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TEMER | Temer, Joesley e o jatinho: segue a novela da Lava Jato

Depois de delação premiada, Joesley Batista, da JBS, entregou diário de bordo de uma viagem feita por Michel Temer e sua família em jatinho particular do empresário. Temer, num primeiro momento, negou ter feito a viagem; depois, voltou atrás; agora, garante que não sabia de quem era o tal avião. Para a sua defesa, apenas um fato corriqueiro que poderia acontecer com qualquer um.

Flávia ToledoSão Paulo

quinta-feira 8 de junho de 2017 | Edição do dia

Foto: João Quesada/Agência O Globo

Nas últimas semanas só se fala da delação premiada de Joesley Batista, da JBS. O empresário entregou áudios comprometedores de Temer e garante que ambos têm uma “relação estreita”, negada pelo golpista. Como prova da relação entre os dois no inquérito que coloca Temer como suspeito de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa, Joesley entregou à Procuradoria Geral da República o diário de bordo de seu Learjet PR-JBS, que revela viagem do casal Temer e Marcela entre os dias 12 e 14 de janeiro de 2011 de São Paulo para Comandatuba, na Bahia.

Quando saiu a informação, na última terça-feira, a assessoria de Temer desmentiu a viagem e disse que o então vice-presidente não teria viajado para a Bahia em janeiro, mas sim em abril de 2011 utilizando aeronave da FAB. Também segundo sua assessoria, a viagem que Temer teria feito em janeiro desse ano teria sido para Porto Alegre, também utilizando avião da FAB, de maneira a negar o que foi exposto por Joesley Batista em delação: de que ambos mantinham relação próxima desde 2010.

A contradição entre o anúncio oficial da assessoria de Temer e os registros do diário de bordo do jatinho particular não foi engolida por ninguém, e já no dia seguinte Temer recuou e mudou sua versão sobre a suposta viagem.

Na quarta-feira, Temer anunciou, em nota oficial, que utilizou “aeronave particular” para levar sua família a Comandatuba, na Bahia, nos dias registrados pelo diário de bordo. Mas, segundo ele, não sabia quem era o dono do jato e não realizou pagamento pelo serviço. Segundo o Planalto, "o então vice-presidente Michel Temer utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua família de São Paulo a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal no gabinete".

Pra justificar a mudança de versão, a assessoria de Temer disse que, quando questionada sobre a viagem, buscou a informação na agenda oficial do então vice-presidente e não encontrou o compromisso registrado, o que lhe teria feito apresentar a primeira versão de que a viagem não teria ocorrido. Temer só teria se recordado da viagem em conversa com Marcela. O compromisso “secreto” ocorrido na viagem abre margem pra diversas dúvidas.

Por que o vice-presidente do país teria feito uma viagem às escondidas, utilizando aeronave particular, ele que tem o privilégio de poder utilizar as aeronaves da Força Aérea Brasileira para suas viagens? E como pode um vice-presidente entrar em um jato particular cujo dono supostamente desconhece?

Nem Temer nem o Planalto poderiam permitir que tal falha na segurança de um vice-presidente ocorresse. É irreal que Michel Temer e sua família pudessem ter entrado em um jato, sem contratá-lo (pois ele afirma que não realizou pagamento) e sem saber quem era o dono da aeronave.

Para tentar desmentir sua relação com o corrupto Joesley Batista, Temer se enrola todo para tentar fingir que só o conheceu há poucos meses. E com a ajuda de sua defesa, deixa toda essa história ainda pior.

Antônio Claudio Mariz de Oliveira, criminalista que representa Michel Temer, disse não ver “nenhum problema” no fato de o peemedebista ter viajado em um jatinho particular. Reivindicando o artigo 86, parágrafo quarto da Constituição, Mariz afirma que esse fato não pode ser analisado no atual inquérito a que está submetido o golpista por se tratar de uma fato que “ocorreu, se é que ocorreu, em período anterior à Presidência da República”. Mais uma prova de que os golpistas se lembram da Constituição quando, e apenas se, lhe convém.

Mas a novela piora. Dando seguimento à desculpa esfarrapada, a defesa de Temer afirma que não há anormalidade alguma em “o cidadão Michel Temer ter se deslocado em um avião que lhe foi emprestado." Na avaliação do advogado "trata-se de fato corriqueiro que pode dizer respeito a qualquer um de nós".

