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Um post de facebook da irmã, Mayara Rodrigues, com mais de 180 mil curtidas conta a história de Amanda Rodrigues. Ela não foi miss, tampouco princesa. Hoje Amanda é mais uma vítima do cruel padrão de beleza. E ela tinha apenas 19 anos.

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Escrevo este texto com o coração partido. Por Amanda, a quem nunca conheci, e por milhares de meninas e mulheres que se sentem aprisionadas a um corpo que não amam, porquê assim as ensinaram, que não confiam em si mesmas, se sentem vulneráreis, fragilizadas por uma sociedade doentia que lhes obriga a odiar a si mesmas.

Quem era Amanda? Era uma moça "gordinha e muito alegre. Boa de coração e cheia de alegria" nas palavras da irmã. Ser boa de coração deveria bastar pra todo ser humano, mas a vida de Amanda não foi fácil. Preconceito, vergonha e até agressões. Com a cirurgia bariátrica Amanda acreditava que todo preconceito que sofria iria ter fim "Eu vou ficar bonita, as pessoas vão gostar de mim”. Veja o post completo de Mayara Rodrigues aqui.

Por um erro médico, como afirma a irmã, Amanda morreu de embolia pulmonar decorrente da cirurgia. Ela não pode saber que já era bonita, não importava seu peso. Afinal, as propagandas e o padrão e beleza sempre disseram o contrário.

Amanda, assim como milhares de mulheres, foi vítima da sociedade capitalista miserável, que criou um padrão de beleza inatingível e nos educou, como mulheres, a odiar nossos corpos e desacreditar nas nossas forças. Só os acontecimentos desta semana são provas da sociedade doentia em que vivemos.

Primeiro a enxurrada de críticas, piadas grosseiras sobre a Miss Canadá, Siera Bearchell, nono lugar no Miss Universo. Caberia um texto só pra falar sobre concursos de beleza, mas isso não importa agora. A Miss Canadá não é tamanho 36, tampouco é gorda. É linda sem sombra de dúvidas. Mas ao fugir um pouquinho do padrão (um pouquinho porque, afinal, ela ainda é Miss) sofreu uma série de críticas sobre seu peso.

Ainda hoje li um texto de como as meninas hoje já não se acham inteligentes. Meninas de 6 anos! Não se acham inteligentes porque são educadas para serem princesas, não astronautas, cientistas ou pilotas de avião ou o que quiserem. Em tempos de decadência da monarquia, ser princesa é o equivalente a educar meninas para serem belas, recatadas e do lar. Não educamos as meninas para confiarem em si mesmas, a acreditarem nas suas potencialidades. Desde crianças lhes é imposto, mesmo que de forma velada, um padrão de beleza e de mulher. Porque as princesas são magras (alguém lembra de alguma princesa gorda?), não tem aspirações outras que não o casamento e são educadas para esperarem seu príncipe encantado. É ele quem as salvam do mal.

Embora a Disney já tenha percebido o nicho de mercado que é o feminismo e lançado novas "princesas", na prática ainda é a Cinderela quem dita o padrão. Nele o vestido bonito e o príncipe vêm juntos no pacote.

É preciso que a morte de Amanda não seja apenas mais uma estatística médica. Mais do que tudo precisamos mostrar para homens e mulheres que é preciso lutar contra esses padrões de beleza inalcançáveis. E isso não se trata de mero empoderamento. É preciso entender como o sistema capitalista usa dos padrões de beleza para oprimir as mulheres. Como a frustração com o próprio corpo é nicho de mercado para os capitalistas.

A libertação de todas as mulheres, de todas as Amandas, passa por lutar contra esse sistema capitalista que lucra com a exploração e opressão dos nossos corpos.

Não somos princesas, somos mulheres em luta pela libertação dos nossos corpos!




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