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Fora Bolsonaro e Mourão | Rumo ao 8M em Campinas, batalhemos pela legalização do aborto e pela revogação integral das reformas

Inspiradas na força das trabalhadoras terceirizadas das escolas municipais e das trabalhadoras da MRV aqui de Campinas, mulheres que junto aos seus companheiros de trabalho protagonizaram fortes greves contra a precarização do trabalho, nós do Pão e Rosas iremos às ruas neste 8M e convidamos estudantes secundaristas, da Unicamp e das faculdades particulares, professoras, professores e trabalhadoras da educação, da construção civil, das fábricas, da saúde e dos serviços, a se somarem aos atos e serem parte dessas batalhas com a gente.

sexta-feira 25 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

Uma pesquisa recente do DataSenado indicou que, aproximadamente, 86% das mulheres brasileiras perceberam um aumento da violência de gênero no ano de 2021. A percepção não poderia ser diferente num país que vem registrando um caso de feminicídio a cada seis horas e meia.

Bolsonaro, Mourão, Damares e toda a extrema-direita vêm sendo um pilar para essa situação se aprofundar; vemos absurdos que vão desde o veto ao projeto de distribuição gratuita de absorventes até o corte exorbitante de 33% que será implementado no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos neste ano.

Combinado a isso, estamos passando por uma pandemia que escancarou, no âmbito internacional e em especial na América Latina, uma série de violências às quais as mulheres estão submetidas. Não somente elas estão mais confinadas com seus agressores nesta pandemia, mas suas condições de vida vêm sendo mitigadas em virtude da crise capitalista, como vemos com o aumento da presença feminina nos trabalhos mais precários (quando não no desemprego diretamente), com duplas ou triplas jornadas e entre tantos outros elementos que tornam ainda mais difícil conseguir sair de uma situação de violência.

Em Campinas, começamos 2022 com casos chocantes de misoginia, tendo ocorrido até mesmo um feminicídio triplo pela primeira vez na história da cidade. O prefeito, Dário Saadi (Republicanos), não apresenta nenhuma medida de combate a isso. Apesar de tentar se desvincular do conservadorismo de Bolsonaro, Dário defende o mesmo projeto econômico ultraliberal dele que desfere ataques à classe trabalhadora e aos setores oprimidos, como bem ilustrado pela aprovação da reforma da previdência dos servidores municipais, que atinge em cheio também as trabalhadoras da saúde que vêm sendo linha de frente na pandemia.

Por isso, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, presente em 14 países, batalhamos por um feminismo socialista, que se ligue profundamente com a força das mulheres que vêm à frente de diversos processos de luta de classes, como foram as mulheres de Myanmar lutando contra o golpe e as argentinas que saíram em milhares às ruas pela legalização do aborto, conseguindo arrancar esse direito.

Em Campinas, e em tantas outras cidades de Norte a Sul do país, o Pão e Rosas vem participando da construção dos atos do 8M porque vemos com centralidade a mobilização nas ruas para enfrentar a extrema-direita e seus ataques às mulheres. Num ano eleitoral, diferentes partidos e figuras políticas buscam se apresentar enquanto solução para os nossos anseios, em especial o lulismo que está a todo vapor com seu discurso de reconstruir o Brasil, mas precisamos ver com clareza que os governos capitalistas nunca nos deram mais do que migalhas.

Durante os anos de governo do PT, sua estratégia de conciliação de classes subordinou pautas fundamentais das mulheres e de toda classe trabalhadora aos setores mais reacionários da burguesia, fortalecendo a Bancada da Bala, Boi e Bíblia e se furtando da legalização do aborto, para além da própria implementação das UPPs, que significou maior extermínio da juventude negra e o choro de milhares de mães negras.

Agora, em um marco econômico completamente distinto, de profunda crise que respingará pelos próximos anos, uma possível candidatura de Lula será ainda mais imbricada com os interesses capitalistas, como indica sua formação de chapa com Geraldo Alckmin. A própria atuação do PT nos estados em que governam vem sendo expressão disso, pois estão ajustando vários ataques contra nossa classe, sendo um exemplo mais recente - e que segue em curso - a greve dos professores estaduais do Rio Grande do Norte, que hoje lutam para que Fátima Bezerra, governadora pelo PT, pague seus salários integralmente de acordo com o novo piso salarial.

