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AMAZÔNIA | Ricardo Salles procura imperialismo europeu para discutir Amazônia

Nessa quarta (11), em entrevista à Folha de São Paulo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que o governo federal falhou em diversos aspectos durante a crise das queimadas da Amazônia, e disse que buscará potências imperialistas para discutir o assunto, seguindo com sua linha de "soluções capitalistas" para o problema ambiental.

quarta-feira 11 de setembro de 2019 | Edição do dia

Ricardo Salles afirmou que semana que vem viajará à Europa para reatar os diálogos e amenizar os atritos que ocorreram entre o bloco europeu e o governo brasileiro. Ele disse que buscará ajuda financeira dos países europeus para o combate ao desmatamento, que vai abrir canais de diálogo com autoridades alemãs e francesas e que vai “conversar” com os meios de comunicação e com entidades empresariais.

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Em relação às medidas ambientais, o ministro também recuou ao afirmar que não saiu dele a ordem para o policial militar Evandro Cunha dos Santos, chefe do Ibama no Pará, parar de queimar as máquinas de garimpo que são flagrados pelos fiscais do órgão federal usados para arrasar a biodiversidade da Amazônia. Por mais que ainda continue defendendo a depredação de nossa biodiversidade e entregá-la à exploração desenfreada de multinacionais e do predatório agronegócio brasileiro, Ricardo Salles pela primeira vez admitiu que a “dinamização das oportunidades da nossa bioeconomia” são “temas complexos”.

O mais impressionante de tudo isso é que semanas atrás Bolsonaro e seus puxa-sacos, dentre eles Ricardo Salles, faziam bravatas misóginas, arrogantes e pretensamente combativas ao evocar um nacionalismo fajuto contra as investidas do “colonialista” Emmanuel Macron. Bolsonaro chegou mesmo ao ponto de afirmar que eram as ONGs que estavam provocando as queimadas, depois de ter demitido o chefe do INPE, instituição científica que confirmou o aumento absurdo das queimadas.

Ricardo Salles, por sua vez, continuava defendendo suas injeções de “soluções capitalistas” para a Amazônia e fazendo que nem seu chefe, ignorando os resultados do INPE e até da própria tecnologia da NASA para simplesmente não admitir que o governo em que faz parte é sim o grande potencializador de um problema que persiste desde as origens de nossa história. E agora tudo isso vira um “problema de comunicação”.

Na realidade, a condução do governo Bolsonaro agradou a nenhuma fração burguesa. Foi quase unânime a convicção entre as classes dominantes que as condutas dos ministros e do presidente poderiam afetar gravemente seus negócios. Marcas internacionais de roupa pararam de importar couro brasileiro. Grandes empresas avaliam ampliar o boicote. O acordo de livre comércio entre Mercosul e a União Europeia, extremamente favorável para o agronegócio, está ameaçado de não seguir em frente. E, além de todos esses problemas para o poderoso agronegócio brasileiro, ainda surge outro: a forte concorrência dos fazendeiros norte-americanos. Prejudicados com o fechamento de seus produtos para o mercado chinês em decorrência da guerra comercial travada pelos EUA contra a China, se aproveitam da crise na Amazônia para bloquear a entrada dos produtos brasileiros nos EUA e neutralizar o crescimento das vendas brasileiras para o vácuo que se criou na China.

A FIESP organizou uma reunião com empresários europeus para rever o constrangimento diplomático que se criou durante a crise, e dentre eles estavam representantes de multinacionais que investem pesado no mesmo agronegócio predatório da nossa biodiversidade, como o banco francês BNP Paribas. A reação da mídia também foi instantânea, não houve um editorial sequer que não admitisse que a postura do governo Bolsonaro é muito ruim para os negócios.

A notícia de sua queda extraordinária de popularidade, sobretudo em decorrência da crise das queimadas na Amazônia, junto ao recado que as classes dominantes deram a ele para que se comportasse com os europeus explica muito desse movimento do ministro Ricardo Salles em relação à Europa.

Contudo, não podemos nos deixar enganar pela continuidade da bravata do governo Bolsonaro com o envio de seu capacho para a Europa para desfazer os erros que cometeu. O governo tem intenção nenhuma de reverter o seu projeto de depredação exploratória e capitalista dos recursos de nossa biodiversidade.

A saída para a crise da Amazônia precisa ser anticapitalista, pois todas as alternativas disponíveis, tanto de Bolsonaro quanto do imperialismo, estão em torno das gradações de exploração predatória da nossa natureza. É mais do que urgente que se coloque na ordem do dia a necessidade de uma reforma agrária radical que desmantele o latifúndio no país, garantindo a proteção e a autonomia dos povos originários indígenas e quilombolas, estatizando sem indenização as grandes empresas do agronegócio e as colocando sob o controle dos próprios trabalhadores.

Apenas a partir de uma lógica econômica e social voltada ao desenvolvimento humano orgânico com a natureza e com os povos tradicionais, ao invés da devastação por lucro, é que podemos superar a crise na Amazônia.




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