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IMPEACHMENT - ARTICULAÇÕES | Serra anuncia negociações com Temer sobre possível governo pós-impeachment

Marília Rochadiretora de base do Sindicato dos Metroviários de SP e parte do grupo de mulheres Pão e Rosas

segunda-feira 21 de março de 2016 | 23:32

Acreditando na iminência do impeachment, José Serra disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo que estaria negociando as condições para um possível governo de “Reconstrução Nacional”, a ser construído caso a presidente Dilma caia e assuma o vice Michel Temer. Segundo o tucano, um eventual governo Temer deveria estabelecer alianças e cumprir com algumas condições para manter um governo de unidade entre todas as forças interessadas na “recuperação do País”. A declaração de Serra teria se dado após conversa com Temer e também com interlocutores, entre os quais estariam os ex-ministros Nelson Jobim e Armínio Fraga, o deputado Roberto Freire (PPS-SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Condições para unidade

Tais condições incluiriam em primeiro lugar um compromisso de não concorrer à reeleição, condição à qual Serra se refere aproveitando para reivindicar a PEC que está sendo debatida entre PMDB e PSDB pelo fim da reeleição, que em si já solucionaria o problema, segundo ele. O senador também sugere que para a conformação dessa aliança seria necessário que Temer não interferisse nas disputas municipais deste ano e nem nas eleições estaduais subsequentes, pois isso traria instabilidade. Além disso, inclui na lista de “exigências” que o possível governo pós-impeachment deveria montar um ministério “supreendente”, no qual “os setores essenciais devem estar sob o controle de figuras públicas de alta qualidade executiva e espírito público”, secundarizando as composições políticas e deixando claro que o PSDB poderá e “terá a obrigação” de participar do eventual governo. Leia-se um governo com grandes personalidades e empresários, ou seja, apoiado na FIESP e inspirado em governo do tipo do Macri na Argentina, que colocou diverso empresários no governo para fazer ajustes ainda mais brutais. Na entrevista o tucano diz também que esse novo governo não poderia promover retaliação a nenhuma força política, nem entre as que comporiam o governo, nem entre as que foram derrotadas.

Controvérsia

O vice-presidente Michel Temer, por outro lado, nega que esteja negociando um suposto novo governo pós-impeachment. Um comunicado de sua equipe de imprensa afirma que “Michel Temer não tem porta-voz, não discute cenários políticos para o futuro governo e não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública”. Ainda que sem citar diretamente o senador tucano, a equipe do vice-presidente disse categoricamente que “quando [Michel Temer] tiver que anunciar algum posicionamento, ele mesmo o fará, sem intermediários”. Temer acrescentou ainda que “não autorizo ninguém a falar por mim, muito menos formulando propostas por mim”.

Demagogia e planos para o futuro

José Serra aproveitou os holofotes para traçar planos e metas em áreas que diz considerar fundamentais. Segundo ele, é fundamental que um futuro governo reestruture a administração da área da saúde, que se encontra numa profunda crise. De fato os governos do PT foram responsáveis pela falta de investimentos e pelo alastramento de epidemias como as da dengue, zika e chikungunya nos últimos anos. Por outro lado, não é menos verdadeiro que os governos federais anteriores do PSDB, assim como os diversos governos estaduais que dirigem, não fizeram nada para solucionar a crise da saúde e garantir uma saúde pública e de qualidade para a população. Nessa entrevista, esconde também os planos de privatização da saúde, como os governos tucanos já vem realizando pela via de Organizações Sociais (OSs).

Deixando de lado suas demagogias em relação à saúde, Serra demonstra seus reais interesses na entrevista ao tratar dos problemas de economia e infraestrutura, seguramente beneficiando os mesmos banqueiros e empreiteiras que tanto lucraram seja com os governos do PT, seja com os governos do PSDB. O tucano chega até mesmo a defender abertamente a privatização da BRDistribuidora (ligada à Petrobrás) como forma de arrecadação financeira, usando como exemplo a privatização da área de seguros do Banco do Brasil.

Uma tentativa de saída para a crise?

Uma aliança mais clara entre PSDB e PMDB nesse momento aprofundaria uma suposta saída para a crise, que seria apostar na destituição do governo Dilma e num governo PMDB-PSDB, saída esta que vem carregada de contradições conforme analisamos aqui. Além disso, conseguir acordo no PMDB não seria fácil para Temer, que talvez por isso siga com um duplo discurso em relação às negociações com PSDB, negando-as inclusive. Isso também pode apontar para uma política do Temer e sua ala no partido de manter “um pé em cada canoa”, já que a própria Dilma não nega reconquistar a aliança com o PMDB. Por outro lado, as alas do PSDB também não tem consenso sobre o apoio do partido a um eventual governo Temer. Figuras da bancada do partido e setores da ala de Alckmin e Aécio consideraram “precipitadas” as declarações de Serra sobre negociações com o PMDB e sobre composição de um possível governo. Alguns parlamentares do PSDB inclusive criticaram Serra, que antes resistiu ao impeachment, por querer assumir o protagonismo do processo no lugar dos deputados.

Como derrotar o impeachment sem defender o governo do PT?

Temos visto, nas mudanças cotidianas da situação nacional, que Lula e Dilma tentam controlar a situação para evitar um impeachment e garantir um governo que implemente os ajustes necessários para a burguesia. Por outro lado, como fica claro nessas conversas e negociatas de bastidores, que os partidos tradicionais da burguesia querem derrubar o governo do PT para garantir ataques ainda mais duros. Pelas mãos de qualquer um dos dois lados não virá respostas para os trabalhadores e o povo. Por isso, como nós do MRT viemos defendendo aqui nesse Esquerda Diário, é necessário ar uma resposta de fundo e desde a classe trabalhadora para essa crise. Propomos uma Assembleia Constituinte Livre e soberana baseada nas mobilizações independentes dos trabalhadores e da juventude para barrar os ajustes e acabar com a impunidade de todos os poderosos do país.




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