Todos esses fatos reafirmam que não podemos ficar a reboque de um partido que negocia nosso futuro. Desde a primeira reunião para organizar o ato em Campinas, viemos intervindo com esse conteúdo e colocando a necessidade de levarmos as demandas das mulheres e dos trabalhadores à frente. A batalha pela legalização do aborto, por exemplo, deveria ser um dos eixos centrais desse 8M; não é possível que naturalizemos a morte de uma mulher a cada 48 horas em função do aborto clandestino. Essa é uma clara interferência da Igreja no Estado para intervir na autonomia dos nossos corpos, o que, inclusive, deu aval para Damares e sua base de extrema-direita terem uma postura misógina e cruel em relação àquela menina de 10 anos, grávida por estupro e que foi perseguida para manter sua gestação.

Debatemos também a necessidade de lutar pela revogação integral da reforma trabalhista e de todas as reformas, já que o governo Bolsonaro e Mourão, com todo apoio do Congresso Nacional e do STF, passou um combo de ataques, tais quais a reforma da previdência e a nova reforma trabalhista. Essas são medidas que relegam condições de vida ainda mais precárias às mulheres trabalhadoras, não bastando recebermos menos do que os homens para aumentar os lucros dos capitalistas, eles ainda nos tiram os poucos direitos trabalhistas que restam nesse país e decidem que vão nos fazer trabalhar até morrer.

Pode te interessar: Fortes atos de rua para derrotar Bolsonaro, Mourão e Damares, pela revogação da reforma trabalhista e pelo direito ao aborto

Lamentavelmente, a linha nacional da direção dos atos, encabeçada pelo PT e PCdoB, é de organizar a mobilização para fins meramente eleitorais, emplacando a candidatura do Lula, sem organizar as mulheres pela base para debaterem a política nacional e refletirem quais necessidades são da ordem do dia.

Todas as reuniões que tivemos até então em Campinas foram de caráter organizativo, tirando do horizonte as possibilidades de discussão. Até mesmo as propostas de mote para o ato não foram elaboradas coletivamente ao decorrer das reuniões, a direção apareceu com duas propostas já pré-estabelecidas e que foram colocadas para votação, completamente por fora de debater o conteúdo que o mote deveria expressar.

Que fique claro que essa é uma atuação muito consciente desses partidos, pois sabem que reuniões com essas limitações permitem levar só a política deles até o final, não tendo que incorporar reivindicações que impulsionam a luta da classe trabalhadora e das mulheres- como são a revogação das reformas e a legalização do aborto - porque isso comprometeria os acordos que estão firmando com a direita.

Veja mais: Por um 8M organizado em cada local de trabalho e estudo contra Bolsonaro, Mourão e Damares

Parte fundamental da atuação da esquerda revolucionária nesse momento deve ser exigir às centrais sindicais e à UNE que organizem estudantes e trabalhadores pela base. Hoje, essas ferramentas de luta se encontram paralisadas em função de uma estratégia eleitoral levada à frente por PT e PCdoB. Se fossem realizadas assembleias em cada local de estudo e de trabalho, dando voz às mulheres e também aos homens que querem responder à situação nacional e ao reacionarismo, teríamos um 8M de outra proporção, com nossa classe entrando em cena com suas demandas próprias e massificando os atos.

Por isso, fazemos um chamado ao PSTU e a outras organizações que não apostam na conciliação de classes a se somarem conosco em Campinas, e em outros lugares do país nos quais estamos, para conformar um bloco classista nesse 8M, e que seja um pontapé para colocarmos nas ruas de Campinas, a política comum do Polo Socialista Revolucionário, batalhando junto às mulheres e aos trabalhadores por uma saída de independência de classe, de unidade entre as fileiras operárias, em uma só luta contra o machismo e contra o capitalismo.

Inspiradas na força das trabalhadoras terceirizadas das escolas municipais e das trabalhadoras da MRV aqui de Campinas, mulheres que junto aos seus companheiros de trabalho protagonizaram fortes greves contra a precarização do trabalho, nós do Pão e Rosas iremos às ruas neste 8M e convidamos estudantes secundaristas, da Unicamp e das faculdades particulares, professoras, professores e trabalhadoras da educação, da construção civil, das fábricas, da saúde e dos serviços, a se somarem aos atos e serem parte dessas batalhas com a gente.




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