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GOLPE EM CURSO | Com demagogia de defesa dos trabalhadores e combate à corrupção, senadores defendem o impeachment

O dia de hoje é um dia histórico para a política brasileira. Teve início pela manhã a sessão do Senado que vota a abertura do processo de impeachment de Dilma que, se aprovado hoje, a partir de amanhã Dilma é afastada por até 180 dias, assumindo seu vice Michel Temer. Os discursos estão recheados de demagogia em defesa dos trabalhadores, de combate à corrupção. Porém o tom discrepante com a Câmara visa, tal como o afastamento de Cunha e cassação de Delcídio dar uma "cara limpa" ao golpe.

quarta-feira 11 de maio de 2016 | Edição do dia

Foto: Pedro França/Agência Senado

A sessão começou com uma hora de atraso e uma série de “questões de ordem”, algumas da bancada do PT pedindo a anulação da votação de hoje. Com a anulação negada por Renan Calheiros e depois pelo próprio STF em decisão monocrática sobre liminar de Teori Zavacki, teve início as 68 falas dos senadores inscritos, cada um com direito a longos 15 minutos de fala. Diversas falas vieram acompanhadas de exaltação ao senador Anastasia, redator do processo.

Diferente do show de horrores na Câmara dos Deputados no fatídico domingo, 17, as votações de hoje não destilam reacionarismo, menções a deus, suas famílias, empresários e nem felicitações ao aniversário da neta, mas procuram fundamentar seus votos. Provavelmente por terem visto que aquelas horas seguidas de falas bizarras e até exaltação a torturador pega bem mal entre a população, que passou a questionar muito aqueles que teoricamente nos representam.

Essa mudança de tom é parte da operação de “limpar o golpe”, fazê-lo passar sem ter a cara de que é a manobra que é, de que não é algo “seletivo” contra Dilma, assim como foi o afastamento de Cunha e a cassação de Delcídio do Amaral, e gerar mais confiança da população nessa casta política e no STF.

Marta Suplicy, uma das primeiras a falar, defendeu que é hora de cortes nos gastos, assumindo completamente o discurso que o governo do seu PMDB com Michel Temer a frente será, além de golpista, um governo de mais duros e rápidos ataques.

A maioria dos pronunciamentos na casa, se dessa vez não eram carregados do reacionarismo da Câmara, eram tomados de demagogia.

Discrepando com o "tom responsável" e da demagogia de defender os trabalhadores, um senador, o pastor evangélico Magno Malta do PR-ES, declarou seu voto para "amputar a perna apodrecida", colocar fim ao "Foro de São Paulo", para que os programas sociais "tenham porta de saída", ou seja, propondo cortes nos mesmos. Mostrando sua verdadeira cara ideológica falou que seu voto era em "defesa da família tradicional",

Partidos da direita tradicional como o PSDB e seus aliados tentaram oferecer outra cara a seus votos de demagogia antes de oferecerem amanhã quando forem governo agressivos ataques aos trabalhadores. Surfaram nos ajustes e cortes feitos pelo governo Dilma, com seus senadores dizendo com a maior cara de pau que votavam pelo impeachment porque o atual governo PT fez cortes e ajustes na saúde, educação, programas sociais e devido ao alto índice de desemprego. Os fechadores de escolas em São Paulo, privatizadores tucanos se arvoram em falar em nome dos trabalhadores, para no segundo seguinte defender cortes nos gastos, responsabilidade fiscal, ou seja economizar o orçamento para pagar a dívida, e a educação, a saúde ficam para depois, ou para nunca pois defendem sua privatização.

Sem dúvidas, o governo PT cavou sua própria cova, mas fez isso justamente porque assimilou o modo corrupto de governar da direita, assumiu o programa da direita, do PSDB, de cortes, ajustes e ataques aos direitos dos trabalhadores. Negociou sistematicamente os direitos dos negros, mulheres, setores LGBT para tentar acomodar a direita. E agora, esses demagogos da direita querem ganhar a confiança da população dizendo que querem derrubar a Dilma por ela ter feito justamente o que eles queriam ter feito, o que Aécio queria fazer se eleito. Assim como Zezé Perrella, do PTB/MG, amigo pessoal de Aécio, que diz votar sim pois os desgovernos de Dilma são inacreditáveis, mas finge que esquecemos o quão inacreditável – e, diga-se de passagem, impune – é seguirmos sem saber quem é o dono do helicóptero com 445kg de cocaína encontrado em sua propriedade.

Senadores famosos como Romário, do PSB/RJ, gostam que confundir a população. Votam sim pelo impeachment dizendo que as transformações do país devem ser feitas pelas mãos trabalhadores, e que não vai apoiar nunca medidas que tirem direitos dos trabalhadores e da população. Mas apoia um golpe para fazer emergir um novo governo de mais ataques, mais ajustes, mais cortes. Ora, se o impeachment está sendo decidido por 81 senadores, então nas mãos de quem estão as mudanças no país, dos trabalhadores, ou desses privilegiados com salários milionários?

Cristovam Buarque, conhecido senador do PPS/DF falou sobre os vícios do PT e o modo corrupto de governar, como se isso não fosse parte do modo capitalista de governar, modo da direita, assimilado pelo PT. De maneira demagógica e contraditória, vota a favor do impeachment em nome da esquerda e da necessidade de repensar o modelo político e se fazer uma revolução social, junto a parceira de seu partido, a FIESP. Seu voto era para que o processo seja aberto para então saber se realmente houve crime de responsabilidade, declarando ainda que caso ao final se veja que não há crime e o impeachment se conclua, aí então será um golpe.

As poucas declarações em defesa do governo Dilma, vindas do PT e PDT, até o momento, focaram em mostrar a tristeza de estar votando esse processo, denunciando que é um golpe orquestrado pelo PSDB e exaltando os programas sociais levantados pelo governo, assim como reivindicar que não há nenhum crime de responsabilidade fiscal. Não mencionaram, evidentemente, os cortes de gastos na saúde e educação que Dilma promoveu.

Desde o Esquerda Diário, seguiremos com a cobertura dessa votação. Mas desde já, sabemos que o cenário que se desenha é da concretização do golpe, ou seja, do sequestro do voto de 54 milhões de pessoas que votaram em Dilma. Não podemos nos enganar, não vai ser pelas mãos da Lava-Jato, Sérgio Moro, STF e todos esses parlamentares que a justiça será feita e nossos direitos garantidos. É preciso construir a resistência a esse golpe e todos os ajustes que virão do governo golpista, que nos atacará mais ainda. E essa resistência também não virá das mãos da CUT, CTB, UNE, UBES, e outras centrais sindicais e entidades estudantis aliadas dos partidos que governaram alimentando a direita que agora passa a rasteira.

Vai ser nos espelhando nas lutas que já estão em curso, dos secundaristas do RJ, SP, CE e agora RS, dos estudantes e trabalhadores em greve na USP, ocupados na reitoria da UNICAMP, é com esses métodos radicalizados de luta, ao lado da juventude e dos trabalhadores, que conseguiremos construir uma resistência real aos ajustes que virão pelo governo golpista de Michel Temer e poderemos dar a nossa resposta à crise política do país.




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