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CONFERÊNCIA DA FT | Teoria e prática

quinta-feira 29 de março de 2018 | Edição do dia

Das duas semanas de intensos debates, a primeira delas esteve dedicada ao seminário sobre o livro Estratégia Socialista e Arte Militar, coordenado pelos autores. Partimos de entender, como declarava Trotsky, a tática na política – por analogia com a ciência bélica – como a arte de conduzir as operações isoladas e a estratégia, como a arte de vencer, ou seja, de se apoderar do poder.

Desde esta perspectiva, no seminário foram abordados múltiplos debates, entre eles a relação entre programa e estratégia revolucionária. Diferentemente do que é colocado pelos neokeynesianos e os keynesianos, incluídos os “de esquerda” em suas diferentes variantes ou “antineoliberais” (a ideia de acumulação de reformas divorciada das grandes catástrofes que impõe historicamente o capitalismo), o programa e a estratégia do marxismo revolucionário busca dar respostas às tendências profundas do capitalismo em sua época imperialista, às crises catastróficas e as guerras em grande escala, que impõem às massas “sofrimento superiores aos habituais” e que são o fermento das revoluções. Esta é uma questão fundamental para a luta política e programática.

Outro dos debates que atravessou o seminário foi a articulação dinâmica entre classe, partido e direção, a partir de um contraponto, estabelecendo os pontos de contato e suas importantes diferenças, com o esquema teórico de Clausewitz sobre a “estranha trindade” (ódio do povo, cálculo dos generais, política do governo como elementos presentes em toda guerra), a qual se encontra analisada no livro Estratégia socialista e arte militar. Sob o título “Classe, partido e direção”, Trotsky escreve no fim de sua vida um de seus textos fundamentais, em que explica a complexa relação existente entre os fatores objetivos e subjetivos na determinação das situações políticas e sua evolução.

Nas antípodas das visões fatalistas para as quais a autodissolução do capitalismo “proverá” vitórias, Trotsky desenvolve o papel chave da direção e do partido, e o trabalho da estratégia como elemento chave para conquistar triunfos revolucionários. Um trabalho estratégico em que a construção do partido revolucionário não surge, como costumam crer muitas correntes da esquerda, pela “engorda” do próprio aparato, e sim como subproduto dos combates dos revolucionários para o desenvolvimento das tendências mais progressistas que dá a realidade da luta de classes em cada situação concreta.

Também no seminário foi abordada a discussão sobre a tática da Frente Única Operária. Foi concebida dessa forma pela III Internacional (cujas teses a respeito foram parte dos materiais de debate) para garantir a unidade da classe operária em sua luta contra o capital, para além das divisões sociais e organizativas que impõem todas as burocracias (sindicais e políticas), e ao mesmo tempo para ganhar, através da experiência com aquelas direções tradicionais, a grande maioria do proletariado para a revolução. Hoje, com um proletariado altamente fragmentado, esta tática tem uma enorme atualidade. Entretanto, seu significado está confundido, interpretada como “unidade da esquerda”, como acordos diplomáticos com alas da burocracia por fora da luta de classes, e inclusive como acordos políticos com correntes burguesas ou pequeno-burguesas.

Boa parte do seminário esteve dedicada a desentranhar seu significado: por que é uma tática e não uma estratégia, qual é sua relação com o combate defensivo e qual com o ofensivo, quais significações têm as “frentes únicas” parciais (em determinados sindicatos, estruturas, etc.), onde os revolucionários contam com forças suficientes para impor essa tática, qual relação guarda a Frente Única com outras táticas desenvolvidas por Trotsky na década de 1930 como o “entrismo” ou a declaração de um “partido de trabalhadores” que sustentasse para os Estados Unidos, entre outros pontos.

Além disso, se desenvolveram outros debates, como o problema de sustentar o centro de gravidade do partido na luta extra-parlamentar; a relação entre o desenvolvimento do movimento de massas em situações revolucionárias e a ampliação das possibilidades de resolução dos problemas militares da insurreição; a análise crítica das “estratégias de desgaste” e as características da ação das burocracias para desativar movimentos da luta de classes, entre muitos outros.

Todas estas discussões estiveram atravessadas pela realidade viva da luta de classes atual, na qual as diferentes organizações da FT-QI vêm intervindo em cada país. Desta forma, o seminário permitiu tanto uma indagação teórica coletiva, como o desenvolvimento da reflexão sobre a própria tática.




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