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ITÁLIA | Explosão de greves espontâneas na Itália pelo coronavírus: "Nossa saúde antes de seus lucros"

Uma onda de descontentamento entre os trabalhadores e greves espontâneas varrem a Itália em rechaço às medidas de emergência do governo e à decisão de manter as fábricas abertas enquanto lojas e comércios estão fechados.

Diego LotitoMadri | @diegolotito

quinta-feira 12 de março de 2020 | Edição do dia

Foto: SiCobas

Está tendo forte repercussão nas fábricas italianas a decisão de fechar as lojas e negócios na Itália, mas deixar as fábricas e as atividades de produção em operação. De Brescia a Mântua, e nas províncias de Asti, Vercelli e Cuneo, no norte da Itália - a zona mais industrializada - são registradas greves espontâneas com participação muito alta. Os sindicatos estão em alerta para garantir os níveis de segurança sanitária das plantas.

O poderoso sindicato Fiom (Federação de trabalhadores metalúrgicos) reagiu duramente à nova Portaria de Emergência contra o Coronavírus. Em uma declaração, levantou a necessidade de proteger tanto o trabalho quanto a saúde dos trabalhadores. A secretária geral da Fiom, Francesca Re David, definiu como “inaceitável a falta de medidas e iniciativas no novo DPCM (Decreto do Presidente do Conselho de Ministros) destinadas a proteger os trabalhadores que garantem a viabilidade econômica do país em uma grave emergência” e pede “ao governo que convoque urgentemente uma reunião para fazer frente a situação de emergência dos metalúrgicos".

A Fiom chama "mobilização imediata para iniciativas destinadas a verificar se as empresas garantem condições de saúde e segurança dos trabalhadores também por meio de paralisações para uma redução programada da produção".

Se multiplicam os protestos e greves por segurança

Em todo o país, há explosões de raiva e descontentamento entre os trabalhadores, que se queixam de desatenção por parte dos empregadores e entram espontaneamente em greve.

Na fábrica da AST, em Terni, oito horas de greves foram convocadas, começando às 6 horas desta sexta-feira, para cada turno de trabalho até 13 de março. Enquanto na empresa Fincantieri, em Marghera, os sindicatos confirmaram o início do protesto pela emergência da segurança no trabalho. "É impossível respeitar as regras - por exemplo, com três carpinteiros subcontratados em Ansa - você não pode fazer esse trabalho a uma distância de um metro um do outro, seria melhor fechar tudo. Esse vírus é um desastre e não nos sentimos protegidos".

“Não somos carne de matadouro”

A área de Brescia também amanheceu com uma onda de greves espontâneas em algumas fábricas que não fecharam a produção. "Não somos carne de matadouro", disseram os trabalhadores de algumas empresas da província, que exigem a suspensão da atividade por 15 dias. "Estamos discutindo com as empresas como lidar com essa situação. Estamos registrando greves em quatro ou cinco setores ”, disse o secretário de Cgil de Brescia, Francesco Bertoli.

Outro caso é o dos trabalhadores de Corneliani em Mântua, a fábrica da histórica marca de moda masculina, que decidiram fazer greve "para proteger sua saúde". Há 450 trabalhadores que espontaneamente cruzaram os braços esta manhã "para pedir que não haja cidadãos A e B: a saúde é uma e pertence a todos".

O USB (Union Sindical de Base) proclamou uma greve de 32 horas nos setores industriais não-essenciais, pedindo "medidas drásticas para salvaguardar a saúde e os salários dos trabalhadores".

De Tarnato também chegam reclamações, onde a Fim Cisl denuncia o comportamento da empresa Leonardo em Grottaglie quea falta de proteção dos trabalhadores.

“Contra os patrões e o coronavírus, nossa saúde vem antes que seus benefícios”

Os delegados do sindicato USB denunciam que a maioria dos trabalhadores não tem máscaras protetoras e que as luvas também são insuficientes. "Eles só nos dão um par por dia", dizem os trabalhadores. E o álcool-gel não é visto há muito tempo. Os trabalhadores da empresa de logística Bartolini de Caorso, na província de Piacenza, denunciam as condições de trabalho que estão muito longe de oferecer segurança à saúde a todo o pessoal. Por isso estão em greve e afirmam poder trabalhar em outras condições com "segurança" para sua saúde.

Por essa razão, os trabalhadores têm se mobilizado ao grito de "contra os patrões e o coronavírus" e com o lema "saúde antes dos benefícios". "O armazém não é desinfetado, as ferramentas não são desinfetadas", diz o delegado de segurança da Usb Logistics em um vídeo difundido em sua página no Facebook.

Os delegados denunciam que os trabalhadores da logística entregam mercadorias e pacotes em toda a Itália há semanas, inclusive para pessoas em quarentena, que em teoria nem deveriam abrir suas portas, expondo-se ao risco de infecção por coronavírus, sob a total indiferença das autoridades políticas, administrativas e de saúde.

Protestos também na IKEA e no porto de Gênova

Alguns dias atrás, o protesto foi liderado pelos trabalhadores da IKEA Anagnina em Roma. Eles pararam de trabalhar, alegando que não podiam fazê-lo com segurança, já que não eram garantidas as distâncias exigidas entre as pessoas. A empresa assegurou que se cumpriam as recomendações das autoridades europeias.

Os trabalhadores do Terminal PSA Genova Pra’ também entraram em greve em 11 de março, alegando que não foram tomadas medidas como a desinfecção de instrumentos de trabalho, como guindastes e outras máquinas.

Que a crise seja paga pelos capitalistas

Diante de uma grande crise de grande magnitude na Itália, devido ao coronavírus, que está afetando toda a população, foi imposta uma "quarentena" quase permanente e milhões de trabalhadores e trabalhadoras italianos estão expostos a condições insalubres de trabalho, sem garantias de sanitárias fundamentais, tudo para priorizar os lucros dos empresários capitalistas.

Os protestos nos locais de trabalho, greves e a auto-organização são uma resposta necessária para enfrentar a arrogância patronal e começar a discutir as medidas necessárias para enfrentar esta crise, alocando um orçamento maior ao sistema público de saúde, desapropriando laboratórios, clínicas privadas e empresas farmacêuticas para disponibilizar à população todos os recursos necessários e estabelecer licenças sem reduzir salários para todos os trabalhadores em risco de contágio, garantindo a proibição de demissões ao longo de todo este período, entre outras medidas de emergência. Porque, como dizem os próprios trabalhadores, nossas vidas vêm antes de seus benefícios.

Fontes: La Repubblica, Il Secolo XIX, Secolo d’Italia, Il Messaggero, La Voce Delle Lotte.

Tradução: Caio Reis
Texto originalmente publicado pelo La Izquierda Diario.




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