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PROFESSORES | Sindicato patronal apela para negacionismo para defender retorno às aulas presenciais no RJ

O SINEPE RJ, que representa os donos de escolas particulares no Rio de Janeiro, causou revolta nas redes sociais com a divulgação de um vídeo onde apelava para um discurso negacionista para justificar o retorno as aulas presenciais. A repercussão foi tão negativa que o vídeo foi retirado do ar, mas a patronal mostrou que na hora de defender o lucro dos empresários, a vida dos trabalhadores e estudantes fica em segundo plano e qualquer discurso é válido.

Luiz HenriqueProfessor da rede estadual em Resende, RJ

quarta-feira 29 de julho de 2020 | Edição do dia

Imagem: Reprodução/ Facebook

Em um bizarríssimo vídeo divulgado nas redes sociais, o sindicato dos estabelecimentos de ensino no Estado do Rio de Janeiro (SINEPE RJ) pediu o retorno as aulas, em um momento em que o Brasil registra mais de 80.000 mortos, que aumenta numa razão diária de mais de mil óbitos por dia. Mas no entendimento do sindicato, essa situação não é nada demais, pois de acordo com o vídeo “o COVID nunca irá de todo, o que acaba é o medo”, como se o medo e não o COVID fosse responsável por todas estas mortes.

Mas isso não é tudo. De acordo com os roteiristas desta peça publicitária, “a ciência é a vacina, estudos só confundiram”. Muito sugestivo que o vídeo tenha sido divulgado logo após a FIOCRUZ ter publicado um estudo onde aponta que cerca de 9,3 milhões de pessoas correrão risco com a abertura das escolas em plena pandemia, este vídeo na verdade apela para um negacionismo científico bem explicito, do tipo “a ciência boa é que concorda com nossos interesses”. O que chega a ser até espantoso neste argumento é que ele sequer faz sentido do ponto de vista de ser uma justificativa para o retorno as aulas, já que ainda não existem vacinas disponíveis contra o COVID-19.

O trecho seguinte do vídeo é bem mais cínico: “trancar todos em casa não é ciência, confinar é desconhecer, é ignorar, é subtrair vida, é fragilizar, é debilitar, é mexer com o emocional, as crianças precisam voltar a se relacionar, a brincar, refazer laços...”. A falácia neste caso é mais elaborada. Como viemos denunciando desde o início da pandemia a quarentena que vem sendo empregada pelos governos mal pode ser considerada uma quarentena de fato, já que é um direito negado a maioria dos trabalhadores, mesmo os de setores não essenciais. Além disso, sem testagem para a população, sem distribuição de EPIs, auxilio emergencial em um valor digno para a população (pelo menos R$ 2.000,00, a média salarial antes da pandemia), realmente pouco resta de científico na quarentena, que passa a não se diferenciar em nada das metodologias aplicada durante a gripe espanhola há mais de um século. No entanto de forma alguma essa quarentena pode ser considerada uma medida dispensável, muito pelo contrário, ela é insuficiente. Usar deste aspecto para justificar um discurso de que os impactos na subjetividade da população são um problema maior do que a contenção que a quarentena faz a doença (ainda que esta poderia ser bem mais eficiente) chega a soar cruel. É apelar para os dilemas e sofrimento de milhões de jovens que graças a crise sanitária causada pelos anos de precarização da saúde causada justamente pelo sistema capitalista, estão tendo realmente uma parte de sua juventude subtraída, para tentar expô-los a riscos muitos piores, em nome do lucro dos empresários da educação.

E por fim, há uma contradição fundamental sobre o papel da escola. Se o próprio vídeo reconhece que o papel da escola também de é o de convivência, de socialização, isso implica necessariamente na proximidade física, no respeito ao corpo do outro, como já discutimos em outro texto. Assistir a patronal tentando se apropriar deste debate é de um cinismo incrível, já que sabemos que em um contexto de pandemia esses aspectos da escolarização não poderão ser retomados de uma forma tão simples e afinal sabemos que esta reabertura das escolas está sendo capitaneada por uma classe cujo interesse apenas de ter um “depósito” para os filhos da classe trabalhadora enquanto seus pais saem todos os dias para serem explorados e fornecerem mais-valia a burguesia.

A repercussão deste vídeo foi tão negativa que o SINEPE RJ o retirou do ar em seus canais oficiais, depois da manifestação da grande mídia e diversas entidades. Mas isto não é suficiente, este vídeo foi apenas uma amostra de como a burguesia realmente pensa, e a eles não deve ser dada nenhuma confiança. Quem deve decidir como e quando retomar as aulas não são os grupos de empresários que colocam seus lucros acima da vida, ou políticos interessados em administrar os negócios da classe burguesa, alimentando com isto um sistema apodrecido. Quem deve decidir são os trabalhadores, a partir das comunidades escolares, junto aos profissionais e estudantes que estão dentro das escolas. E é preciso ter clareza que somente uma saída independente dos trabalhadores pode não somente impor um limite aos ataques de Bolsonaro, Mourão e os militares, que conduzem os ataques da burguesia, mas também mudar as regras do jogo para que a população realmente possa decidir, através de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.




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