Mariz parece um tanto deslocado da realidade quando faz uma afirmação como essa. O que pode haver de corriqueiro em se utilizar um jato particular emprestado? Quais “cidadãos” desse país têm um jato, e quantos têm relação com os poucos donos de jatinhos no Brasil?

O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), também minimizou o fato. "Não vejo nada demais. Não é um tipo de irregularidade ir a um evento de empresários em um avião. Não vejo nenhum problema, a não ser o alarde político por conta do momento. Esse é um assunto menor diante dos problemas que o País está vivendo", defendeu o senador.

De acordo com Jucá, Temer apenas pegou uma carona, "como diversas autoridades pegam carona em avião". Ele alegou que Temer usou a aeronave para ir a um evento público, um encontro da Lide (Grupo de Líderes Empresariais). Entretanto, o jatinho sequer foi ao evento.

A história toda é absolutamente mal contada. O que não é de se estranhar se tratando de alguns dos protagonistas dos maiores escândalos de corrupção do país, investigados por uma Operação que diz que seu “interesse” é investigar “todo corrupto independente de sua sigla partidária”. Se inquestionavelmente são poucos os que podem usufruir de jatinhos particulares, entre esses poucos estão investigados e investigadores da Lava Jato. O judiciário, atuando como um partido, utiliza a operação pra definir os rumos políticos do país, e a essa instituição igualmente corrupta, que ninguém elege e não presta contas a ninguém, só interessa que haja governabilidade para poder passar todos os ataques sobre a classe trabalhadora e pra entregar o país cada vez mais ao capital imperialista.

A burguesia, a quem tanto o golpista quanto o judiciário serves, não tem compromisso algum com seu gerente de plantão. A ela pouco importa se será Temer a passar os ataques. Seu interesse nunca foi o Temer. Agora, com baixa popularidade por conta das reformas antipopulares e pouca governabilidade, Temer é uma figura descartável, e para eles é melhor que “caia por cima”, e não pela força da mobilização das centenas de milhares de trabalhadores que estão revoltados com os ataques.

Enquanto todo o circo das delações premiadas acontece e o espetáculo de Moro e companhia toma os noticiários, as reformas vão passando e os trabalhadores seguem sofrendo com os efeitos da crise que foi criada pelos capitalistas, que querem nos fazer pagar por ela para que sigam lucrando.

A tragicômica novela de Temer na Lava Jato nos reforça uma série de lições. Na democracia dos ricos, onde os políticos viajam a seu bel prazer em jatos particulares, fazendo acordos aqui e ali, desviando milhões e fazendo os trabalhadores pagarem a conta, a casta política governa pra eles: pra empresários como o corrupto Joesley Batista, da JBS, empresa que demite trabalhadores por fazer abaixo assinado por melhores condições de trabalho, como ocorreu com Andreia Pires.

Esses políticos e juízes vivem num mundo de privilégios, absolutamente distantes das condições de vida da classe trabalhadora. Por isso, jamais governarão pra ela. Seus interesses são os interesses dos patrões. E a farsa das investigações contra a corrupção se escancara mais e mais.

É preciso combater todos os privilégios dos políticos, acabar com seus supersalários, fazer com que ganhem o mesmo que uma professora da rede pública, acabar com seus foros privilegiados e delações premiadas. Para combater a corrupção, inerente ao sistema capitalista e seus governos, é preciso que haja júris populares, que os mandatos sejam revogáveis.

O tempo corre. Para o dia 30 está sendo chamada mais uma greve geral. É preciso que tomemos as ruas com ainda mais força do que a que se expressou no dia 28 de abril e no dia 24 de maio em Brasília, exigindo que haja uma nova Assembleia Constituinte Livre e Soberana no país, que revogue todas as reformas antipopulares e mude as regras desse jogo sujo. Que retire os privilégios dos políticos e dê uma resposta consequente ao problema da corrupção, impondo julgamento popular aos corruptos e o confisco dos seus bens. Essas são apenas algumas das tarefas da Assembleia Constituinte que devemos impor com a força da nossa luta, e essa é a bandeira que as centrais sindicais e movimentos populares devem levantar, sendo consequentes com a demonstração de força que a classe trabalhadora tem dado e com a revolta da população, e não aumentar a sua ilusão nesse regime podre que é a democracia burguesa por meio da defesa das Diretas já. É possível e é urgente darmos respostas contundentes à crise política que está posta hoje no Brasil.




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