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ELEIÇÕES DCE UFABC | Tomar o DCE nas mãos dos estudantes só será possível com independência de classe

Nestes dias 06 e 07 de Junho ocorrem as eleições para a nova gestão do DCE da UFABC, em meio a um processo extremamente burocrático e questionado por mais de 170 estudantes que seguem sem uma resposta da Comissão Eleitoral, eleita em assembleia com menos de 30 alunos que deu início ao processo em meio ao feriado. Os debates de chapa e as disputas entre as duas chapas tornaram evidente que não há uma alternativa para retomar as entidades para a mão dos estudantes e fortalecer o movimento estudantil na luta contra os cortes e permanência sem uma política de independência de classe.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Jenifer TristanEstudante da UFABC

quinta-feira 7 de julho de 2022 | Edição do dia

As eleições do DCE da UFABC acontecem neste segundo quadrimestre de 2022, quando se inicia o retorno presencial e em meio a uma situação nacional marcada pela conjuntura das eleições nacionais antecipadas. São 4 anos de experiência com esse governo odioso de Bolsonaro-Mourão junto aos militares que aprofundaram os ataques contra as condições de vida das massas trabalhadoras desde o golpe institucional de 2016, fortalecendo diferentes formas de autoritarismos e elegendo como inimigo especialmente a educação pública, como no bloqueio de 14% no orçamento destinado à área, que significa cerca de 3,2 bilhões de cortes diretamente do orçamento. Um Outro exemplo é a PEC 206 - de autoria do deputado federal General Peternelli (União Brasil-SP) e Kim Kataguiri ( União Brasil - SP) como relator - que visava cobrar mensalidades nas universidades públicas. Apesar de não ter passado, mostra como a extrema-direita e a direita estão unidas em atacar os trabalhadores e a juventude.

Expressões grotescas do papel dessa extrema direita na vida pública são diversas: os assassinatos políticos de Dom e Bruno, vítimas do garimpo e do agronegócio aliados de Bolsonaro, os massacres contra os povos originários como o desaparecimento dos Yanomami, e destroem nossa fauna e flora,especialmente na Amazônia. Também esteve presente no brutal assassinato de Genivaldo pela Policia Rodoviária Federal, do qual Bolsonaro tentou tratar como “ação preventiva”, e sem esquecer do ataque aos direitos reprodutivos das mulheres onde o direito ao aborto de uma criança de 11 anos foi questionado por uma juíza numa sessão de tortura judicial.

Cada uma dessas expressões que merecem o nosso repúdio e uma resposta contundente desde um combate da classe trabalhadora aliada ao movimento estudantil se somam a ameça do fechamento das universidades públicas com o cortes do governo junto ao Congresso Nacional, que em cada universidade já vem tendo suas expressões ainda mais preocupantes na permanência estudantil, especialmente dos cotistas negros e trans. Essas questões que deveriam estar na primeira ordem da politização dos estudantes em meio às eleições de DCE, foi na verdade, um grande ausente. Isso combinado a falta de qualquer balanço e explicação sobre os obstáculos do tsunami na educação de 2019, a luta contra o Bolsonaro, e a trégua levada a frente nos últimos anos pela direção majoritária da UNE e as Centrais Sindicais que fortaleceram a desilusão e o ceticismo através da aposta na institucionalidade com a política do Impeachment que já unificava partidos de esquerda como PSTU, PCB, UP e PSOL a setores como Joice Hallseman e Kim Kataguiri, que foi a ante-sala e a preparação para a Frente Ampla da chapa Lula-Alckmin que é seguida pelo PSOL na sua Federação com a Rede da Marina Silva. E hoje é canalizado pela via eleitoral, buscando nos convencer que o papel da juventude é apenas atuar de maneira individualizada, votando “corretamente”, mantendo assim os trabalhadores e a juventude passiva, como meros expectadores e não sujeitos políticos ativos podendo apontar um caminho progressista para resolver os problemas estruturais que assolam a vida de milhões com a fome, o desemprego e a carestia de vida.

