando que o peso foi realizado no dia”. Em outro recado, complementa: “Caso não tenha perdido o peso do mês de julho, favor devolver os R$ 200.”

A justiça determinou que a trabalhadora era vítima de assédio moral e a loja que a empregava terá que pagar uma indenização no valor de R$ 50 mil.

Esse absurdo ao qual essa funcionária foi submetida para receber os seus direitos é reflexo de uma sociedade patriarcal e capitalista, em que os patrões acreditam ter direito sob os corpos das mulheres trabalhadoras.

No texto publicado no Ideias de Esquerda, escrito por Patrícia Galvão e Diana Assunção, intitulado “A violência patriarcal e o punitivismo”, nos deparamos com o seguinte parágrafo:

“É sabido que a origem do patriarcado é muito anterior ao sistema capitalista, ao modo de produção burguês. Mas, está intimamente ligado à origem da propriedade privada e do Estado, que é expressão do conflito entre as classes. Ao longo dos séculos, a opressão de gênero foi tomando formas diferentes, mas mantendo o principal: a ideia de que as mulheres são inferiores aos homens e, portanto, devem ser submissas à sua vontade.”

E continua:

“O estado e seu braço armado cumprem o papel de julgar e prender os “culpados”, como legítimos detentores da ordem, mas mantém toda a lógica da opressão intacta e servil à aqueles que lucram com a opressão. (...) Ou seja, a violência perpetrada pelos patrões que joga na miséria milhões de mulheres, é legalizada. Passa-se um pano à violência do estado sem resultar em avanço real em relação ao combate a violência de gênero. Esse é um ponto chave e decisivo sobre como encarar a luta das mulheres, se essa luta é por uma espera passiva de que o Estado puna os machistas, ou se a luta é para enfrentar esse estado e todo esse sistema capitalista que sustenta a opressão de gênero e de raça.”

Toda a agressão sofrida por essa trabalhadora, que lhe deixou grandes feridas, é reproduzida todos os dias com milhares de mulheres pelo mundo. Patrões e capitalistas que acreditam ter direito e poder sobre o corpo de suas funcionárias, com uma justiça e um Estado que sempre lhes privilegiam. Recentemente nos deparamos com o caso de Mari Ferrer, que foi estuprada por um empresário e a justiça determinou como “estupro culposo”, quando não tem a intenção de estuprar.

A luta por justiça às milhares de mulheres vítimas de machismo, como o caso dessa trabalhadora ou mesmo o caso de Mari Ferrer, precisa ser uma luta anticapitalista. Os trabalhadores precisam tomar as pautas feministas para si numa luta unificada contra toda forma de opressão. É isso que nós, do Esquerda Diário e do Pão e Rosas, defendemos. Um feminismo socialista ao lado de todas as trabalhadoras vítimas de opressão.




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