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Direto dos EUA | Tatiana Cozarelli, do Left Voice, fala sobre a luta no Texas para garantir o direito ao aborto

O Esquerda Diário entrevistou Tatiana Cozarelli, do Left Voice, sobre a batalha das mulheres no Texas e em todos os EUA para que o direito ao aborto seja lei.

terça-feira 28 de setembro de 2021 | Edição do dia

Esquerda Diário: No Texas, se avança a criminalização do aborto. Por que a direita faz esse ataque agora?

Tatiana: No Texas, o que se aprovou foi uma lei que torna ilegal a realização do aborto após a gestação alcançar seis semanas. Hoje, 85% dos abortos no Texas são após as seis semanas. Isso significa que as pessoas teriam que irem a outros Estados para realizar o procedimento do aborto previsto pela Corte Suprema. Essa lei também permite que qualquer pessoa denuncie a prática do aborto pós seis semanas no Texas e os profissionais envolvidos no procedimento, por exemplo, tem um médico no Texas que publicizou que realizou um aborto para uma paciente após as seis semanas e foi denunciado por duas pessoas de fora do Estado, que serão recompensadas com 10 mil dólares!

Outra questão importante de dizer, é que a Corte Suprema manteve essa lei, ou seja, não falou que ela era contra a Constituição. Mas esse ataque, está contextualizado em uma série de ofensivas da direita há muitos anos, desde que o aborto foi permitido pela Corte como um procedimento legal, e isto acontece de formas diferentes em cada Estado, por exemplos, em uns as pessoas têm que esperar 24 horas entre realizar o pedido do aborto e fazer o procedimento, em outros se as pessoas têm menos de 18 anos, precisam da autorização dos pais para realizar o aborto.

Enfim, há uma série de ataques em distintos níveis ao direito ao aborto, sobretudo em Estados governados pelo partido republicano, mas não só, também pelo partido democrata, como no caso do seguro médico que se consegue através dos governos para pessoas pobres não poder ser utilizado para cobrir financeiramente a realização de um aborto; essa proposta foi feita nos anos 80 por um democrata.

Esses ataques então, que vêm de muitos anos, ganham força com a Corte Suprema atual, que são apenas 9 pessoas eleitas por ninguém, escolhidas pelo presidente, que não são revogáveis e têm o poder de decidir sobre os corpos das mulheres, das gestantes, de todo o país. Inclusive, entre essas 9 pessoas, 2 são acusados de assédio por tocarem mulheres sem a permissão delas.

Esquerda Diário: Como o governo Biden se posiciona diante desse ataque ao direito de decidir das mulheres?

Tatiana: Joe Biden apesar da demagogia de dizer que é horrível o que está acontecendo, ele apoiou que o seguro médico destinado aos mais pobres, não possa ser utilizado pelas mulheres para realizar o aborto, além de claro, ter passado anos no Congresso sem apresentar uma lei que defendesse que as mulheres têm direito ao aborto, já que, o que torno o aborto um procedimento legal no país, foi uma decisão da Corte Suprema anos atrás, mas não há uma lei aprovada em torno desse direito.

A administração de Biden diz que o que está acontecendo no Texas não é constitucional, no entanto, segue sem rever as medidas que mencionei acima e ainda, mantém em suas fileiras parlamentares que são contra o direito ao aborto, tendo dois deles já publicizado que votarão contra esse direito no Senado.

Está colocado que nos próximos meses a Corte Suprema revisitará o caso Roe vs Wade de 1973, que foi o que tornou a prática do aborto legal no país e ao que tudo indica, mudará sua posição e decisão diante do direito ao aborto, tornando essa ofensiva reacionária não só uma realidade no Texas, mas em todo o país. Diante disso, já sabemos que o partido democrata utilizará nossa batalha em troca de nossos votos nas eleições, se apresentando como quem irá defender o direito ao aborto, mas na prática já sabemos que isso não aconteceu e segue sem acontecer.

Esquerda Diário: A criminalização do aborto no Texas, assim como outras menos restritivas em outros Estados, impactam certamente em todos os E.U.A. Qual o caminho para o movimento de mulheres barrarem essa ofensiva reacionária?

Tatiana: Nos EUA a gente viu um movimento de mulheres nas ruas muito grande, quando Trump ganhou as eleições, milhões de pessoas corretamente falando contra o machismo de Trump, mas um ano depois, essa mesma mobilização chamou a levar essa força para as urnas, para votar nos democratas. Então temos como lição desse processo, não repetir os mesmos erros de 2017/2018, porque estamos vendo que é preciso confiar somente nas nossas próprias forças, das mulheres, dos trabalhadores, dos negros, LGBT´s, pois a Corte Suprema não vai levar adiante os nossos direitos e tampouco, o partido democrata.

Precisamos nos inspirar nos exemplos da Argentina, da Irlanda, inclusive do México, aonde movimentos muito grandes tomaram às ruas para batalhar pelo direito ao aborto e esse é o caminho para nossa luta, e não dedicar nossas forças nas urnas para dar poder ao partido democrata e nem esperar com fé na Corte Suprema, e sim, tomar em nossas mãos a construção de um movimento pelo direito ao aborto, não só pelo direito ao aborto em si, mas pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito, já que nos E.U.A ele não é gratuito, porque todo o sistema de saúde é privatizado. Com isso, é necessário defender o direito ao aborto como questão de saúde, e lutar também por saúde pública e gratuita. Ou seja, não depositar nossas forças nem na Corte nem no partido democrata, e ligar a luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito - e não só pelo direito ao aborto que como a gente viu nos últimos 30 anos, pouco a pouco vão tirando da gente -, com à luta pela saúde pública e gratuita, unificando nas ruas e locais de trabalho e estudos as nossas demandas.




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