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ELEIÇÕES | Resistência (PSOL) se preparando para o eleitoralismo desenfreado em 2020?

terça-feira 10 de setembro de 2019 | Edição do dia

Na última semana a Resistência, corrente interna do PSOL, lançou um artigo com 6 propostas para as eleições municipais de 2020 com o título "As eleições municipais e a política do PSOL". Ainda que afirmem que a saída "é nas ruas", o conteúdo da matéria aponta em sentido contrário. Resgatando a definição eclética de "neofascismo" - e negando o marxismo revolucionário que nunca enfrentou nenhum tipo de fascismo de forma "eleitoral" - a Resistência escancara todo seu desbarranque eleitoralista nessas 6 propostas.

Para encobrir seu eleitoralismo, o primeiro ponto é a importância do programa. Reúnem algumas frases reafirmando que somente debatendo um programa é possível pensar a conformação das candidaturas. Entretanto em momento nenhum falam qual programa deve ser debatido, nem o que defendem. Ao final do tópico oferecem um genérico "buscar propostas concretas pra saúde, educação, moradia, etc". Está evidente que o papel do ponto sobre programa aqui é apenas para encobrir o que virá adiante.

Defendem as candidaturas próprias do PSOL apenas como "saudação à bandeira", ou por simples distracionismo, pois a política de fato é a defesa da aliança com PT e PCdoB. Mostra disso é que o artigo já começa quase se desculpando por ter candidaturas próprias, esclarecendo que não tem problema porque no segundo turno estaremos juntos.

É interessante que dizem que "nossas candidaturas (sic) não podem admitir erros" como o apoio dos governadores do PT e PCdoB no nordeste a pontos fundamentais da reforma da previdência ou então o PCdoB que votou a favor do acordo da base de Alcântara. Entretanto esse alerta e nada é a mesma coisa, pois o que significa "não admitir erros" se a proposta que estão fazendo é a defesa da aliança eleitoral com esses partidos?

Além disso, estão há meses se não anos defendendo as burocracias sindicais como responsáveis pela "unidade" do movimento operário nos momentos de luta, encobrindo sempre suas traições e sem fazer nenhum tipo de exigência.

Não satisfeitos com as alianças com PT e PCdoB depois já se preparam para um "voto anti-Bolsonaro no segundo turno" (significa apoiar PSDB, PSD ou DEM num segundo turno contra PSL?). Falam de "acordos político eleitorais mais amplos" em cidade "menores" avaliando "caso a caso", que pra traduzir da linguagem oportunista pro português claro significa abrir a porteira das alianças a qualquer custo, tudo em nome de enfrentar o neofascismo. A batalha por constituir um polo anti-burocrático da esquerda pra organizar os trabalhadores e a juventude não parece ser uma alternativa pra Resistência frente ao bolsonarismo.

Essa corrente, que em sua maior parte se originou do grupo que depois de alguns meses do golpe institucional decidiu romper com o PSTU frente à política golpista que esse partido sustentou diante do impeachment, entrou no PSOL fundindo duas rupturas do PSTU que se unificaram (MAIS e NOS) para abraçar o oportunismo como seu sentido de existência. Seus intelectuais se esforçam pra dar fundamentos teóricos pra esse vendaval de ideias dando-lhe alguma roupagem marxista. Não à toa que, diante do episódio da conversa amistosa entre Marcelo Freixo e Janaína Paschoal atuaram como cegos defensores do "diálogo com a extrema-direita" convencidos por sua direção de que é preciso "dialogar" pra disputar a base bolsonarista.

Essas posições explicam por que a Resistência foi aceita sem nenhum tipo de entrave como corrente interna do PSOL, e o MRT não. Sempre preocupou a direção do PSOL que existisse internamente uma corrente como o MRT que não somente pudesse combater as políticas oportunistas do PSOL, seja em adaptação ao PT, seja em defesa da Lava Jato. Como tem feito o MES de Sâmia Bonfim e Luciana Genro reivindicando a operação desde o golpe institucional e após a Vaza Jato com uma defesa "parcial". Além da direção do PSOL temer a batalha do MRT por uma saída anticapitalista e revolucionária pra organizar a luta contra todos os ataques, exigindo das centrais sindicais que rompam sua trégua e organizem um plano de luta imediato, mas também lutando por uma alternativa de independência de classes nas eleições. Um exemplo de como a esquerda pode ser um pólo de independência de classes sem nenhum tipo de alianças espúrias é a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade na Argentina, encabeçada pelo PTS organização irmã do MRT, com um programa anticapitalista chegando a setores importantes da classe trabalhadora e da juventude sem alianças com o kirchnerismo. Faz falta uma alternativa assim aqui no Brasil. Mas para uma política como apresenta a Resistência sequer é preciso ter qualquer tipo de internacionalismo proletário, é precisamente essa ausência de qualquer perspectiva internacionalista revolucionária que está no DNA do acelerado processo de giro oportunista dessa corrente.




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