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Greve Aeronautas | Somente uma forte greve de aeronautas pode derrotar os ataques das empresas aéreas

Mesmo com significativa recomposição do setor aéreo, as empresas se negam a recompor a perda salarial dos aeronautas e aeroviários após dois anos sem reajuste. Os aeronautas estão chamando a necessidade de uma greve para conquistar nada mais do que o justo: um salário digno após tantas perdas.

segunda-feira 15 de novembro de 2021 | Edição do dia

Legenda: Greve de aeronautas e aeroviários em 2016. Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press

Os patrões querem ficar com tudo para seus lucros, usufruindo da “vida boa” e dos seus luxos as custas do trabalho alheio e impondo mais perdas nas condições de vida e trabalho dos funcionários. É isso que ficou claro na última reunião de negociação entre o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA, entidade patronal) e o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). Devido a essa atitude da patronal, as trabalhadoras e os trabalhadores aeronautas de todo o país indicaram que podem entrar em greve nestas próximas semanas. Uma luta que pode se tornar exemplo a todos trabalhadores do país que vem sofrendo com a crise econômica, desemprego e inflação.

A indignação dos trabalhadores é totalmente legítima. Desde 2020, as empresas aplicaram ataques draconianos contra as condições de trabalho nos voos e nos aeroportos. Foram mais de 2700 demitidos apenas na Latam - soma-se em milhares se somarmos os demitidos de todas as companhias, entre efetivos e terceirizados - licenças não remuneradas, jornadas de trabalho exaustivas e já há dois anos sem aumento de salário. Isso significa que, ao final de 2021, o salário dos aeronautas terá um poder de compra aproximadamente 15% menor do que o de dois anos atrás (IPCM de 4,81% em 2020 e segundo projeções econômicas o índice pode atingir aproximadamente 10% em 2021). Isso no país do governo Bolsonaro, onde a fome e a precarização da vida alcança índices históricos. Essa perda equivale a uma redução salarial e portanto é inaceitável.

AERONAUTAS EM LUTA | Por trás da recuperação das Cias Aéreas está a exploração do trabalho

As empresas aéreas vêm apresentando balanços econômicos extremamente positivos, recebendo estímulos financeiros, comprando concorrentes, aumentando a malha aérea e apresentando lucros imensos. Além disso, segundo informações do SNA, o gasto com folha de pagamento – que chegou a ter redução de até 80% durante a pandemia, como no caso da GOL – equivale a apenas 7% do orçamento das empresas. Isso deixa claro que o quê está por trás dos ataques das empresas aos trabalhadores é a sede de lucro voraz dos empresários e acionistas bilionários da aviação e o completo desprezo destes com os trabalhadores que são quem realmente fazem os aviões voarem.

A precarização do trabalho também afeta a segurança da aviação

Além de todo o drama para as famílias dos trabalhadores que representa a perda salarial e as extenuantes jornadas de trabalho em um país que vive uma enorme crise social e econômica, esses ataques também significam um risco para a segurança na aviação.

As atuais condições de trabalho dos aeronautas foram conquistadas com muita luta, desde o final dos anos 80, passando pelos anos dois mil e a votação da lei do aeronauta em 2017. A luta dos trabalhadores foi responsável por elevar os níveis de segurança da aviação para níveis inéditos na história. Isso porque um transporte aéreo seguro envolve necessariamente condições de trabalho que permitam ao aeronauta estar efetivamente concentrado em todos os procedimentos de segurança do voo. A limitação do tempo de jornada de trabalho e regulamentação do tempo de voo dos aeronautas é um exemplo disso. Mas não apenas, todas as lutas que passam por melhores salários e condições econômicas que permitam uma adequada atividade no trabalho são parte da segurança de voo.

Ou seja, os principais responsáveis pela segurança da aviação hoje são os próprios trabalhadores e suas lutas e os ataques dos empresários sempre representou a busca do lucro acima da vida. Todos os passageiros também sofrem com esses ataques da empresa.

