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CORONAVÍRUS | Testes massivos ajudam cidade italiana a reduzir novos casos de coronavírus a zero

Reproduzimos abaixo o artigo publicado no Financial Times que explica como a realização massiva do teste para diagnosticar casos de coronavírus ajudou uma cidade na Itália a zerar os novos casos de contágio.

sexta-feira 20 de março de 2020 | Edição do dia

Um experimento de controle da infecção aplicado em uma pequena comunidade italiana no começo da crise do Covid-19 na Europa conteve todas as novas infecções na cidade, que esteve no centro do surto naquele país.

Por meio de testes sucessivos em todos habitantes da cidade de Vò, perto de Veneza, independentemente de quais apresentavam sintomas, e de quarentena rigorosa de todos contato uma vez confirmada a infecção, as autoridades sanitária conseguiram frear por completo a propagação da doença na comunidade.
Andrea Crisanti, infectologista do Imperial College de Londres, que participou do projeto em Vò enquanto passava um ano sabático na Universidade de Pádua, insistiu aos países que estavam limitando os testes, incluindo o Reino Unido e os E.U.A., que tirassem lições e aumentassem o número de pessoas testadas.

“No Reino Unido, existe toda uma série de infecções que são completamente ignoradas”, disse o professor Crisanti ao Financial Times. “Pudemos conter o surto aqui porque identificamos e eliminamos as infecções ‘submergidas’ e as isolamos”, contou sobre a experiência em Vò. “Isso é o que faz a diferença”.

Este êxito reforça a importância dos testes e do isolamento dos que poderiam ser infectados assintomáticos, uma abordagem que a OMS (Organização Mundial da Saúde) apoia firmemente. Nesta semana, a OMS orientou todos os países a realizar testes de forma ampla, sinalizando que a Coreia do Sul e Taiwan, ao fazê-lo, vêm tendo êxito em limitar as infecções. “Nossa principal mensagem é: testes, testes, testes”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da OMS, na segunda-feira.

Crisanti colocou que o inusitado – e, de certa forma, acidental – experimento de testes em Vò permitiu aos investigadores obter uma “foto epidemiológica” completa da doença.

Os testes começaram como uma medida de contigência confusa depois do primeiro caso de morte na comunidade em 22 de fevereiro. Não são claros os motivos pelos quais o norte da Itália sofreu um aumento nos casos antes de outros locais da Europa, ainda que Crisanti e outros tenham sugerido que isto poderia ser devido aos estreitos laços comerciais da região com a China.

A primeira rodada de testes, que foi levada a cabo em toda a população no fim de fevereiro, mostrou que 3% estavam infectados, apesar da metade dos portadores não apresentarem sintomas. Depois de isolar as pessoas infectadas, a segunda leva de testes, cerca de 10 dias depois, indicou que a taxa de infecção havia diminuído 0,3%.

O mais importante, no entanto, é que a segunda etapa de testes identificou ao menos 6 indivíduos que portavam o vírus, mas não tinham sintomas, o que possibilitou serem colocados em quarentena. “Se não tivessem sido identificados, a infecção poderia ter sido retomada”, explicou Crisanti.

Ao invés de fazer testes extensivos, países como o Reino Unido e Holanda vêm implementando a estratégia de herd immunity (“imunidade de rebanho”), que permite que mais pessoas sejam infectadas com o vírus e desenvolvam imunidade, como uma forma de construir resistência na comunidade – ainda que medidas como esta estejam mudando à medida que a crise se aprofunda.

Um médico da OMS disse na terça-feira que apostar na “imunidade de rebanho” poderia não ser a forma correta de conter o vírus. Dorit Nitzan, coordenadora de emergências de saúde da OMS, indicou que, como se tinha tão pouca informação a respeito do Covid-19, não era “o momento adequado para recomendar uma abordagem de ‘imunidade de rebanho’”. “É um vírus novo e temos que aprender sobre ele”, disse.

A Grã-Bretanha não testou indivíduos com sintomas leves, mas priorizou o atendimento a pacientes com enfermidades respiratórias graves. No entanto, uma reversão abrupta da política adotada pelo governo de Boris Johnson será vista nesta semana com o aumento dos testes, como parte dos esforços para conter novas infecções e “aplanar a curva” e, assim, não sobrecarregar os serviços de saúde e reduzir as mortes.

Em Veneto, as autoridades planejam expandir o regime de testes expansivos em toda a região e procuram coletar 11.000 amostras por dia. “Se alguém liga para a linha de emergência e diz que está doente, todas as pessoas de sua família, círculo social e habitação serão testados”, disse Crisanti.

Luca Zaia, presidente de Veneto, e quem inaugurou o projeto em Vò, reforçou na terça-feira a posição de que ampliar os testes era vital. “Um portador assintomático pode infectar dez pessoas”, disse à imprensa. “As amostras podem salvar vidas”.

*Artigo publicado originalmente em inglês no Financial Times.




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