É preciso superar as concepções burocráticas e institucionais no movimento estudantil e nas duas chapas em disputa

As eleições da UFABC neste ano aparecem de uma forma particular, que para ser compreendida é necessário um olhar com atenção. Nos grupos de whats, do facebook, nas redes sociais e nas passagens em sala se percebe um enorme desgaste da Correnteza (Unidade Popular) à frente do DCE desde 2017, e desde 2019 sem novas eleições. A sua concepção cada vez mais burocrática e auto-proclamatória ficou evidente no seu apoio a atual Reitoria de Dácio que deixa estudantes passando fome através da sua “administração eficiente” prometida, depois na sua recusa em convocar uma Assembleia Geral junto aos professores e trabalhadores para que fossemos nós à decidir como e quando realizar o retorno presencial, mesmo após carta aberta de 14 entidades e coletivos pedindo essa organização. E no próprio processo atual das eleições para nova gestão do DCE, quando convocam uma assembleia sem nenhuma construção séria com passagens em sala, e aprovando um calendário eleitoral com ínicio no feriado,o que foi amplamente rechaçado, tendo uma solicitação formalizada por mais de 170 estudantes exigindo o cancelamento das resoluções e uma nova assembleia para que a base dos alunos possa decidir sobre as suas entidades, que foi impulsionado pela Faísca Revolucionária.

Frente a este enorme rechaço e as manobras burocráticas da chapa TODAS AS VOZES, dirigida pelo Correnteza, se formou uma chapa que buscava aglutinar todos os estudantes e diferentes organizações para fazer Oposição à atual gestão do DCE, buscando uma unidade supostamente para “mudar o DCE”. Nós da Faísca participamos de algumas discussões com membros da chapa “Tudo que nois tem é nois”, partindo de que havia um limite claro para poder superar as concepções burocráticas e institucionalizadas do movimento Correnteza, uma vez que a “unidade” proposta estava por fora dos debates programáticos de quais compromissos de luta que a chapa se colocava, o que foi aproveitado pela UJS, a direção majoritária da UNE, para se intitular Oposição, sendo que nacionalmente eles são diretamente a correia de transmissão dessas concepções burocráticas e institucionais que privilegiam acordos com gente como Rodrigo Maia, ou o monopólio da meia entrada. Como seria possível contrapor os métodos e o conteúdo burocrático da Correnteza tendo como vice presidente uma militante que representa a organização que separou a luta contra os cortes da luta contra a Reforma da Previdência e que organizou o último Congresso Nacional da UNE somente para dividir cargos entre si, sem nem sequer eleger representantes nas universidades? O sujo falando do mal lavado?

Apesar deste problema geral que apontamos para os membros da chapa 2, também achávamos que não deveríamos nos submeter a este calendário eleitoral e participar do processo legitimando a sua condução burocrática que impedia diretamente que estudantes independentes pudessem formar suas chapas, e também o próprio processo de discussão política para se encontrar convergências e divergências. No fim, a chapa se inscreveu com 50 membros, entre eles, militantes da UJS e do Rebeldia (PSTU), setores anti-partido e de outras diferentes concepções. A pluralidade reivindicada pela chapa 2, como um triunfo da horizontalidade em oposição a burocrática posição hierárquica do Correnteza, buscava de fato, permitir uma maior influência da UJS como ficou expresso no envio de um ofício pedindo policiamento entorno do Campus, sem qualquer consulta aos estudantes, a um parlamentar do PSD, o Vava do Churrasquinho.

A chapa 2, Tudo que Nois tem é Nois, acabou então buscando ocupar o espaço de Oposição ao Correnteza, esvaziando qualquer significado progressista que este pudesse se desenvolver, uma vez que rebaixou as discussões políticas das tarefas do movimento estudantil aos estreitos limites impostos pela UJS, que infelizmente conta com o apoio do Rebeldia (PSTU), o que soa no mínimo contraditório com a iniciativa do Polo Socialista e Revolucionário que tem como objetivo a reorganização da vanguarda em defesa da independência política da classe trabalhadora, o que não é possível ao lado da burocracia estudantil da UJS, que é parte do mesmo PCdoB que dirige a CTB e atua como uma polícia dentro do movimento operário.

Um exemplo categórico da ausência de uma alternativa neste processo eleitoral foi a pergunta que ocorreu no primeiro debate de chapas sobre porque a Correnteza à frente do DCE e a UJS à frente do DA não construiu espaços de discussão, passagens em sala e politização dos estudantes para que o movimento estudantil da UFABC pudesse se expressar de forma consciente e organizada nos atos? Infelizmente essa não foi uma realidade especial da UFABC, já que tanto a UJS como direção majoritária como a Correnteza como "Oposição" estão em diversas outras universidades e não batalharam para que esse dia fosse um novo tsunami da educação.

