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PARANÁ | Repressão traz um salto de qualidade na crise do governo Richa

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

sábado 2 de maio de 2015 | 00:00

Brusca queda de aprovação ao governo

Richa foi reeleito ao governo do estado com 3,3 milhões de votos, sendo 55,7% dos votos válidos contra seus concorrentes Gleisi Hoffmann, do PT e Roberto Requião, do PMDB. Durante a disputa eleitoral, em pesquisa da Datafolha, o governo Richa foi aprovado por 48% dos pesquisados e apenas 15% consideravam sua primeira gestão ruim ou péssima.

Hoje, após a repressão aos professores, 76% desaprovam o governo. Assim, em praticamente três meses de mandato o índice de aprovação do governo caiu quase 50 pontos porcentuais. Porém, a aprovação do governo começou a decair em dezembro de 2014.

1 bilhão de déficit e planos de ajustes

Em dezembro o governo anunciou o chamado “pacotaço”, um conjunto de medidas de ajustes para descarregar a crise administrativa do Estado nas costas dos trabalhadores e da população paranaense. Entre as medidas estavam cortes de diversos direitos trabalhistas dos servidores, aumento do IPVA em 40%, 1% de aumento no ICMS e aumento no desconto da previdência no salário dos inativos.
O “pacotaço” era justificado pelo governo como necessário, devido ao déficit de 1 bilhão de reais nas contas do Estado. As medidas de ajustes foram criticadas naquele momento também por representantes dos empresários, como o presidente da FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) Edson Luíz Campagnolo, que avaliou pacote de ajustes como “irresponsável”, favorável a outras formas de como implementar ajustes contra o povo e os trabalhadores.

Insatisfação dos trabalhadores

O principal protagonista contra os ajustes foram os professores em greve, que em fevereiro de 2014 foram vitoriosos no primeiro round da batalha contra os ajustes de Richa. Numa mobilização de trabalhadores públicos em greve, ocuparam a Assembleia Legislativa do estado e barraram a votação do “pacotaço”. Essa vitória mostrou que os trabalhadores organizados podiam trazer vitórias e assim seguiram em luta contra os ajustes.

A chamada de “mãe de todas as batalhas”, as alterações na Paranaprevidência, votação a favor da transferência de 33 mil aposentados do Fundo Financeiro, bancado pelo Tesouro do Estado, para o Fundo Previdenciário, composto pela arrecadação dos descontos dos salários dos trabalhadores, foi então aprovada numa vergonhosa votação de 31 deputados favoráveis e 20 contrários. Com essa medida, R$125 mil foram retirados dos aposentados. A votação foi feita durante a transformação do Centro Cívico numa praça de guerra enquanto a polícia reprimia violentamente professores em greve.

O quanto que a insatisfação aos ataques de Beto Richa pode se alastrar para demais setores populares e das classes médias é um dos ingredientes que podem fazer essa crise mais explosiva numa crise do governo do estado do Paraná.

Escândalos de corrupção

Porém, além da queda de popularidade e estado endividado, o governo também passa por outras crises, como as denúncias de corrupção que envolvem funcionários e familiares próximos ao governador. Em abril 62 suspeitos, sendo empresários, funcionários da Receita e auditores fiscais, foram denunciados por esquema de corrupção na Receita Estadual. Dias após essa denúncia, Luiz Abi, primo de Beto Richa, foi preso sob suspeita de fraudar licitação favorável à empresa Providence de R$1,5 milhão para consertar carros do governo do estado. A KLM-Brasil-Indústria Eletrônica, também teve um representante preso devido ao mesmo tipo de fraude. Além desses escândalos, no início do ano, Marcelo “Tchello” Caramori, ex-assessor da governadoria, de Londrina, foi acusado de estar envolvido em uma rede de prostituição de menores e um dos suspeitos foi preso num motel quando estava junto a uma adolescente.

Crise no governo e sangria

Todos esses eram ingredientes de crise do governo em seu início de mandato, que ganhou tonalidades explosivas após a repressão aos professores.
Frente ao estouro da crise o PSDB teve que colocar alguns de seus quadros, que haviam defendido a ação policial, para tentar mediar a crise. Aluysio Nunes, senador pelo PSDB, disse que as imagens do confronto são impressionantes. Cassio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, afirmou que “ação policial não pode ser considerada exitosa se tem saldo de pessoas feridas”.

Essas declarações mostram a hipocrisia desses tucanos, uma vez que o estado de São Paulo, dirigido pelo PSDB, tem uma das polícias mais violentas do mundo, assim como está envolvido em escândalos de corrupção e é investigado por facilitar licitações para a multinacional Siemens no metrô do estado.

Porém, além disso, essas declarações mostram também que se aprofunda a crise do governo paranaense e que se estenderá, como mínimo, sua sangria. Esta sangria, com declarações de proeminentes tucanos não significa, no entanto, que este governo esteja isolado, porque diferentes governos estão analisando os “métodos” empregados no Paraná, mas todos concordam com Beto Richa em descontar na classe trabalhadora os custos dos ajustes. E por mais que agora se diferenciem das “formas”, todos, até o momento, concordam com os objetivos.




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