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O assassinato e tortura de negros em supermercados vem sendo algo cada vez mais comum no regime do golpe. O caso do assassinato de Bruno e Yan mostram que o lucro dos empresários e a violência racial andam lado a lado.

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

terça-feira 4 de maio de 2021 | Edição do dia

A carne mais barata do mercado é a carne negra, casos como de Nego Beto no Carrefour, o caso de um jovem de 17 anos amarrado e torturado no supermercado Ricoy em São Paulo por furtar barras de chocolate para comer, o caso de Pedro Henrique estrangulado e asfixiado por um segurança do supermercado Extra no Rio de Janeiro, mostram que vida de negros e negras não estão a salvo nos estabelecimentos de empresários milionários.

O caso do tio, Bruno Barros (29) e o sobrinho Yan Barros (19) entregues pelos seguranças do supermercado Atakarejo a traficantes da região para serem executados por terem furtado carne, escancaram o nível de barbaridade da violência racista e como empresários são coniventes com este tipo de prática.

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O dono do Atakarejo, Teobaldo Luís da Costa, é um empresário que declarou ter R$341 milhões em patrimônio, foi candidato pelo DEM à prefeitura de Lauro de Freitas e possui 23 lojas na Bahia, em 2018 o lucro da empresa chegou a R$1,50 bilhão. Não é a primeira vez que um caso absurdo desse envolvendo racismo e violência por conta de furto em um de seus estabelecimentos acontece. Uma jovem de 15 anos relatou ter passado por uma sessão de espancamento e tortura por ter roubado produtos no supermercado Atakarejo no bairro de Amarelina em Salvado. Ela conta que sobreviveu porque conseguiu fugir.

A medida que lucram bilhões esses burgueses tratam esses jovens como suas não valessem nada, ainda que tenham um discurso de que não compactuam com esses “excessos” cometidos por seus funcionários, práticas racistas como tortura e assassinato continuam sendo bastante comuns em seus supermercados. Isso, é claro, com o consentimento de todo o regime do golpe.

Um caso tão absurdo e revoltante como esse levou centenas de manifestantes e ativistas do movimento negro à porta do supermercado para exigir resposta e justiça a Bruno e Yan. Até agora não se ouviu nenhuma palavra do empresário Teobaldo Costa, nem mesmo do governador da Bahia Rui Costa (PT) que pouco importam com as vidas negras ceifadas seja pelo covid e por sua polícia militar que 97% de suas vítimas eram pessoas negras. Esse silêncio é acompanhado também por todos os atores do golpe militar e principalmente de Bolsonaro e os militares que na verdade são um ponto de apoio para o aprofundamento do racismo estrutural e da violência racista.

Empresários e políticos desse regime que não tem nada a oferecer aos trabalhadores e a população negra e pobre são responsáveis por esse tipo de prática racista e violenta que arrancou a vida de Yan e Bruno. Apenas num país fortemente atravessado pelo racismo estrutural que seguranças de uma rede de supermercados que lucra bilhões entregaram suas vidas na mão de traficantes para fazer "justiça" e servir de "exemplo" para que outras pessoas não repitam isso. Mesmo seus familiares e eles mesmo implorando para não morrerem, mesmo assim esses seguranças os entregaram com nenhum remorso e ainda chantagearam uma família de trabalhadores para dar 10 mil para que Bruno e Yan não fossem mortos. Isso que aconteceu é bárbaro e covarde, algo desse tipo só acontece porque por trás dos corpos deles tem a ganância de um capitalista que prefere ver dois negros assassinados do que uma mercadoria sua furtada. Pros capitalistas nossa carne ainda é a mais barata!

Nos solidarizamos com os familiares e amigos de Yan e Bruno e todos os negros e negras que foram torturados, espancados e assassinados por conta dos lucros dos capitalistas. Exigimos justiça. Vidas negras importam!




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