É preciso conectar as batalhas anti-burocráticas e pelo desenvolvimento da luta de classes a uma alternativa política de independência de classe

Frente a este dramático cenário eleitoral, onde não se vê uma alternativa entre as disputas eleitorais para se retomar as entidades estudantis para as mãos dos estudantes e para que sirvam como verdadeiros instrumentos de organização, politização e elaboração da atuação dos estudantes como um movimento organizado e político, é preciso rechaçar essas duas alternativas e batalhar pela construção de um movimento estudantil combativo, que se organize desde as bases, *com assembleis em casa turno e por campus para garantir a ampla participação estudantil, visando especialmente a garantia que os estudantes trabalhadores possam ser parte ativa de decidir os rumos da luta* fomentando a nossa auto-organização com independência da reitoria, dos governos e dos patrões, *como único caminho para garantir os nossos interesses que são opostos das burocracias acadêmicas e dos capitalistas que veem na universidade uma mão de obra especializada para aumentar suas taxas de lucro*.

Isso só é possível batalhando contra as burocracias sindicais, estudantis e políticas que atuam nos nossos movimentos buscando nos dividir e enfraquecer a nossa radicalidade à serviço de manter o status quo. *Para isso, é fundamental acelerar o processo de experiência dos estudantes com a proporcionalidade do DCE, uma forma de garantir com que cada voto encontre uma correspondência com a proporção da entidade que refletiria o desejo de todes, com maiorias e minorias, e se poderia ver - e comparar - a atitude de cada organização frente a cada acontecimento."

Por isso, para fortalecer uma luta consequente por permanência estudantil exigindo a reabertura imediata do RU, pelo direito de comer pra poder estudar assim como a luta de fretado para todes, incluindo a população que merece ter direito a universidade e a todo conhecimento aqui produzido é preciso unificar estudantes e trabalhadores de dentro e fora da universidade confiando nas nossas próprias forças e na nossa organização. Precisamos de um programa que aponte no caminho de garantir as necessidades de permanência sem que seja descarregado os custos nas costas dos trabalhadores, por isso, exigimos a abertura dos livros de contabilidade e que através da nossa luta se imponha que decidamos nós, os três setores da universidade que construímos efetivamente a universidade, os trajetos, as paradas e as frotas, assim como a defesa da efetivação de todos os terceirizados sem a necessidade de concurso público.

Todas essas batalhas estão ligadas à nossa estratégia de conectar cada uma das lutas que participamos contra a desigualdade social, pela a melhoria nas nossas condições de vida com o nosso objetivo de destruir o capitalismo e construir uma nova sociedade, o que passa necessariamente por hoje defendermos que a UFABC seja colocada à serviço da classe trabalhadora e de solucionar os grandes problemas sociais. Essa perspectiva só é possível fortalecendo e criando espaços de auto-organização capazes de garantir a maior participação e politização possível na universidade para que surja uma força social capaz de fazer pesar essas bandeiras de luta e ao lado dos trabalhadores conquistar cada uma das nossas reivindicações.

Mas todas essas lutas que travamos dentro da universidade só fazem sentido se a energia que despendemos em cada debate em sala de aula, na construção de lançamentos de livros como o que realizamos do Nós mulheres, o proletariado, os debates que promovemos sobre o projeto de universidade se estão conectados com fortalecer uma alternativa política, onde os trabalhadores sejam sujeitos e vejam a luta de classes como o caminho para sua libertação, que consequentemente, libertará a todes nós. Isto porque,como marxistas revolucionários, isto é, trotskistas, não admitimos a separação feita pela burguesia entre as lutas econômicas e as lutas políticas, uma vez que as desigualdades econômicas produzidas por este sistema capitalista - e utilizada nas universidades como parte da sua produção intelectual à serviço da classe dominante - só pode ter um fim com uma política que ataque os lucros capitalistas e defenda a ruptura com o capitalismo.

Por isso, debatemos com o Rebeldia que é urgente rever essa postura oportunista de estar na mesma chapa que a UJS, amiga do Rodrigo Maia e defensora aberta da conciliação de classes, e que possamos apresentar o Polo Socialista e Revolucionário como uma alternativa de reorganização da vanguarda para batalhar pela independência de classe, podendo promover debates e discussões, inclusive sobre nossas divergências de forma fraterna, como parte da batalha de que nossa energia não seja desperdiçada em projetos de conciliação de classe que busquem repetir a estratégia que fortaleceu os agentes autoritários e golpistas até Bolsonaro. Por isso, apresentamos neste próximo sábado, as candidaturas de Maíra Machado e Marcelo Pablito pelo MRT que constrói o Polo Socialista e Revolucionário e buscam ser mandatos com compromissos de luta para fortalecer dentro do parlamento as denúncias da classe trabalhadora e fazer ecoar a cada greve, cada manifestação,a cada luta com que nos empenhamos,fazer com que ela se propague e possa fortalecer este projeto de transformação social que se baseia na luta de classes.

Conheça a Faísca Revolucionária e participe conosco do lançamento das nossas candidaturas no próximo sábado, dia 09, no Sindicato dos Metroviários de SP.




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