A organização dos trabalhadores é fundamental para enfrentar esses ataques

É necessário construir espaços de organização e luta que permitam aos trabalhadores se expressarem ativa e democraticamente, onde possa se organizar a principal força de uma greve, a união dos trabalhadores

O primeiro espaço para que isso aconteça é a organização sindical e de luta através da greve – que é um direito de todo trabalhador. Para isso, as assembleias locais e reuniões de construção da greve são fundamentais para que os próprios funcionários tomem a luta nas próprias mãos. Em momentos como o atual, de alta comoção e indignação dos trabalhadores, esse espaço pode e deve ser ampliado e radicalmente democratizado. Isso é muito importante para que os caminhos de nossa mobilização expressem verdadeiramente os interesses dos que melhor sabem como fazer isso, os próprios trabalhadores.

Os aeronautas trabalham em equipes que compreendem todo o território nacional. Nesse sentido, um dos maiores desafios para uma greve forte é conseguir unificar o conjunto dos trabalhadores. A assembleia presencial para a votação da greve acontecerá na sede do SNA após o dia 20 (com dia e horário ainda a serem definidos pelo SNA), quando se encerra o prazo final da negociação. Chamamos a todas e a todos os aeronautas a estarem na assembleia e mostrarem a força dos trabalhadores.

Além disso, é importante que a mobilização seja impulsionada desde já pela base. Devido a essa característica de trabalho em aviões e aeroportos por todo o país, para que todos possam realmente expressar suas vozes e propostas para o encaminhamento da greve e assim fazer frente aos ataques das empresas, é necessário ir além e impulsionar imediatamente Comitês de Greve, com responsáveis votados como delegados (como se fossem chefes de tripulação para a greve) em cada tripulação por todos os voos de todas as companhias pelo país.

Isso poderia ser feito de forma a estabelecer um prazo de dois ou três dias para a votação de cada delegado em cada tripulação e em seguida fazer com que os responsáveis delegados nas tripulações pelo país constituam um grande Comando Geral de Greve, que se reúna e pelo qual possam se expressar democraticamente as propostas e decisões de cada tripulação, em cada um dos milhares de voos pelo país.

Ao expressarem as propostas de cada tripulação, os delegados poderiam unificar efetivamente o conjunto dos trabalhadores aeronautas para a greve. Coordenar para propor ações unificadas em diferentes aeroportos do país, como manifestações e panfletagens de conscientização, criando assim uma força enorme e uma união entre os trabalhadores que pode derrotar a patronal. Além disso, esses delegados deveriam levar de volta e organizar em cada uma de suas tripulações cada proposta de manifestação, panfletagem e ações de greve que podem surgir, além de poderem ser revogados e novos delegados votados em caso de que novas pessoas se proponham ou em caso de troca de tripulação para novas jornadas de trabalho.

O Comando Geral de Greve não substituiria a direção do SNA, mas sim atuaria coordenadamente com as decisões votadas em Assembleias Gerais, como as que decidem pela greve. A responsabilidade para impulsionar e dar todas as condições materiais para a criação do Comando Geral de Greve e concretização das ações seria do SNA, que tem recursos financeiros, jurídicos e materiais em geral para isso. Essa pode ser uma forma bastante efetiva de coordenar todos os trabalhadores e uma tradição das lutas de categorias de trabalhadores no mundo. Acreditamos também que essa forma de organização pode ser a força motriz fundamental para a vitória da greve.

A enorme força da categoria de aeronautas pode conquistar uma vitória, em apenas um dia de greve já seriam milhões em prejuízos. E mostraria um ganho subjetivo enorme a todos trabalhadores, que é possível lutar e vencer, essa conclusão é a que as empresas mais temem. Por isso é fundamental que todas as centrais sindicais, como a CUT, e organizações da esquerda, bem como seus parlamentares se coloquem desde já em solidariedade com essa luta, para expandir e impedir que esse processo fique isolado, organizando uma grande campanha de solidariedade e apoio à luta das e dos aeronautas pelo país.




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