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GRÉCIA | Se prepara a primeira greve geral contra o governo de Syriza

As duas grandes centrais sindicais do setor público e privado, ADEDY e CGSEE, convocam uma greve geral de 24 h nessa quinta-feira, a primeira contra as novas medidas de ajuste do governo do Syriza-Anel

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

quinta-feira 12 de novembro de 2015 | 00:24

Foto: Alexis Tsipras saindo de uma reunião de gabinete, 10 de novembro.
EFE /Yannis Kolesidis

Na próxima quinta-feira não haverá transporte público na área da grande Atenas. Não se moverão nem os metrôs, nem os trens. Os ônibus e as linhas urbanas de trens funcionarão só pela metade e por algumas horas, e no resto do dia se somarão às greves. Os sindicatos desses meios de transporte aderiram à greve geral de 24h, convocadas pelas centrais sindicais ADEDY e GSEE.

A Confederação Geral de Trabalhadores gregos (GSEE), que agrupa os sindicatos do setor privado, chama a uma greve geral para esse 12 de novembro, para enfrentar as medidas de ajuste e recortes que o governo do Syriza está impondo.

Um dos alvos centrais do protesto são as reformas ao sistema de pensões, que implicam um aumento da idade de aposentadoria e cortes nos valores recebidos. Os sindicatos questionam que com o novo pacote de medidas se obriga a trabalhar até depois dos 67 anos para ser possível aposentar-se.

O presidente da GSEE, Yannis Panagopoulos, qualificou as medidas como “monstruosas” e “dolorosas”, e disse que destruirão o sistema de pensões.
Por sua vez, a Confederação de empregados públicos gregos (ADEDY) também se somou ao protesto. Os trabalhadores públicos já haviam chamado a uma jornada de greve geral no mês de julho, quando se aprovou o pacote do terceiro memorando. Também tiveram uma jornada de luta em 21 de outubro, com uma mobilização às portas do Ministério do Trabalho e Assistência Social, em protesto pelos cortes do fundo de pensões dos trabalhadores públicos.

A corrente sindical PAME, impulsionada pelo Partido Comunista da Grécia (KKE) aderiu à greve de 24h e convoca mobilizações em mais de 50 cidades.

A União Europeia pressiona a Grécia por mais cortes

A reunião do Eurogrupo de segunda-feira foi o cenário de novas pressões sobre a Grécia para que complete e acelere o processo de reformas do terceiro resgate. Os integrantes do Euro bloquearam o pagamento de 2 bilhões até que a Grécia avance nas medidas que “estimulam” a recapitalização dos bancos, como são as reformas da lei hipotecária e o aumento das sanções para os devedores atrasados.

“Estamos um pouco sob pressão, porque a recapitalização será mais rápida do que pensamos. Os bancos têm que ser recapitalizados antes e por isso alguns assuntos que podíamos ter abordado adiante, terão que ser tratados agora”, assegurou o ministro das finanças grego, Euclides Tsakalotos.

A questão hipotecária é polêmica, porque o governo queria deixar de fora possíveis despejos a 72% das hipotecas, enquanto que os membros a troika pretendem que fique “protegido” apenas 20% das moradias.

Segundo os meios locais, o governo está disposto a ceder muito na porcentagem de moradias que estariam protegidas do despejo, até cerca de 55%.

Outro ponto conflituoso é como substituir o dinheiro que se esperava receber da imposição dos 23% do IVA ao ensino privado, que havia sido negociado inicialmente, mas que pouco depois se descartou. A alternativa que se especula é elevar a imposição fiscal dos jogos de azar. Nessa quarta Tsipras assegurou ao Eurogrupo que todas as reformas estariam prontas para a semana que vem, dando mostras de sua disposição de aplicar seja como for as exigências da UE e da Troika.

As greves gerais e o governo do Syriza

Entre 2009 e 2014 a Grécia viveu quase 30 greves gerais, 25 delas concentradas no período que vai desde o começo da crise até o ano de 2012. Nesse período houveram mobilizações de massas e lutas parciais, experiências de ocupação e controle operário de pequenas empresas, lutas operárias duras e prolongadas, e fenômenos estudantis e juvenis como o “movimento das praças”. Mas os dirigentes burocráticos dos sindicatos tiveram um papel chave para que essas lutas não se radicalizassem nem se unificassem, o que impediu derrotar os planos da troika.
Desde 2012 em diante, o forte ascenso de Syriza em intenção de voto marcou uma mudança do clima político. Nos dois anos seguintes, ainda que a mobilização social não cessou completamente, foi diminuindo, ao mesmo tempo que cresciam as ilusões em que um “governo de esquerda” do Syriza poderia frear as medidas de austeridade da Troika.

Em janeiro desse ano o Syriza ganhou as eleições, mas todas as expectativas geradas se viram rapidamente frustradas quando seis meses depois, e contra o que se expressou no referendo, Alexis Tsipras capitulou por completo diante da Troika transformando-se em um aplicador direto do ajuste.

A assinatura do terceiro memorando, um pacto de entrega total à Troika, teve um efeito desmoralizador já que significou uma derrota – sem poder dar luta – para os trabalhadores e o povo grego, desferida nada menos que por quem se apresentava como um “modelo” da esquerda europeia que dizia enfrentar a austeridade. Nesse marco, Tsipras voltou a ganhar as eleições.

O chamado à primeira greve geral contra o governo do Syriza nessa quinta-feira, junto com outras mobilizações e lutas parciais que começaram, se colocam em um novo período em que os trabalhadores e a juventude devem reconstituir suas forças e formas de auto-organização para enfrentar o governo do Syriza-Anel e seus planos antipopulares.




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